Autografia

Letargia - O Amanhã pode ser melhor

17 fevereiro

Título: Letargia - O Amanhã pode ser melhor
Autora: Valéria Magalhães
Editora: Autografia
Ano: 2018
Páginas: 350


Olá pessoal, tudo bem? Depois de ter passado algum tempo fora do blog, estou de volta com a resenha de um livro surpreendente. Infelizmente, não consegui postar nos últimos meses, mas aos poucos tudo já está normalizando e voltaremos com as postagens cheias de novidades. Durante esse tempo, li Letargia que foi um livro enviado em parceria com a editora Autografia e não poderia deixar de compartilhar com vocês minhas impressões a respeito dele.

Kaila é uma moça muito ingênua que mora com os seus tios desde que perdeu os seus pais quando criança. Sua tia Rebeca sempre a tratou muito mal, não permitindo que ela se relacionasse com outras pessoas, nem estudasse e a colocava para cumprir todos os afazeres da casa. Porém, a vida de Kaila começa a mudar quando eles mudam para a Encosta da Serra em que agora há uma empregada na casa e seu tio iniciou o negócio em um bar em que Kaila vai ajudá-lo diariamente. Em uma noite, a jovem conhece Felipe Calado, o irmão mais novo de Humberto e ambos se sentirão atraídos por Kaila. Apesar de não acreditar no amor e não querer proximidade com Humberto por achá-lo arrogante, ambos aos poucos vão se aproximando, mas a vida de Kaila está prestes a mudar completamente de uma forma inesperada.

Letargia foi uma grata surpresa, com uma escrita maravilhosa, que trouxe muitas surpresas e reviravoltas durante a leitura. Há na trama uma mescla de clichês, que ao mesmo tempo torna o livro ainda mais interessante e a cada página lida, a autora trazia novas emoções e vida a esses personagens tão reais.

Apesar de a leitura ser surpreendente, tive dificuldade de sentir empatia por Kaila em alguns momentos. Muitas vezes a personagem busca seguir sua intuição e não pensa na consequência dos seus erros, agindo por impulsividade, além do excesso de ingenuidade acerca de algumas questões. Porém, em meio a esses acontecimentos, surge também uma nova personagem que vai amadurecendo e carregando seus aprendizados ao longo do tempo.

Letargia é um livro para ser lido com calma, para apreciar o cenário de Encosta da Serra, da alegria do seu povo, dos amores a serem descobertos, dos sonhos a serem criados e desfeitos. É um livro que se encaixa não só no gênero romance, mas também novela pela diversidade dos seus personagens. Com um final inesperado, a autora deixa o aviso de que haverá continuação. Portanto, para quem procura um romance de época diferente, sem dúvidas esse é o livro que recomendo!




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Generale

Resenha: Caveiras - Vitor Abdala

02 fevereiro


Título: Caveiras - Toda tropa tem os seus segredos
Autora: Vitor Abdala
Editora: Generale
Ano: 2018
Páginas:192


Caríssimos leitores, olha eu aqui novamente.

Passei por muuuitas mudanças nesses últimos meses e acabou que não tenho conseguido conciliar tempo suficiente para ler o tanto que eu gostaria e nem trazer para vocês algumas experiências literárias, but here I am.

E para hoje, trago uma das mais gratas surpresas do último ano. Caveiras foi um livro recebido em parceria com a Generale (obrigada Generale, muito mesmo) que a princípio eu não estava muito empolgado para ler. Acontece que minha perspectiva mudou abruptamente assim que comecei a ler este livro.

Para que vocês compreendam melhor o panorama, preciso esclarecer que ultimamente tenho tido uma abordagem diferente nas minhas leituras: Não leio mais sinopses de orelha do livro ou capa traseira antes de iniciar a leitura, não me preparo com resumos ou pré-informações da obra. Agora, na esperança de ser surpreendido, eu vou as cegas na obra, sem saber onde a leitura irá me levar.

Para quem ainda não sabe, Caveira é uma obra nacional que aborda a realidade da injustiça/preconceito da polícia do Rio com os moradores da favela (nem todo mundo ali é traficante ou bandido), tendo como protagonista o jornalista Ivo, que cobre este tipo de operação policial para um jornal local. Parece clichê ou batido para você, dado o histórico de obras da ficção nacional que retratam isso? Pois é aí que termina o meu, o seu, o nosso julgamento.

Nesta obra fantástica (uma das que guardarei na lembrança com muuuuito carinho, com certeza), Abdala aborda mito, fantasia, violência, abuso de poder, corrupção, terror, ação e muito suspense.

Resumidamente, a história gira em torno do seguinte acontecimento: Ivo vai até a favela do Caju cobrir uma operação do BOPE mas chega atrasado. Na porta da delegacia, encontra com alguns integrantes do BOPE que não querem falar nada. Para não ficar sem história para a matéria, ele ouve uma mulher que diz ter tido seu filho, Serginho, assassinado a sangue frio dentro de casa pelos caveiras sem nenhuma razão. Então, sem dar muito crédito a história mas acreditando poder ser um furo dos bons, Ivo começa a investigar a morte do Serginho e é aí que as coisas começam a ficar estranhas.

Página a página, assim como eu você vai se roer internamente para saber o que aconteceu na última investida de Ivo para saber o que está acontecendo dentro do BOPE e você, com toda certeza, vai se surpreender com o final. 

Cheio de CliffHangers a cada capítulo, se você tiver tempo, você lê este livro em um único dia (além de bom e bem escrito, ele não é um livro gigantesco) e só vai se arrepender de ter finalizado algo tão bom tão rápido.

Pela forma da escrita, tive a impressão no início, de que se tratava de alguma obra baseada em fatos reais, dada a verossimilhança da obra com os milhares de casos que vemos na TV sobre o Rio de Janeiro.

Eu até poderia falar mais, muito mais desse livro que me deu um tapa na cara (as vezes, acabamos não dando o devido valor às obras nacionais contemporâneas, e eu tenho que admitir que as vezes eu faço isso também) mas eu não quero dar spoilers e tirar a emoção que vai ser ler este livro.

