Alfaguara

Te conto um conto: Um conto quase mínimo de Sérgio Sant’Anna

06 fevereiro


Estou completamente viciada em ler contos e tudo que se relaciona ao tema tem me instigado e motivado ir atrás. Sendo assim, acabei assinando a newsletter da Editora Alfaguara intitulada "Contém um conto" que se encontra em sua segunda temporada. Carol, afinal como funciona essa tal de newsletter? Vou explicar direitinho, newsletter nada mais é que um boletim de informativo que regular sobre um determinado assunto, logo a Editora Alfaguara se disponibilizou ao longo dos próximos três meses toda segunda-feira enviar um e-mail contendo um conto curto porém que vai trazer a tona todo o poder de um texto curto do gênero. Ambicioso? A princípio me pareceu, mas ao receber o primeiro conto fui surpreendida e me peguei impressionada. Essa também é uma ótima oportunidade para quem deseja iniciar no universo da leitura ou não tem tanto tempo para se dedicar essa atividade, os contos são bem curtos e com um Smartphone dá para ser lido até mesmo na hora do café, em uma fila, no ônibus, etc..

Sérgio Sant'Ana é um escritor brasileiro que confesso não conhecia, porém fiquei tão envolvida com o conto que narra uma viagem de carro entre duas pessoas que são cunhadas, um homem e a esposa de seu irmão. Você deve está pensando, como um tema tão simplório pode ser assim tão envolvente? Pois bem caros leitores, a viagem desses dois é descrita de uma forma tão intensa que é impossível não se encantar com a escrita do autor. Duas pessoas que a moral impede-os de ter um envolvimento que ambos desejam, levarão com eles segredos de uma viagem tão banal para o resto da vida.

O conto é bem curtinho e vale a pena reservar alguns minutinhos do dia para lê-lo, tenho certeza que não passará despercebida tamanha a qualidade do texto. Me reservo a não revelar praticamente nada sobre esse conto para vocês leitores, mas tenho certeza que se dispuserem a lê-lo se surpreenderão tanto quanto eu. 

Para assinar a newsletter clique aqui! Após esse primeiro conto estou ansiosa para ler os próximos.
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DarkSide

Te Conto um Conto [Mês do Terror]: Os assassinatos na rua Morgue - Edgar Allan Poe

29 outubro

Olá meus caros. Renner por aqui. Voltamos com a programação especial do mês de Outubro, o mês do terror.

E agora, passamos do bloco "narradores homicidas" do livro Medo Clássico da Darkside (coletânea de Edgar Allan Poe), para os contos sobre o detetive Dupin, começando por "Os Assassinatos na rua Morgue", o mais conhecido dos contos sobre C. Auguste Dupin, talvez por ser o primeiro publicado.

Antes de mais nada, é importante trazer o contexto. Talvez alguns de vocês não conheçam nosso estimado Dupin, entretanto ele é o precursor de outros fenômenos investigativos como Sherlock Holmes e Hercule Poirot, Sim, meus caros, Sherlock Holmes tem muita influência de Edgar Allan Poe e seu detetive Dupin. Curiosamente, as histórias são narradas por um amigo próximo (e um dos poucos ou o único) do excêntrico detetive (alguma semelhança?). Esse narrador ajudante divide casa com o detetive em Paris (nem se parece com outro caso) e as histórias são geralmente casos de crimes, assasinatos e desaparecimentos considerados insolúveis pelos agentes da lei (juro que não direi mais nenhuma indireta). Mais divertido ainda é seguir o raciocínio do detetive na solução do caso.

