Resenha: A mão esquerda da escuridão

26 janeiro


Conheci o trabalho da Úrsula K. Le Guin através da série de livros fantásticos "Ciclo de Terramar" e logo me apaixonei. De forma sutil a autora transpõe as barreiras impostas pelo seu tempo e vai além, quebrando tabus e mostrando que é uma autora digna de admiração. Quando comecei a ler "A mão esquerda da escuridão" fui arrebatada logo nos prefácios, um escrito por Neil Gaiman e outro pela própria autora que dá uma aula sobre ficção científica do seu ponto de vista. Se o livro ficasse só nos prefácios já iria valer a pena, mas já adianto que a obra não ficou nem um pouco para atrás.

Genly Ai é um terráqueo que foi enviado a Gethen com a missão de unir o planeta ao Ekumen, uma espécie de comunidade universal. Gethen também é conhecido como planeta Inverno, pois a maior parte do tempo eles vivem com temperaturas bem baixas, esse aspecto somado com as barreiras culturais dificultam ainda mais a missão de Genly. A organização social do planeta é de enorme beleza e intriga, lembra em muito aspectos da era medieval, as notícias ainda são acompanhadas via rádio e utilizam apenas meios de transportes terrestres. Além disso, homens e mulheres coexistem dentro do mesmo ser, os habitantes desse planeta são andróginos, em grande parte do tempo eles não possuem características específicas que os definem em um único gênero. Em um determinado período, que é chamado de Kemmer, hormônios femininos ou masculinos se manifestam e permite que assim se reproduzam. Genly Ai, por vezes, precisa vencer as barreiras que o impedem de aceitar a nova cultura que está em contato para assim concluir a sua missão.

A leitura me tomou de tal forma que me vi imersa em uma cultura totalmente diferente da nossa e com sede de saber como tudo se fecharia, as quase trezentas páginas me pareceram passar tão rápido que quando encerrei a leitura mal acreditei. O livro é todo contextualizado e vai afundo na história do planeta, os capítulos alternam entre a narrativa de Genly Ai e Estraven (um habitante do planeta) e, contos que retratam a mitologia local. A princípio não faz sentido o por que dessas histórias estarem ali, mas ao final tudo faz sentido.

Uma cultura nova choca, o novo muitas vezes é assustador e quando tudo parece insustentável o improvável acontece. A amizade que surge entre o protagonista e um habitante do planeta é de extrema beleza e mostra que a tolerância e o respeito devem vir sempre em primeiro lugar, independente dos desafios culturais ou de gênero.

Esse foi um dos livros que ao me ver é um dos mais difíceis de explanar em uma resenha, mas ainda assim fiquei com vontade de recomendá-lo. Vale ressaltar que o livro ganhou o prêmio Hugo e Nebula, prêmios de suma importância para a ficção científica. A autora ganhou esses prêmios no final da década de 1960 e início da década de 1970, uma conquista e tanto, tendo em vista a época e que pouquíssimas mulheres se arriscava a escrever esse gênero. Com uma proposta que extrapola a barreira do tempo e cria uma sociedade onde não existe a desigualdade de gênero é simplesmente fantástico.

"A mão esquerda da escuridão" é um desses livros que valeu a pena ser lido e sem dúvidas irei relê-lo mais uma vez no futuro e tenho certeza que na próxima vez ainda extrairei ainda novas mensagens. Indico a leitura para todos que gostam de ficção científica e para quem não agrada muito, porém que se intrigou com o tema. Super recomendado!

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7 comentários

  1. Sabe que fiquei imoressionada com os prêmios que o livro ganhou? Não é o tipo de livro que leio verdade e também por descrever outro Planeta é curioso, o que gostei mesmo foi intercalar os capitulos, sempre gosto quando os livros são assim

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    1. Eu também gosto muito de narrativas que alternam, nos dá uma nova percepção. Mesmo não sendo o seu gênero favorito recomendo a leitura porque nos dá uma percepção diferente sobre culturas diferentes e isso é fantástico!
      Beijos

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  2. Oi Carol!!
    Não conhecia o título e você o apresenta muito bem!
    Gosto de livros com mais de uma narrativa e me parece um livro muito bem pensado. Vi que a autora coloca uns contos no meio do livro que parecem que não fazem sentido, mas depois tudo se explica, gosto muito quando isso acontece.
    Uma bela dica para anotar e ler depois.
    Beijos!

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  3. Oi, tudo bem?
    Eu acho as premissas dos livros da Úrsula super interessantes, mas o gênero literário não é o que costumo ler, então acabo sempre adiando a leitura pra outro momento e não a concluo. Vi muitas críticas positivas sobre esse livro e gostei bastante de como você nos apresentou ele sem revelar muito do enredo.

    Bjs
    Blog Tell Me a Book

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  4. Oi, mesmo não sendo um livro fácil de resenhar, seu post me deixou com muita vontade de ler ele, encantada pela premissa, ainda mais por eu estar há tempos desejando ler algo da autora.

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  5. Não curti muito esse mundo apresentado na história, essa coisa meio fantasia, não me anima ao ler, mesmo o livro parecendo ser bom, é que é muito confuso para mim já que sou dislexia.
    Tem umas coisas que são colocadas também no livro que não fazem sentido, mas como tem explicação, parece válido.
    Para quem gosta é um bom livro ♥

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  6. Olá, tudo bem Carol?

    Eu acho os livros da Ursula maravilhosos e "Mão esquerda da escuridão" não é diferente, é um livro reflexivo, em certo ponto complexo, trata de temas interessantes, sem contar que me fascinou bem. Parabéns pela resenha!
    Abraço!

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