É isso pessoal, recomendo demais este livro, tem tanta coisa legal que até me perco na hora de falar.
Espero que gostem, curtam e comentem e até a próxima.


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Best Seller

Resenha: Os números do amor

07 novembro

Título: Os Números do Amor
Autora: Helen Hoang
Editora: Paralela
Ano: 2018
Páginas: 280

Eu não sou uma leitora ávida por livros com conteúdo adulto, mas como estou sempre em busca de leituras que sejam de fato gratificantes independente do gênero, vez ou outra me aventuro em gêneros diferentes. Foi assim que comecei a leitura de “Os números do amor” e gostei muito da leitura. 

Stella a protagonista desse livro é bem sucedida e diagnosticada com transtorno do espectro autista. A começar por esse ponto a autora já ganhou pontos significativos comigo porque a maioria dos livros do gênero traz um CEO ou um cara muito rico que pode comprar o universo e em contrapartida a mocinha é uma mulher insegura sendo conquistada por ele. Stella tem suas inseguranças, afinal, ela não tem nenhum traquejo social, mas ela faz o seu trabalho com uma paixão admirável e se mostra muito inteligente (pois unir algoritmos e matemática não é algo simplório). Para superar a sua aversão a sexo e sua total falta de traquejo social ela contrata Michael, um acompanhante profissional, para ensiná-la a superar esse obstáculo. 

Michael não é acompanhante porque gosta da profissão e sim porque precisa do dinheiro para ajudar a sua família. Ele tem seus traumas do passado, mas tão logo se vê envolvido e encantado por Stella. O que era para ser o trabalho de uma noite vira um acordo mais extenso e os dois acabam tendo que lidar com sentimentos conflitantes à medida que vão se conhecendo melhor. 

Ler um gênero que não faz parte da minha lista de leituras habituais me mostra o quanto a leitura é democrática e como devemos despir de preconceitos literários. Achei o livro muito bem estruturado e a forma como o espectro autista foi retratado nesse livro se mostrou sincera e bem elaborada. A fidelidade veio do fato da autora ter sido diagnosticada já na fase adulta com o espectro do autismo, antes conhecida como síndrome de Asperger. 

Na contracapa traz um comentário de outra autora que classifica o livro como engraçado, triste e comovente, preciso concordar com a declaração feita por ela o livro traz a tona todos esses sentimentos. Em muitos momentos o livro traz situações divertidas e em outros sentimos a aflição dos personagens e quão difícil é para eles vencerem o próprio passado em prol do amor que sentem um pelo outro. Outro ponto que preciso mencionar é o quanto a escrita da autora é fluida, mal percebi as horas passando enquanto lia. 

A leitura se mostrou de fato agradável e recomendo para todos que gostam do gênero e para pessoas que assim como eu sempre se mantém abertos a novas experiências literárias, até porque vale ressaltar mais uma vez que o livro é classificado com conteúdo adulto.

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Parceria

Resenha: Céu sem Estrelas

15 outubro

Título: Céu sem Estrelas
Autor: Iris Figueiredo
Editora: Seguinte
Ano: 2018
Páginas: 360
Classificação: 

Dos três livros lidos da Iris Figueiredo, esse foi sem dúvidas o que mais me surpreendeu e me tocou. Em uma narrativa emocionante e complexa, a autora traça a história de uma jovem que infelizmente não é incomum. Nessa bela trama, que também tem muita dor e medo, somos chamados a acordar do nosso mundo para entender o outro, que imerso em seus pensamentos e solidão, muitas vezes está sobrevivendo em um vazio.


Cecília é uma jovem de 18 anos que acaba sendo mandada embora da livraria em que trabalha exatamente no dia do seu aniversário e mesmo sabendo que era um emprego temporário, ela não podia voltar para casa sabendo que seria repreendida pela mãe, já que as duas não eram muito próximas e sua mãe também não fazia questão de se aproximar dela. Para não deixar o seu aniversário passar em branco, ela e seus amigos vão para o bar e mesmo não tendo o costume de beber, Cecília acompanha Iasmin e ambas ficam completamente bêbadas.

Porém Cecília nem imagina tudo o que está prestes a acontecer na sua vida, e mesmo tendo conseguido entrar na faculdade para fazer Desenho Industrial, ela precisa encarar a sua mãe para contar sobre a demissão, não aceita que a mãe tenha que conviver com o seu padrasto que na maioria das vezes só piora a relação entre elas e com o desentendimento que ocorre entre ela e sua família, é na casa de Iasmin que ela decide ficar.

E em meio a tudo isso Bernardo aparece. Ele é o irmão da Iasmin e Cecília é apaixonada por ele desde o colégio e aos poucos ele tem se aproximado para ajudá-la, mas ela acredita que ele jamais irá olhá-la com outros olhos. Ela não consegue se ver  merecendo esses momentos de felicidade, visto que sua auto-estima é baixa, e para ela as pessoas não a aceitam como ela é e ela também não e aos poucos ela tem a impressão de que a escuridão tem tomado cada vez mais espaço em sua vida.

Céu sem Estrelas é um livro que traz diversos temas e fala sobre a saúde mental. Retrata a dificuldade de encontrar um lugar no mundo quando tudo parece estar contra, que muitas vezes não é possível controlar a agressividade por mais que se tente e que a tristeza que aparenta ser infinita está ali presente a todo o momento. Cecília é uma personagem intensa e ao mesmo tempo tem que lidar com seus fantasmas, mesmo sem ter forças para lutar contra eles. É um livro que fala sobre a dificuldade em lidar com a aceitação, a baixa auto-estima e a dor.

A narrativa é na primeira pessoa e é alternada entre Cecília e Bernardo. Assim como Cecília, Bernardo precisa lidar com seus problemas familiares, a falta de verdadeiros amigos, e o esforço para não ganhar tudo nas mãos. Ambos encaram a vida de forma completamente diferente, mas Bernardo busca compreender Cecília e o amor pelos livros é algo que eles têm em comum.