Em Assassinatos na rua Morgue, nosso narrador ajudante inicia com um ensaio sobre a capacidade analítica excepcional e a diferença básica entre a perspicácia e o raciocínio rápido em relação a verdadeira capacidade analítica. Depois de muito explicar, introduz seu amigo Auguste Dupin, explica a relação dos dois (ambos se conheceram numa livraria, ambos tinham gostos parecidos e hábitos reclusos, decidiram morar juntos e então ele segue) e trás como exemplo do seu ensaio sobre a capacidade analítica uma situação cotidiana que ocorreu quando narrador e Dupin caminhavam pelas ruas em silêncio e Dupin magicamente irrompe com um comentário sobre as divagações que o narrador fazia mentalmente, supreendendo o mesmo por ter "adivinhado" o que estaria pensando depois de 15 minutos inteiros sem falar palavra. Dado o exemplo, entramos de fato na parte da história que dá nome ao conto. Durante a leitura do jornal, nossa dupla se depara com uma manchete sobre o assassinato de madame L'espanaye e sua filha mademoiselle Camille L'espanaye, moradoras da rua Morgue. 

Ocorre então uma descrição em detalhes de que vizinhos ouviram os gritos, invadiram a casa, onde viviam somente as duas na tentativa de ajudar e quando arrombaram a porta do quarto andar, de onde vinham os gritos, encontraram uma sala revirada, porém vazia (de pessoas) e com as janelas fechadas por dentro, sem rotas de fuga aparentes. Antes de arrombarem a porta, os vizinhos em questão ouviram duas vozes discutindo dentro da sala. 

É importante ressaltar que Dupin não é um detetive profissional, ele embarca nessa investigação por puro e simples prazer de usar das suas capacidades analíticas acima do comum.

Pouco a pouco o autor, através do detetive Dupin vai explanando seu raciocínio e adicionando peças ao quebra-cabeças, até realizar a conclusão sobre quem matou as duas mulheres da rua Morgue. O fim, além de extremamente satisfatório para que gosta de ficção investigativa, tem aquela pitada de humor  pela abordagem atípica de Dupin com relação ao sujeito envolvido no crime.

Com toda a certeza, está entre as 10 melhores histórias de Poe e entre as melhores da ficção de investigação. A sensação que fica é de que Sir Arthur Conan Doyle, autor de Sherlock Holmes, incorporou o estilo de escrita de Poe em relação a Dupin e acrescentou nele, suas próprias ideias, criando um dos personagens mais famosos (quase vivos) da história da literatura.

Recomendadíssimo, esse conto, que é um pouco mais longo que os anteriores, pode ser encontrado tanto no livro Medo Clássico da Darkside, como em outras publicações (individualmente ou em coletâneas). Trata-se de uma experiência estarrecedora e muito prazerosa, a leitura de "Assassinatos na Rua Morgue". Até a próxima pessoal.

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DarkSide

Te Conto um Conto [Mês do Terror]: O Coração Delator - Edgar Allan Poe

26 outubro

Estamos de volta com a programação desse mês maravilindo de terror, cuja data final é sempre um dia divertido e cheio de trick or treats. E continuaremos nossa visita ao trabalho do majestoso (e um tanto lúgubre) Edgar Allan Poe. 

Hoje, vamos falar do muito curto conto "O Coração Delator", último integrante do bloco narradores homicidas do livro Medo Clássico, publicado pela Darkside. Indo da página 107 à 112, temos uma história que eu senti que foi mais bem aparada do que a dos contos anteriores (O Baile da Morte Vermelha e O Barril de Amontilhado), apesar de contar com tão poucas páginas, a história se desenvolve bem mais fluida e completa. Há de se observar que Poe geralmente constrói suas narrativas em primeira pessoa, o que torna a leitura quase uma conversa, em que o protagonista está lhe contando algo.

Nesse conto, o narrador inicia se justificando que não é uma pessoa louca. Nervoso, sim, mas não louco. Explica então o porquê desta discussão. Vivia com um senhor mais velho, do qual provavelmente cuidava (pelo narrar dos fatos). Não o odiava, nem mesmo tinha algum interesse financeiro, até mesmo gostava do velho. O caso era que tal velho tinha um olho macabro, descrito como azul pálido, como o de um abutre (creio que seria algo como os olhos cegos de animais e pessoas, de um azul esbranquiçado, meio leitoso), e sempre que encarava aquele olhar, o narrador sofria até chegar à conclusão que teria de matar o velho para se livrar daquele olhar.

