Resenha: O Idiota por André Diniz (Fiodór Dostoiévski)
10 agosto
Título: O Idiota
Autor: André Diniz
Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 413
Ano: 2018
Fala pessoal, Renner aqui de novo.
E hoje vim falar da obra O Idiota, uma quadrinização da clássica obra de Dostoiévski por André Diniz. O livro foi recebido em parceria e leva o selo Quadrinhos na Cia, uma nova abordagem da editora Companhia das Letras que tem trazido bons frutos para nós leitores.
A obra, composta de 413 belas páginas, traz à tona a capacidade de um ilustrador de dizer muito sem usar palavras. André Diniz mostra toda a sua competência na sutileza das expressões dos personagens, que contam toda a cena sem muita necessidade de balões de texto. O traço, o mesmo usado no cordel, chama a atenção por ser diferente do comum, chama tanta atenção que durante a sexta-feira na Bienal do Livro, passei por uma obra de quadrinhos e automaticamente identifiquei o traço do André Diniz, antes de ver o nome do autor, e era dele mesmo.
O prefácio de Bruno Gomide é bastante informativo e contextualizador, sendo um excelente complemento da obra. Como o mesmo cita no prefácio, é curioso observar como uma obra gigantesca e cheia de diálogo como as de Dostoiévski foi tão bem adaptada para os quadrinhos com um minimalismo de textos escritos sem igual, sem perder a qualidade. É essa capacidade que separa o ilustrador experiente de um iniciante.
A obra traz uma sensação de se assistir um excelente filme mudo de Chaplin, que sem dizer palavra consegue te emocionar e mexer com suas expectativas. Trata-se de uma sucessão de tragédias que refletem, em alguns aspectos parte da vida do próprio autor. Liev Michkin, o protagonista da nossa obra é um sujeito que tem epilepsia e que foi internado para cuidar do seu problema, sem sucesso. Ao ser liberado, já é um orfão sem muitos parentes próximos tendo sido auxiliado por muito tempo por seu mentor. Michkin é espelhado por muitos críticos num Dom Quixote misturado com Cristo. Isso é evidenciado seu idealismo da vida (traço comum na obra de Cervantes), bem como sua bondade e inocência, sacrificando o próprio bem-estar pelo próximo. Nesse contexto, logo após sair do sanatório na Suíça, ele conhece Rogójin no trem, um personagem que será presença constante na vida de Michkin até o fim da obra. Na sua volta a São Petesburgo, procura a única parente viva, Lisavieta Epántchin e acaba esbarrando em Nastássia Filíppovna, por quem se apaixona. O nome da obra é recorrente na medida em que, por toda sua inocência e bondade em meio a uma sociedade tão corrompida, Michkin é constantemente tratado por um idiota. Aos poucos e sem palavras, vai se descobrindo quão podre é o meio em que ele está inserido e o drama vai se construindo e evoluindo, até o ponto em que acontece algo irreparável. É agonizante acompanhar quantas vezes Michkin toma decisões que claramente vão prejudicá-lo em prol de alguém mais necessitado.
Curiosamente, as transições da obra (dividida em blocos) apresentam imagens de Cristo e da sagrada família, como uma espécie de ilustração da via crucis do protagonista. A obra, divertida e rápida (li em uma manhã) não é suficiente para conhecer a fundo a obra original de Dostoiévski mas diverte e introduz o leitor ao autor. É uma certeza que, em breve, irei ler a obra original e depois reler esse quadrinho. Como ponto negativo (visão pessoal), poderia citar somente os traços, que apesar de marcantes me parecem muito carregados, não são o meu tipo preferido de ilustração, o que, no entanto, não prejudica em nada o entendimento da obra. Como destaque, a capacidade do ilustrador de contar uma história sem usar muito o recurso do diálogo, sendo capaz de passar somente ilustrando toda a emoção envolvida nas cenas.
Recomendadíssimo como obra introdutória. Se quer conhecer mais a fundo, melhor ler a obra original primeiro e depois esta como complemento. É mais uma que irei reler com imenso carinho em um futuro breve. Até a próxima e deixem nos comentários o que acharam da resenha.
4 comentários
olá, tudo bem?
ResponderExcluirOs quadrinhos ainda não entraram na minha lista de compras, mas torço para que entrem em breve. Tenho um filho de 9 anos que ama ler e quero poder repassar uma dessas super dicas para ele. Eu amei a sua dica principalmente pela fluides da leitura o que a torna (segundo você) rápida e prazerosa. Se é baseado em Dostoiévski já sabemos que é uma ótima dica de leitura. Obrigada por compartilhar sua experiencia conosco.
Beijos
Olá Fabi, tudo joia? A obra é sim uma ótima dica e é muito lúdica em alguns pontos, entretanto, sugiro que você leia antes para avaliar se deve entregá-la ao seu filho. Há aqui, apesar de se tratar de quadrinhos, algumas cenas que podem ser consideradas mais fortes (praticamente toda obra de Dostoievski envolve uma tragédia) e talvez você julgue inapropriado. De toda forma, fico feliz que tenha gostado, é realmente uma leitura bastante rápida mesmo dando atenção a todos os detalhes dos traços e criando diálogos mentais. Volte sempre!
ExcluirOlá, eu adoro quadrinhos e faz tempo que não leio nenhum...
ResponderExcluirNão conhecia esse e fiquei bastante interessada, pois gostei bastante das imagens, é muito bem feito!
Bom saber que a leitura flui bem, pois os dois últimos que li, apesar de já fazer algum tempo, eles não me agradaram tanto.
Abraços
Oi Raquel. Que bom que gostou da obra, é realmente algo único esse livro. O traço do André Diniz é realmente marcante, apesar de a princípio ter a impressão de que é meio carregado demais, mas a habilidade dele em passar o que ele quer sem escrever um balão de texto é impressionante. Espero que tenha a oportunidade de ler em breve. Volte sempre!
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