Céu sem Estrelas é um livro que vale a pena ser lido por aqueles que apreciam tramas complexas, que falam sobre a saúde mental. É um livro que nos leva a refletir, emociona, e também a questionar sobre o quanto temos pensado em cuidar do outro e se temos de fato dedicado a nossa atenção para ser mais compreensivo com aqueles que precisam da nossa escuta. Portanto, para quem gosta ou procura um Young Adult mais intenso, esse é o livro que recomendo!


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Generale

Resenha: Confissões On-line 2

08 outubro

                                     Título: Confissões On-line 2: Entre o Real e o Virtual
Autora: Iris Figueiredo
Editora: Generale
Ano: 2015
Páginas: 216
Classificação: 

Obs: Esse livro é continuação de Confissões On-line, que já tem a resenha no blog (clique aqui). Essa resenha tem alguns spoilers, então recomendo a leitura do anterior.

Depois de finalmente ter formado no ensino médio após um ano muito complicado na escola, Mariana teve a oportunidade de realizar o seu grande sonho fazendo o intercâmbio em Toronto, no Canadá, e tudo isso por causa do sucesso dos seus vídeos em seu canal Marinando que tinha mais seguidores a cada dia, e chamaram a atenção de uma empresa de intercâmbio que contribuía com essa viagem, e ela fazia os vídeos dos lugares que visitava.

Ao retornar ao Brasil, Mariana está com uma imensa saudade do seu namorado Arthur, mas ele não apareceu no aeroporto para buscá-la, para completar sua preocupação, sua amiga Carina tinha passado na universidade e ia morar em São Paulo, mesmo enfrentando problemas com os transtornos alimentares. Em meio a tudo isso, ela tem uma nova amiga que conheceu no intercâmbio, a Pilar, que a ajuda em muitos momentos difíceis da sua vida.

Com o casamento de sua irmã Melissa se aproximando, o sucesso que o seu canal Marinando faz, e agora a preocupação com o seu relacionamento e o vestibular que ela ainda nem sabe qual profissão escolher, Mariana precisa tomar novas decisões, enfrentar novos desafios, principalmente com o seu canal, que se torna um lugar cheio de conflitos e ela precisa estar pronta para dar a volta por cima mediante a tudo que está acontecendo.

Confissões Online 2 foi uma grata surpresa, e em relação ao primeiro livro, gostei muito mais desse. Diante dessa nova realidade, Mariana amadurece bastante e começa a perceber que a vida virtual pode ser tão dura quanto a real, e que nem tudo que há na internet pode de fato acrescentar algo de bom em nossa vida.

Ler esse livro foi visualizar cada momento em que vivemos hoje nessa era digital. Há comentários maldosos em todas as redes sociais e muitas dessas pessoas se escondem por trás de um perfil falso, que só foi criado para denegrir quem está do outro lado. É importante também parar e pensar o quanto somos influenciados pelas opiniões dos outros e quais são as nossas ações mediante a esses ataques virtuais.

Gostei muito da forma como a autora abordou esse julgamento, que é feito a partir do que vemos na rede, sem conviver de fato com a pessoa que está do outro lado. Mariana enfrenta problemas reais, como as preocupações com o vestibular, a separação da irmã que vai sair de casa, a dificuldade em ajudar uma amiga com transtornos alimentares, de conviver em um relacionamento e tantos outros. Outro ponto muito bem colocado foram as mentiras espalhadas virtualmente e como elas são propagadas rapidamente sem questionamentos ou julgamentos, muitas vezes somente com o objetivo de alcançar novos seguidores ou profanar a imagem de alguém.

Confissões On-line 2 foi um livro que me fez pensar bastante a respeito desse mundo atual em que vivemos. Apesar de ter gostado muito da trama, senti falta de uma maior exploração em relação a viagem do Canadá, do qual a personagem esperou tanto tempo e tem pouquíssimos detalhes sobre ela. Também achei que a família da Carina foi muito negligente em relação ao transtorno alimentar, como assim não perceber o que a filha estava passando?

Confissões On-line 2 é um livro que recomendo para aqueles que apreciam um bom Young Adult com várias temáticas que abordam a realidade atual, incluindo o mundo virtual que cada vez mais faz parte do nosso cotidiano. Durante a leitura, é impossível não parar para pensar, reavaliar algumas questões e se identificar em muitos momentos com esses personagens tão reais. Vale a pena a leitura!



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Generale

Resenha: Confissões On-line

28 setembro


Título: Confissões On-line: Bastidores da Minha Vida Virtual
Autora: Iris Figueiredo
Editora: Generale
Ano: 2013
Páginas: 240
Classificação: 

Esse livro já estava em minha lista de desejados há muito tempo e através da parceria com a Évora,  selo Generale, recebi a duologia da autora. Em menos de um mês li os três livros da autora, que já tem quatro publicados: Dividindo Mel (história da Melissa, irmã da Mariana), Confissões On-line 1 e 2 (história da Mariana) e Céu sem Estrelas.

Mariana está no último ano do colégio e tudo o que ela deseja é que o ano passe rapidamente e ela se forme logo. Enfrentar o colégio para ela era muito difícil depois de ter passado por momentos difíceis, e ter de rever a ex melhor amiga Heloísa com o seu ex-namorado era algo que ela não estava sabendo lidar, visto que tinha que enfrentar vários olhares de ódio sendo direcionados a ela depois de todas as mentiras que Heloísa havia espalhado.

Além disso, Mariana desejava realizar o seu sonho de fazer um intercâmbio para o Canadá, porém com o casamento da sua irmã Melissa, seus pais não têm como pagar o seu intercâmbio e ela se sente cada dia mais desanimada com tudo o que está acontecendo em sua vida. Sua melhor amiga Carina está estudando em outro colégio, preparando para o vestibular, e não anda alimentando direito, o que faz com que Mariana suspeite que algo esteja acontecendo.