Novamente, insiste que devemos tomá-lo por louco, dada a sua conclusão de matar o velho. Novamente, também se justifica como não sendo louco, porque loucos não seriam capazes de premeditar e calcular todo o assassinato do velho como ele foi. Descreve então em detalhes tudo o que se sucedeu até a conclusão dos fatos, momento em que ele se livra do velho mas que acaba por se entregar à polícia. Motivo? Tire suas próprias conclusões. Eu creio que por causa da culpa. Há quem afirme que o insuportável som que incomodava o narrador após o ato era do coração do velho, ou de alguma outra origem. Eu afirmaria que se trata (nas duas ocasiões, antes e após a morte do velho) do coração do próprio narrador, em sua fúria louca. Fato é que esse conto não acaba bem (exceto para os leitores que tem uma ótima experiência).

Fica a dica de leitura, um conto super rápido de se ler, muito interessante e para os mais curiosos/analíticos, um prato cheio para filosofia, estudo do comportamento e elaboração de teorias. Embora deve ser possível encontrá-lo online para leitura, caso não possuam o livro, recomendo fortemente esta obra maravilhosa, em capa dura e com excelente arte de capa, interlúdios com ilustrações e mais.

Até a próxima resenha do mês do Terror, rascunheiros, espero que gostem e que comentem aqui sobre as vossas impressões.

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DarkSide

Te Conto um Conto [Mês do Terror]: O Barril de Amontilhado - Edgar Allan Poe

24 outubro

Fala galera, dando sequência neste mês maravilhoso de terror, vamos ao conto "O Barril de Amontilhado" de Edgar Allan Poe, um conto também muito curto (menos de 10 páginas) que integra a coletânea do livro Medo Clássico publicado pela Darkside.

Esse conto faz parte do bloco narradores homicidas (eu particularmente não gostei desse título de bloco porque entrega muito da história) e tem como ponto chave a vingança. Aparentemente, é ambientado na Itália e tem como protagonista o vingativo Montresor, um sujeito que busca a vingança premeditada por insultos sofridos por Fortunato. Decidido, ele planeja e executa, durante o conto, a tão prometida vingança. Ponto curioso nas obras de Poe é o uso de nomes em latim que trazem em si próprios um significado. Não ficam tão entregues ao leitor nativo de Poe (inglês), mas para nós, falantes de português, um príncipe com nome de Próspero (O Baile da Morte Vermelha)  e um sujeito com nome de Fortunato dizem bastante pelas entrelinhas. De volta ao conto, a mensagem deste pode ser traduzida claramente de duas formas: "O seu orgulho pode ser a sua ruína" ou utilizando o dito popular, "A soberba precede a queda".

Dito isso,  Montresor explica que o ponto fraco de Fortunato é justamente o seu grande conhecimento sobre vinhos (o autor ainda se diverte com os esteriótipos italianos). Num momento de festa, Montresor encontra Fortunato embriagado e o provoca a respeito de um barril que supostamente seria de Amontillado, um vinho muito tradicional de origem espanhola, ameaçando pedir um rival connoiseur de vinhos para avaliar se o tal barril é de fato de Amontillado. Com isso, arrasta Fortunato até sua adega, sempre tentando afastar (com real intenção de provocar) seu conhecido da tarefa de averiguar se o barril é, de fato, de tal vinho. O fim do conto trás o que era esperado, a "morte" de Fortunato e a vingança de Montresor. O que trás horror a alguns leitores (e deleite para os mais sádicos) é como se dá essa vingança, coisa que espero que descubram em breve, afinal é um conto que se acha muito facilmente pela internet. 

E esse foi o conto de hoje do nosso mês do terror, em breve eu volto com mais Edgar Allan Poe para vocês. Até a próxima!

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DarkSide

Te Conto um Conto [Mês do Terror]: O Baile da Morte Vermelha - Edgar Allan Poe

05 outubro


Fala aí queridos Rascunheiros,

Como vocês já devem ter percebido, eu amo esse mês e gosto muito do Halloween, principalmente porque eu associo alguns dos melhores momentos na vida a leituras/jogos de terror que já experimentei. E como não tem sido diferente, eu vim aqui trazer pra vocês uma coletânea de contos do nosso ilustríssimo Edgar Allan Poe, contidos na obra Medo Clássico, publicada pela editora Darkside. Essa obra consiste numa coletânea de trabalhos do autor (não contém todos porque são muitos) e é uma edição para se colecionar, visto que tem um trabalho editorial impecável, com capa dura, ótima diagramação, detalhes em fio de ouro e outras cositas mas.