Porém, sua vida começa a mudar quando ela decide ir ao show da famosa banda Tempest, e além de gravar o show da banda, conhecê-los pessoalmente, ela resolve postar o vídeo no Youtube para ver como seria o resultado. Em meio ao sucesso dos primeiros vídeos, lidar com o dia a dia em casa e na escola, e conhecer o Arthur que é um garoto apaixonante, Mariana começa a ver a sua vida mudar. Como ela vai lidar com tudo o que está acontecendo sem perder o controle?

Confissões On-line é um livro Jovem Adulto que permeia em torno das questões adolescentes, abordando desde temas leves e divertidos aos mais pesados. Estar na escola pode não ser um período fácil, ainda mais que junto com ele tenham sido propagadas mentiras. Mariana se vê sozinha, e o único que tenta se aproximar dela é Bernardo. Em casa, os pais não sabem o que aconteceu e ela também não se sente a vontade para compartilhar sua vida com a irmã mais velha, a Melissa.

Narrado em primeira pessoa, é impossível não sentir as dores da personagem, se comover com ela, e pensar em como tudo poderia ter sido diferente. Apesar de toda a sua fragilidade, Mariana tem uma personalidade forte, e em muitos momentos não consegui simpatizar com a personagem mediante algumas atitudes. A amizade que ela tem com Carina é muito sincera, e já o Arthur é compreensivo e ajuda ela muito na construção do vlog.

Em relação à construção do livro, lembrei muito de Só Escute da Sarah Dessen abordando questões semelhantes, então para quem já leu ele, recomendo Confissões On-line. Recomendo o livro também para quem gosta de leituras com diversos temas, sem ser cansativo. Enquanto lia, nem percebi o tempo passar, de tão bem construída a trama. Os capítulos são curtos e é impossível ler sem lembrar-se da adolescência, de como há momentos difíceis sim e que muitas vezes não sabemos em quem confiar. Portanto, para quem procura um livro Jovem Adulto, que fala sobre temas leves e pesados, além da realidade digital, esse é livro que recomendo!



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Ficção Científica

Resenha: O Tempo Desconjuntado

24 setembro

Título: O Tempo Desconjuntado
Autor: Philip K. Dick
Editora: Suma de Letras
Ano: 2018
Páginas:272
Classificação: ✭ 

Fala pessoal, cheguei com resenha nova pra vocês. A obra de hoje foi recebida em parceria com a Cia. das Letras, pelo selo Suma e foi escrita por nada mais, nada menos que Philip K. Dick, um dos cânones da ficção científica. Ele é autor de alguns dos maiores nomes do gênero, como "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" (livro que deu origem a Blade Runner, filme de Ridley Scott), Ubik e os Três Estigmas de Palmer Eldritch. Alguns bons filmes de ficção científica foram baseados em obras de Dick, como Minority Report (recomendo muito esse filme, com Tom Cruise) e este livro é um mindblowing bacana para os amantes de sci-fi. Vamos a obra.

Raggle Gumm ganha a vida de uma maneira diferente da maioria das pessoas. Ele responde todos os dias a um concurso do jornal que funciona parecido com um batalha naval. Há um mapa dividido em quadrantes e ele precisa acertar a hora e o lugar do concurso "onde o homenzinho verde vai aparecer agora". É um trabalho árduo, mas rende mais dinheiro do que o trabalho do seu cunhado Victor Nielson, com quem ele mora. Na casa, ele (Raggle), a irmã Margo, o cunhado Vic e o sobrinho Sammy levam uma vida tranquila dos anos 50. Ocasionalmente, recebem visitas dos vizinhos Will e June Black e passam algum tempo juntos. Há todo o julgamento que existe em torno de trabalhos não-convencionais como o de Raggle e as discussões e troca de farpas permeiam as rodadas de poker da família com os Black. Mas num certo momento, Vic vai ao banheiro se sentindo mal e de repente procura por um fio com interruptor (dessas que descem do teto) para acender a lâmpada e não encontra, e então se dá conta de que não há nenhum desse tipo na sua casa. Então de onde veio este reflexo? Victor fica perturbado e compartilha com a mesa, mas o assunto logo morre e eles voltam ao jogo. Mas Raggle, não esquece desse estranho acontecimento, afinal algumas vezes ele também passou por isso. 

Página após página, capítulo após capítulo, a curiosidade preenche a mente de Raggle Gumm (e a de nós leitores, sedentos por explicações) e ele vai em busca de explicações para os estranhos eventos que tanto ele quanto Vic tem presenciado. E acreditem, a curiosidade de descobrir as respostas pode consumir você leitor mais do que imagina. P.K. Dick é extremamente criativo e inventivo na construção dessa (e de outras) obra, abordando polêmicas de assuntos existenciais, conceitos da física e do funcionamento do universo, além de dilemas morais e uma infinidade de temas distintos. Você pode até criar suas teorias (o que certamente todos fazem) e tentar descobrir o desfecho deste livro, mas te garanto que jamais irá adivinhar 100% do resultado e já vos adianto: Que desfecho terrivelmente saboroso. Finalizar este livro é um prazer difícil de explicar. É uma leitura rápida e extremamente recomendada. E se você ainda não se convenceu, saiba que a edição é nova, muito bem elaborada e vem em capa dura com uma excelente arte de capa que vai encantar até os mais céticos do universo sci-fi.

Como última recomendação, gostaria de deixar aqui um hábito que tem se tornado frequente para mim enquanto leitor e que tem sido uma ótima experiência: De vez em quando, entre direto na leitura, não leia resenhas, rodapés, orelhas de capa, sinopse na capa traseira, nada. Mergulhe na experiência de um novo livro sem fazer a mínima ideia sobre o que ele trata, é muito mais satisfatório ir descobrindo aos poucos e torna a leitura ainda mais prazerosa. Muitas vezes, criamos teorias e conceitos enviesados pela sinopse/opinião alheia e acabamos seguindo esse rumo durante toda a leitura. Leia primeiro, busque extras (resenhas, rodapés, sinopses) depois.