Como eu já havia lido alguns dos primeiros contos, abri este livro diretamente no primeiro que eu não conhecia, aqui chamado de "O Baile da Morte Vermelha". Em outras traduções é chamado também de "A Máscara Vermelha da Morte", uma tradução literal do título original. Neste conto muito curto (menos de 10 páginas neste livro), vemos aquele tom extremamente sombrio e mórbido, característica ímpar de Poe na medida em que ele traz uma história que aborda a peste. Num período da história da humanidade em que surgiram as cidades e as mesmas começaram a ganhar massa populacional, frequentemente a raça humana se via vítima de mini eventos de extinção, dado que a higiene e o saneamento eram precários e as aglomerações facilitavam a disseminação das doenças rapidamente. 

O exemplo mais conhecido foi a peste negra, um evento que chegou a dizimar cerca de um terço da população da Europa da idade média. Neste conto Poe usa de evento semelhante, e com o surgimento e avanço da peste, o protagonista Príncipe Próspero se isola em um castelo com cortesãos e gente da alta sociedade, como uma forma de quarentena invertida, em que se isolaram os indivíduos ricos/nobres saudáveis do resto do mundo. Vivendo isolados do resto do mundo e no luxo habitual, o príncipe planejou um baile de máscaras para entretenimento dos confinados. E aí entra toda a morbidez típica de Poe. A descrição do baile mais parece um mausoléu do que uma festa. E há o maldito relógio de pêndulo. Como o conto é curto, não posso contar mais para não estragar o final, mas admito que nem toda obra de um grande autor é uma grande obra. Este é o caso com O Baile da Morte Vermelha, que nem de longe se iguala à qualidade de outras obras do autor. Não digo que foi uma experiência ruim, mas também não impressiona. Difícil dizer, mas acredito que tenha sido mal desenvolvida, poderia ganhar mais umas páginas e surgir um final melhor. Uma pena. Creio que os próximos contos agradarão mais.

De toda forma, é válida como experiência de conhecer a obra completa do autor, além de ser bem curtinha e não se tornar um arrependimento pelo tempo curto gasto.
Até a próxima pessoal, comentem aí se já leram algo do autor e se gostaram.

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Resenha

Contos Inacabados: Aldarion e Erendis

15 junho



          Fala aí Rascunheiros, tudo certo?
          Hoje vou falar um pouco mais sobre a obra de Tolkien e da Terra Média.
         No livro Contos Inacabados, temos um conto da segunda era intitulado Aldarion e Erendis: A esposa do Marinheiro.
         Antes, quero lembrar que nas divisões das Eras da Terra Média temos muitos escritos sobre a Primeira Era (os Filhos de Húrin, boa parte do Silmarillion, algumas partes do Contos Inacabados, dentre outros) e mais escritos ainda sobre a Terceira Era (O Hobbit, O Senhor dos Anéis e partes de Silmarillion e Contos Inacabados). Entretanto, a Segunda Era é um pouco obscura, visto que Tolkien deixou nosso mundo sem finalizar seus trabalhos. A razão, segundo o próprio Tolkien foi que a maior parte da história da Segunda Era trata sobre Númenor e que boa parte desse material foi perdido durante o Akallabêth (A queda de Númenor), uma vez que Tolkien afirmava que a história da Terra Média era a história do nosso passado mais remoto (isso mesmo, da humanidade e do planeta Terra). Logo, há poucos escritos sobre a Segunda Era e isso só me deixa mais curioso sobre esse período. Ao que tudo indica, foi um período de transição de vilões, uma vez que Morgoth havia sido derrotado e Sauron estava começando a ganhar força durante a tal Segunda Era.
          Mas vamos ao Conto. Das linhagens de Elros (Irmão de Elrond e descendente de Elfos e Homens, fundador de Númenor), veio a nascer Anardil, mais conhecido como Aldarion. Este herdou do avô materno Vëantur, Capitão dos Navios do Rei Tar-Elendil, a paixão pela navegação, tendo aprendido muito com Círdan sobre a construção de navios em suas viagens de Númenor à Terra Média. Meneldur, pai de Aldarion e futuro rei de Númenor nunca fez muito para impedi-lo nessa paixão, mas se desgostava de ver um herdeiro de Númenor tão ausente em sua Terra.