É isso pessoal, espero que curtam a resenha, a obra e as sugestões. Deixem aí nos comentários a opinião de vocês, a gente aqui do blog gosta bastante.  Fui!



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Parceria

Resenha: Aquela Moça

03 setembro

Título: Aquela Moça
Autora: Francine S. C. Camargo
Editora: Penalux
Ano: 2018
Páginas: 124
Classificação: 


Não tenho lido tantos livros de contos como eu gostaria, e nem resenhado pela dificuldade em falar de tantas temáticas diferentes e ao mesmo tempo expor a diversidade de sentimentos que cada obra traz. De um jeito especial, Aquela Moça da Francine Camargo traz uma coletânea de contos que refletem a vivência de tantas pessoas e em alguns deles é impossível não se identificar com a realidade de cada dia, com as emoções que a Francine transmite em cada um.

Aquela Moça é um livro de expressão e libertação. Em sua essência, a autora devaneia em seus pensamentos sobre diversos temas da vida como o tempo, os amores, a felicidade, a depressão, a terapia e tantos outros que estão inseridos em nossa realidade, que precisam ser pensados e refletidos. Em um dos contos, a autora também reflete sobre a época em que era acadêmica de medicina e estava conhecendo um pouco da realidade dos hospitais. Nessa coletânea, a realidade e a fantasia se misturam, dando vozes aos seres vivos e sentimentos guardados.

"Hoje uma mocinha chamada Felicidade me surgiu, sorriu seu sorriso mais airoso e sumiu. Procurei por ela no restante do dia e nada de esbarrar com a sua sombra, eu a queria tanto, tanto para mim."
Aquela tal felicidade

"Tristeza assim, meio sem causa, sem meio, sem fim. Ausência de aspirações. Satisfação zero. Sono, sono, sono ou um querer ali ficar deitada, sem uso. Um não querer ir. Sair de casa? O mínimo necessário para as notas não despencarem. Apetite? Não. Estudo? Várias tentativas, mas a cabeça vai para além e não volta mais."
Depressão, terapia e alguns lenços

"Em algum dia, precisarei mudar. Escolhi, então, uma oportunidade: a virada da folhinha, a aparição do novo ano à chegada da meia noite. É a data de respirar diferente, modificar-se, para que todos reparem que não sou mais quem eu costumava ser."
Perto da meia-noite

Aquela Moça é um livro sobre descobrir o que deseja ser, buscar seus sonhos, redescobrir a felicidade e acreditar que dias melhores virão. Com uma linguagem refinada e bastante delicada, Francine apresenta a sua obra, que se mostra ideal aos apreciadores de contos e de poesias pela forma poética como ela conduz sua escrita. Em relação à diagramação, o livro apresenta folhas amareladas, com uma fonte de bom tamanho e um bom espaçamento. O livro tem poucas páginas e com a leitura fluída, é possível ler em poucas horas. Sem dúvidas, recomendo para quem gosta de contos diversificados que apresentam diversas nuances da realidade e da ficção.

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Paralela

Resenha: Em Pedaços

27 agosto

Título: Em Pedaços (Recomeços #1)
Autora: Lauren Layne
Editora: Paralela
Ano: 2018
Páginas: 248
Classificação: 

Um dos contos mundialmente recontados de geração em geração é, sem dúvidas A Bela e a Fera. Também tem sido um dos mais adaptados nos últimos tempos, e é maravilhoso ler diferentes versões dele, nesse caso em um livro New Adult. Em Pedaços da Lauren Layne é um livro adaptado desse belíssimo conto de fadas, que deve ser lido por todos aqueles que sabem que o amor pode vencer qualquer barreira externa, e que a principal beleza é a que carregamos dentro de cada um de nós.

Olivia Middleton está tendo uma festa de despedida pelo fato de estar desistindo da faculdade para realizar um "trabalho humanitário" em Bar Harbor no Maine por alguns meses. Apesar de ser isso que ela conta para todos, ela sabe que na verdade está fugindo do seu passado e esse trabalho não tem nada a ver com caridade. Ela ainda sente falta do seu ex-namorado e melhor amigo Ethan, mas agora que ele está namorando com outra, ela também precisa seguir em frente.

Paul é um homem ferido que sofreu uma explosão em sua perna durante a guerra do Afeganistão, carrega cicatrizes no rosto e depois de voltar para casa, passa os dias trancado na biblioteca, lendo diversos livros, bebendo e sem nenhuma vontade de viver normalmente depois de tudo o que aconteceu. Seu pai já havia contratado várias pessoas para ajudarem a cuidar dele, mas Paul sempre contribuía para que elas se demitissem o mais rápido possível. Porém, seu pai dá a Paul um ultimato: ou ele coopera com a nova moça que irá acompanhá-lo nos próximos meses ou ele terá que sobreviver por conta própria. Sem ter como negar o acordo, Paul aceita, mas não imaginava que a nova cuidadora seria tão jovem, atraente e viria de uma família rica. Afinal, por que ela estaria ali e como lidar com essa atração que nasce em meio a tantas feridas causadas pela guerra?

Esse foi o primeiro contato que tive com a escrita da autora e gostei bastante. De forma leve, sem deixar o clichê de lado, Lauren Layne conduz uma história de amor entre duas pessoas feridas de formas diferentes: uma pelo relacionamento anterior e outra pela guerra. Aqui não há uma história de amor que se constrói de forma imediata. A fera que reside em Paul faz o possível para que Olivia não se aproxime ao mesmo tempo em que ambos desejam estar mais pertos um do outro. Porém, assim como a Bela e a Fera, o amor busca se justapor aos outros sentimentos.