        Aldarion fez muitas viagens e, tendo aos poucos se afastado do pai pelos sucessivos desentendimentos, foi proibido a qualquer mulher da casa real levar o tradicional ramo verde do retorno, um ramo da árvore oiolarë. Nessa ocasião, Erendis, humana de rara beleza que passou a viver sob os cuidados da Rainha Almarian (esposa de Meneldur) e que já havia atraído antes a atenção de Aldarion, se ofereceu para levar o ramo de oiolarë, visto que a proibição do rei não era dada a ela. Assim, iniciou o amor de Aldarion por Erendis, que apressou seu retorno a Númenor e trouxe, na volta, um diamante de presente para sua amada. Provocando constantemente a ira de seu pai, Aldarion cada vez passava menos tempo em Númenor e mais tempo navegando. Perdendo as esperanças, Erendis voltou a casa dos pais. Aldarion, voltando de sua longa viagem, na qual quase sofreu naufrágio, procurou saber de Erendis, mas pelo orgulho e teimosia acabou não indo ao seu encontro. Erendis também era uma mulher do tipo tudo ou nada, e não estava disposta a dividir seu homem com o mar. Tendo ganhado o coração de Aldarion, acabaram por se casar e ter uma filha, Ancalimë, a mais bela mulher da linhagem de Elros, exceto por Ar-Zimraphel. Aldarion conseguiu permanecer com sua esposa e filha por um tempo em Númenor, mas o coração do marinheiro sempre se voltava para o mar. O fim desse conto (que não tem um fim de fato, tem trechos de rascunhos), não lhes digo porque tem importância singular nos acontecimentos da Terceira Era, mas digo que é triste e ao mesmo tempo admirável o rumo que toma a história da Esposa do Marinheiro, vale muito a pena ler. O conto, ao todo, possui 53 páginas, sem contar as notas fixadas ao final do livro, que auxiliam o leitor a se situar.
          De fato, o livro Contos Inacabados é para os leitores ja familiarizados com as obras comuns de Tolkien, do contrário é muito fácil se perder e a leitura se torna monótona. Este livro é mais um complemento para tentar completar o quebra-cabeças mental da Terra-Média, adicionando fatos antes desconhecidos e entendendo conexões. Como diversão apenas, vale ler o conto de Aldarion e Erendis, tranquilo de se ler, necessitando apenas o conhecimento de que a descendência de Elros tinha uma vida muito mais longa que a dos humanos comuns, uma vez que o próprio era meio elfo. Vale lembrar que os reis de Gondor e Arnor eram descendentes de Elros, sendo possível notar em Aragorn a longevidade quando este conta a Eowyn, sobrinha do rei Théoden de Rohan a sua idade.
          Então é isso pessoal. Espero que estejam gostando das publicações sobre a Terra Média. Em breve teremos mais.
Até a próxima.


Fonte(s): Segunda Figura retirada de Tolkien Gateway, desenhada por Steamey, mostrando Erendis entregando o ramo de oiolarë para Aldarion.
Primeira Figura retirada de http://users.bestweb.net/~jfgm/FootersWeb/UT-I-Part02.htm
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Resenha

Te conto um Conto: Um bom Casamento (Escuridão Total Sem Estrelas)

02 junho

         Fala pessoal, em outubro de 2017 eu fiz uma série de resenhas sobre os contos do livro de Stephen King, Escuridão Total Sem Estrelas. Só que na correria da vida acadêmica, acabou faltando a resenha do quarto e último conto, Um bom casamento.
          Se você  não sabe do que estou falando, confira aqui as resenhas de 1922, Gigante do Volante e Extensão Justa, para entender que quando se trata da perversidade humana, parece que não existem limites e que, no momento mais escuro de uma pessoa, toda a expectativa pode ir por água abaixo.
         Você algum dia já se questionou o quão sozinho você está? Você tem filhos, marido/esposa, irmãos, pai/mãe, primos, amigos, mas ninguém está 100% por dentro da sua vida além de você. Por mais aberto e receptivo, por mais intimista que seja um casal, você nunca conhece 100% da vida, ideias e pensamentos de outra pessoa. Você pode até viver junto com alguém por 25, 50 anos e jamais saber tudo sobre essa pessoa. Um pensamento um pouco obscuro e solitário, não é? Eu me questiono com frequência, quanto  da vida de alguém que eu realmente gosto é mistério, se aquela pessoa não seria, de fato, um desconhecido para mim.
         Foi exatamente esse questionamento que Darcy se fez durante aquele fatídico dia em que estava sozinha em casa vendo TV e precisou de pilhas novas para o controle. Não encontrava em nenhum lugar da casa e foi até a garagem de Bob, seu esposo, porque sabia que lá encontraria as benditas pilhas. Bob tinha viajado para avaliar uma coleção de moedas da Segunda Guerra, era um colecionador de moedas, tinha uma paixão numismática. Estando ela sozinha, precisou ir até a garagem, que era domínio de Bob e que ela pouco conhecia, atrás de pilhas. Mas o que ela descobriu lá não foi nada agradável. Darcy, que em 2009 completara 25 anos de casada com Bob, o qual conhecera durante o trabalho na juventude e que compartilhava a mesma paixão do pai dela por coleções de moedas, jamais suspeitou que existissem segredos entre eles. Descobriu um deles tropeçando numa caixa na garagem. Espantou-se pelo fato da caixa estar fora do lugar, dada a organização quase maníaca de Bob. Espantou-se ainda mais com o conteúdo da caixa, que ela poderia apenas ter empurrado de volta para debaixo da bancada e esquecido. Mas não, viu um catálogo de tricô e quando o pegou, viu outros catálogos dela. Bob afirmava que Darcy era compulsiva por catálogos de compras (e as compras também) e a repreendia por isso. Recuperando seus queridos catálogos (que acabariam na lixeira, assim que Bob voltasse), Darcy descobriu algo que não era um catálogo. Uma revista pornográfica, e mais que isso, uma revista de sadomasoquismo. A princípio julgou ser apenas curiosidade masculina, talvez por medo da descoberta inesperada. Depois de muito pensar a respeito, decidiu deixar para lá, sabendo que para preservar um casamento de 27 anos, era preciso deixa para lá certos acontecimentos de importância menor. Empurrou a caixa de papelão com as mãos, pressionando-a contra a parede de volta ao lugar que deveria estar. Ouviu um baque surdo, e isso só a deixou mais paranóica. Não queria conferir, então voltou para dentro da casa. Atendeu um telefonema do filho falando do sucesso nos negócios. Após a curiosidade falou mais alto e conferiu o motivo do baque surdo e não gostou do que encontrou. E você leitor, também não vai gostar. 
         Parada para respirar, a escrita do King é muito descritiva, criando uma zona de suspense, além de fazer com que até mesmo os menos inventivos criem uma imagem mental do ambiente da cena do livro. É quase como ver um filme enquanto lê. Voltando ao conto, Darcy achou um pequeno esconderijo no rodapé e, dentro dele, uma caixinha de madeira que ela reconheceu como um presente  que ela dera a Bob uns 5 anos antes  para guardar abotoaduras. Abriu a caixinha e encontrou três cartões de plástico presos por um elástico. Um de doador de sangue, um da biblioteca de North Conway e uma carteira de motorista, todos no nome de Marjorie Duvall. Mas QUEM era Marjorie Duvall? Como Bob a conhecia? Porque o nome não era estranho a Darcy e o mais importante: POR QUE estes documentos estavam escondidos nas coisas de Bob?
         O desenrolar dessa história, deixo para vocês descobrirem no conto de 87 páginas e prometo que quem ler não vai se arrepender de descobrir o desfecho eletrizante. Há também um filme de 2014 baseado no conto e de mesmo nome que, infelizmente não tem uma boa nota no IMDB, confira o link aqui.
           Então é isso, fechamos aqui esse que já é um dos meus favoritos de Stephen King. Deixem nos comentários o que vocês acham que acontece na sequência e o que acharam da resenha e até a próxima. 