Em Pedaços é um livro que recomendo para aqueles que buscam um New Adult encantador, bem rápido de ser lido. Fiz a leitura em poucas horas, e ao fechar a última página, terminei com um sorriso no rosto e uma vontade de ler os outros livros da autora. O livro é narrado em primeira pessoa, intercalando a narrativa dos protagonistas, o que faz com tenhamos uma visão bem mais ampla de tudo o que acontece. Para aqueles que também gostam de histórias adaptadas e da versão Bela e Fera, também recomendo.


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Paralela

Resenha: Hippie

24 agosto

Livro: Hippie
Autor: Paulo Coelho
Editora: Paralela
Páginas: 296
Ano:2018

Despindo de preconceitos literários decidi ler o livro Hippie do Paulo Coelho. Sim, você não leu errado, decidi dá uma chance a um dos autores brasileiros que possui um grande destaque no cenário internacional de literatura, mas por aqui muita gente ainda torce o nariz quando o seu nome é mencionado (por vezes, estive dentre essas pessoas). No passado tentei ler outro livro do autor, porém naquele momento a experiencia não me agradou tanto, em contrapartida Hippie veio para mudar um pouco essa primeira impressão.

O livro é autobiográfico (na sinopse é descrito como "mais autobiográfico") traz um pouco do movimento hippie do qual o autor participou ativamente. Confesso que pouco sabia sobre a vida de Paulo Coelho antes desse livro e tao pouco sabia sobre o movimento, além claro, de ter ouvido muito sobre Woodstock, mas esse foi o primeiro livro que li sobre o tema e adianto que gostei muito. 

O movimento hippie surgiu na década de 1960 e ganhou força pelo mundo. Os jovens que se estavam se juntando ao movimento eram mal vistos pela sociedade, eles nao se preocupavam com a aparência física, muitas vezes usavam cabelos compridos e roupas coloridas. Os hippies tinham como lema "paz e amor", contestavam a sociedade comunista e muitos nao possuíam residencia fixa. O primeiro festival Woodstock aconteceu em 1969, a princípio para o evento era esperado um público de 200.000 pessoas, porém o evento superou a expectativa e atingiu um público de mais de 500.000 pessoas o que levou as cercas a serem derrubadas tornando-o gratuito. Após essa curta explicação sobre o movimento, vamos ao livro.

Nos primeiros capítulos é apresentado o jovem Paulo que sonha em ser escritor e que já havia passado por diversas situações difíceis em sua vida, como internações em hospitais psiquiátricos e interrogatórios feitos pela polícia. Seu sonho de ser escritor levou-o a uma vida diferente da que a sociedade em que nasceu esperava que ele seguisse e com isso precisou enfrentar algumas situações adversas. Essas histórias são lembradas por Paulo quando está prestes a passar pela polícia para entrar em Amsterdã, ainda com um certo medo devido aos acontecimentos anteriores. Passando por isso, ele entra na cidade e aí o leitor é convidado a conhecer ainda mais sobre o movimento hippie e o magic bus.

"Muitas são as emoções que movem o coração humano quando ele resolve dedicar-se ao caminho espiritual. Pode ser um motivo nobre - como fé, amor ao próximo ou caridade. Ou pode ser apenas um capricho, o medo da solidão, a curiosidade ou a vontade de ser amado."

O livro é cheio de frases de efeito, impossível ler sem sair marcando milhões de trechos. Além disso, traz muitos detalhes sobre o preconceito sofrido pelos hippies só por defenderem uma filosofia de vida diferente do imposto pela sociedade tradicional. É um diário de viagem que transporta o seu leitor para uma parte do passado que é de fato mágica. A busca espiritual é um dos temas centrais desse livro e se constrói aos poucos. Por mais que o livro seja autobiográfico a narrativa é feita em terceira pessoa, criando assim voz para os outros personagens. Outro aspecto positivo é o fato que o autor em nenhum momento se engrandeceu durante a narrativa para passar a imagem de herói, é apenas um jovem que está criando uma visão de mundo nova.

Esse não é um livro que classifico como indispensável, uma boa leitura para aprofundar sobre a cultura hippie, sobre as viagens e busca espiritual. Em uma outra oportunidade com certeza irei buscar algum um outro livro pra ler e sem preconceitos.
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HQs/Mangás

Resenha: Garota-ranho vol.1

15 agosto


Título: Garota-ranho Vol.1
Autores: Bryan Lee O'Malley, Lesleie Hung, Mickey Quinn
Editora: Quadrinhos na Cia.
Páginas: 
Ano: 2016

Nos últimos anos eu tenho me encontrado em leituras de quadrinhos, descobri no gênero uma riqueza que não fazia ideia. Por muito tempo pensava que os quadrinhos eram voltados apenas para o público infantil e juvenil e, para a minha surpresa, o gênero tem trazido grandes surpresas para a minha vida de leitora, extrapolando o gênero de super-heróis (isso não é uma crítica) me deparei com conteúdos diversificados nesse universo e incríveis. Quando uma história em quadrinhos (HQ) propõe fazer uma crítica a situações atuais, sou a primeira da fila a querer ler e é o que promete e cumpre Garota-ranho.

Para começar a nossa conversa sobre o livro preciso confessar uma coisa, não fazia ideia do que significava a palavra ranho, que nada mais é do que muco nasal, popularmente conhecido como catarro. Sim, caros leitores jamais imaginei que iria ler algo que tivesse ranho no título, a vida é uma caixinha de surpresas. Vencendo essa barreira dei início a leitura que traz a história de Lottie Person uma blogueira de modas de Los Angeles que aparentemente tem uma vida perfeita, bela, "chique sem esforço"  (como descrita na HQ), repleta de amigos e jovem. O que ela não quer que ninguém saiba é que por trás da tela a vida dela está um caos, ela tem uma alergia fortíssima, falta-lhe autoconfiança e alguns acontecimentos estranhos tem acontecido em sua vida, até mesmo um possível assassinato.

A história em quadrinhos abusa de uma linguagem informal, cheia de gírias e expressões usadas na blogosfera. Utiliza ainda, cores fortes e traços belíssimos para fazer uma crítica sobre algo que todos estão cansados de saber, mas ainda assim desejam muito acreditar, na perfeição (glamour) que é passado diariamente por milhares de pessoas em seus canais de comunicação. Digo isso não só pelos 'digital influencers', mas por todos que muitas vezes estão passando por situações complicadas, porém em suas redes sociais ostentam a perfeição e o glamour, muitas vezes só para se sentirem incluídos nesse universo. Não estou dizendo que é errado usar as redes sociais para publicar momentos de felicidade, situações cotidianas e sim pra alertar do perigo que existe por trás de tentar manter a tal fachada e seguir tantos padrões que são ditados diariamente por esses meios. Em um mundo que está cada vez mais imerso em tecnologias, onde as relações virtuais tem tomado o espaço de diálogos olhos nos olhos é necessário ter bom senso e discernir entre o que é bom do que é ruim. É um grande desafio quando 'curtidas', comentários e número de seguidores abalam diariamente a auto-confiança e ditam como as pessoas devem ser.

Ufa! Depois desse discurso todo sobre a atual situação em que o mundo se encontra e que essa HQ descreve com tanta clareza, acredito que ficou evidente o quão atual e relevante é o tema abordado nesses quadrinhos. O que não me agradou tanto na obra são os saltos temporais, pois me deixaram um pouco confusa para o primeiro volume de uma série. Os saltos se dão devido aos lapsos de memória da protagonista, causados pelo remédio que está tomando para combater a alergia, portanto são justificados. O suspense por si só e a dúvida que fica em volta da protagonista já garante a curiosidade para ler os próximos volumes dessa série de HQs.




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Parceria

Resenha: O Idiota por André Diniz (Fiodór Dostoiévski)

10 agosto



Título: O Idiota
Autor: André Diniz
Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 413
Ano: 2018

Fala pessoal, Renner aqui de novo.

E hoje vim falar da obra O Idiota, uma quadrinização da clássica obra de Dostoiévski por André Diniz. O livro foi recebido em parceria e leva o selo Quadrinhos na Cia, uma nova abordagem da editora Companhia das Letras que tem trazido bons frutos para nós leitores.

A obra, composta de 413 belas páginas, traz à tona a capacidade de um ilustrador de dizer muito sem usar palavras. André Diniz mostra toda a sua competência na sutileza das expressões dos personagens, que contam toda a cena sem muita necessidade de balões de texto. O traço, o mesmo usado no cordel, chama a atenção por ser diferente do comum, chama tanta atenção que durante a sexta-feira na Bienal do Livro, passei por uma obra de quadrinhos e automaticamente identifiquei o traço do André Diniz, antes de ver o nome do autor, e era dele mesmo.

O prefácio de Bruno Gomide é bastante informativo e contextualizador, sendo um excelente complemento da obra. Como o mesmo cita no prefácio, é curioso observar como uma obra gigantesca e cheia de diálogo como as de Dostoiévski foi tão bem adaptada para os quadrinhos com um minimalismo de textos escritos sem igual, sem perder a qualidade. É essa capacidade que separa o ilustrador experiente de um iniciante.

A obra traz uma sensação de se assistir um excelente filme mudo de Chaplin, que sem dizer palavra consegue te emocionar e mexer com suas expectativas. Trata-se de uma sucessão de tragédias que refletem, em alguns aspectos parte da vida do próprio autor. Liev Michkin, o protagonista da nossa obra é um sujeito que tem epilepsia e que foi internado para cuidar do seu problema, sem sucesso. Ao ser liberado, já é um orfão sem muitos parentes próximos tendo sido auxiliado por muito tempo por seu mentor. Michkin é espelhado por muitos críticos num Dom Quixote misturado com Cristo. Isso é evidenciado seu idealismo da vida (traço comum na obra de Cervantes), bem como sua bondade e inocência, sacrificando o próprio bem-estar pelo próximo. Nesse contexto, logo após sair do sanatório na Suíça, ele conhece Rogójin no trem, um personagem que será presença constante na vida de Michkin até o fim da obra. Na sua volta a São Petesburgo, procura a única parente viva, Lisavieta Epántchin e acaba esbarrando em Nastássia Filíppovna, por quem se apaixona. O nome da obra é recorrente na medida em que, por toda sua inocência e bondade em meio a uma sociedade tão corrompida, Michkin é constantemente tratado por um idiota. Aos poucos e sem palavras, vai se descobrindo quão podre é o meio em que ele está inserido e o drama vai se construindo e evoluindo, até o ponto em que acontece algo irreparável. É agonizante acompanhar quantas vezes Michkin toma decisões que claramente vão prejudicá-lo em prol de alguém mais necessitado. 

Curiosamente, as transições da obra (dividida em blocos) apresentam imagens de Cristo e da sagrada família, como uma espécie de ilustração da via crucis do protagonista. A obra, divertida e rápida (li em uma manhã) não é suficiente para conhecer a fundo a obra original de Dostoiévski mas diverte e introduz o leitor ao autor. É uma certeza que, em breve, irei ler a obra original e depois reler esse quadrinho. Como ponto negativo (visão pessoal), poderia citar somente os traços, que apesar de marcantes me parecem muito carregados, não são o meu tipo preferido de ilustração, o que, no entanto, não prejudica em nada o entendimento da obra. Como destaque, a capacidade do ilustrador de contar uma história sem usar muito o recurso do diálogo, sendo capaz de passar somente ilustrando toda a emoção envolvida nas cenas.

Recomendadíssimo como obra introdutória. Se quer conhecer mais a fundo, melhor ler a obra original primeiro e depois esta como complemento. É mais uma que irei reler com imenso carinho em um futuro breve. Até a próxima e deixem nos comentários o que acharam da resenha.


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Alfaguara

Resenha: Munique

30 julho

Já pensou como seria se Hitler fosse morto ou deposto antes de o início da segunda guerra? Será que haveria uma guerra? No livro Munique, ficção histórica de Robert Harris, temos a narrativa do tão subestimado acordo de Munique, assinado em setembro de 1938, tratando sobre a ocupação alemã na região dos sudetos na Tchecoslováquia.

Primeiramente, gostaria de dizer que nunca fui um grande fã de história na escola por causa do padrão de jogar uma tonelada de informações para decorar de forma desinteressante. Redescobri uma maneira de aprender sobre a história por meio da ficção histórica, que te traz informações sobre fatos mas de uma forma interessante, conectada e não empurrada garganta abaixo como um bolo de farinha seca. Isso, porque a ficção histórica traz os elementos importantes da nossa história mesclados num ambiente ficcional cheio de tramas, intrigas, aventuras e dramas. Nesse contexto, Robert Harris escreve uma história de 4 dias que se passam antes e durante o acordo de Munique. A história é contada em dois frontes: acompanhando Hugh Legat, secretário do primeiro ministro inglês na Inglaterra e também acompanhando Paul Von Hartmann, terceiro secretário do Ministério do Exterior alemão. A essa altura, a Áustria já foi incorporada pela Alemanha, Mussolini já é um grande aliado de Hitler e esse ameaça invadir a Tchecoslováquia para incorporar o território dos Sudetos, dada a quantidade de alemães que vivem naquele território e que tem migrado para a Alemanha.

Após ameaças de Hitler, o primeiro ministro inglês Chamberlain se vê numa situação complicada, uma vez que as forças armadas inglesas não se encontram preparadas para uma guerra mundial. O problema é que há um acordo de apoio à França, caso a mesma entre em conflito e a França entrará em guerra contra a Alemanha caso a mesma invada a Tchecoslováquia. Na busca pela paz, Chamberlain propõe uma conferência para acertar a transferência do território requerido por Hitler, com participação de França, Inglaterra, Alemanha e Itália, de forma a manter a paz na Europa. É importante lembrar que a primeira guerra ainda é recente e os povos ainda lembram dos horrores causados.

A questão é que Hartmann secretamente participa de um grupo que quer depor Hitler e a assinatura desse acordo de paz é um entrave para o golpe que planejam. Devido aos anseios populares pela paz , o grupo acredita que a insatisfação popular pela deflagração de uma guerra apoiaria a derrubada de Hitler. Para evitar o acordo de Munique, toda uma alavanca de contatos é movida de forma a promover o reencontro de Hartmann e Legat, amigos da época da faculdade que há muito não se falam.

O livro é recheado de tensão do início ao fim, escalando rapidamente nas páginas finais. Uma experiência única que nos deixa nervosos por toda a leitura, sem uma trégua sequer. A todo momento, o medo de dar errado, de Hitler ter um surto de loucura, de Hartmann ser preso acompanham o leitor e tornam a leitura emocionante. Também a precisão na descrição dos lugares, ruas, pessoas é impressionante. Em alguns momentos me senti andando pelas ruas da Alemanha nazista. 

Como ponto negativo da minha experiência, senti falta somente de uma nota do autor ao final do livro esclarecendo quanto do texto é real e quanto é ficção, hábito frequente e agradável nos livros de Bernard Cornwell para esclarecer a história.

Recomendo demais essa obra e o gênero de ficção histórica como fonte de entreteinimento ao mesmo tempo que de conhecimento. Une o útil ao agradável e dá uma lição para as escolas sobre educação de história.

Deixe nos comentários suas impressões e opiniões, vamos falar sobre essa obra fantástica.
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Companhia das Letras

Resenha: Carta a D. - História de um Amor

18 julho

Título: Carta a D. - História de um Amor
Autor: André  Gorz
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2018
Páginas: 112
Classificação: 

É inegável que os livros com cartas de amor são emocionantes e por vezes tão intensos que é difícil não se apaixonar pela obra e querer conhecer quem são os seus autores. Carta a D., apesar de ser um livro pequeno é denso em conteúdo porque descreve em 112 páginas uma carta de amor que merece ser lida por pessoas do mundo inteiro que já se apaixonaram por alguém algum dia. Nesse livro André Gorz abre o seu coração para a sua amada Dorine e é impossível não se deixar levar por essas páginas que tem uma das histórias de amor mais incríveis que já li.

O livro inicia com André Gorz contando em sua carta o estado atual da sua esposa e ao começar a leitura, já foi possível se encantar pelo trecho inicial. Dorine estava sofrendo de uma doença degenerativa e essa carta foi uma grande declaração de amor de André a ela pelos tempos maravilhosos que viveram e viviam juntos.

"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos e eu amo você mais do que nunca.
(Página 9)

André Gorz presenteou não somente a Dorine, mas a todos nós leitores com essa obra. Um amor que começou a primeira vista, e entre as saídas do casal discutia-se política, literatura e sonhos. Apesar de falarem línguas diferentes, pois André era francês e Dorine britânica, ambos estudaram o vocabulário um do outro e batalharam para estarem juntos em meio à realidade pós-guerra. Há referência de filmes, autores e livros que enriquecem ainda mais a carta do autor. Durante a narrativa acompanhei a história de um casal que teve seus altos e baixos, mas acima de todas as dificuldades, o amor sempre permaneceu e foi o mais forte.

A edição do livro está linda, com a diagramação simples, a fonte espaçada e a tradução impecável. A sobrecapa do livro em forma de envelope também está encantadora, sendo impossível não se apaixonar por essa edição. É difícil falar desse livro, porque qualquer detalhe é fundamental, por isso minha única recomendação é que leia. Leia para conhecer uma história de amor intensa, para vivenciar os dias difíceis, mas também maravilhosos na vida de um casal. Leia para se permitir apaixonar e apreciar o amor com outros olhos. Leia para acreditar que os sonhos são possíveis, e que a pessoa que está ao seu lado deve te apoiar mesmo quando tudo parecer tão complicado. Leia para se apaixonar novamente por quem está ao seu lado. Apenas leia.


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