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Resenha

Te conto um Conto - Extensão Justa (Escuridão Total Sem Estrelas)

03 fevereiro

Olá mais uma vez Rascunheiros. Continuando nossa caminhada pela obra de contos de King, hoje vou falar um pouco sobre Extensão Justa, terceiro (e mais curto) do livro Escuridão Total Sem Estrelas. Se você ainda não viu as resenhas dos dois primeiros, a de 1922 está aqui e a de Gigante do Volante aqui. Nesse pequeno conto de menos de 40 páginas encontramos com David Streeter, uma pessoa de vida regular que se encontra dirigindo na marginal do aeroporto de Derry (que revisita gostosa) no fim da tarde para pensar nos seus poucos meses de vida que restam, uma vez que o mesmo tem um câncer muito agressivo. De repente ele se encontra com alguém um tanto peculiar na beira da estrada, sentado numa barraquinha simples de negócios e acaba conversando com o sujeito. Na placa, o anúncio: Extensão justa, preço justo. Depois de uma conversa , Streeter acredita estar falando com um sujeito que fugiu de um hospício, uma vez que este o oferece uma extensão de vida por um preço talvez bastante razoável. Estranhando toda situação deserta (mas sem nada a perder, já que o risco era mínimo), ele fecha o acordo. O preço? Dinheiro. Entretanto o mal não pode simplesmente ir embora, ele precisa ser compensado. E nada de entregar o fardo a um anônimo, você deve repassá-lo a alguém, de preferência que você odeie. A palavra chave deste conto é: Inveja. Inveja pelo fato de o outro ter conquistado o que deveria ser dele, inveja do outro conquistar as coisas somente por meio dele. Sim, Streeter tem uma pessoa para carregar este fardo. Então o acordo começa e Streeter vê toda sua vida (não mais com câncer) dando uma guinada ascendente enquanto a pessoa a quem ele delegou o fardo vê a vida indo ladeira abaixo. Com alguns elementos de muito clichê (do tipo negociador de almas da encruzilhada), este conto trás à tona uma nostalgia de revisitar Derry (que aparece em It), os barrens, ouvir que os Streeter tem um vizinho chamado Denbrough. Além disso, faz uma linha do tempo curiosa, citando fatos para marcar os acontecimentos na vida de Streeter, como a queda das torres gêmeas em setembro de 2001, um furto executado por Winona Ryder (aquela atriz que é mãe do garoto desaparecido no Stranger Things) que foi alardeado nos noticiários, o inicio da relação de Chris Brown e Rihanna, a agressão que Chris Brown cometeu, todos esses fatos relacionados ao livro de forma a contextualizar sutilmente a obra. Apesar de não ser tão bom quanto 1922 e Gigante do Volante, Extensão Justa não é um conto ruim. Talvez incompleto (na minha opinião), mas não ruim. Você, enquanto leitor, cria uma expectativa para o final que não se concretiza, tornando inquietante a forma como a história termina. 
E se você acredita que tem andado numa maré de azar, que tudo tem amaldiçoadamente dado errado para você de um tempo para cá enquanto todo o restante prospera, cuidado: Você pode imaginar por um momento que alguém negociou o próprio fardo com Odabi na beira de uma estrada deserta e o despejou em você, como fez Streeter em Extensão Justa.
É um conto agradável de se ler e em pouco tempo já está liquidado. Na minha opinião, apesar de apresentar aquela tão citada escuridão da alma, neste conto ela é muito menos marcante. 
É isso pessoal, espero que gostem e deixem comentários aí falando o que acharam. Volto em breve pra falar do quarto e último conto deste livro. Até logo.


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Suma de Letras

Te conto um Conto - Gigante do Volante (Escuridão Total Sem Estrelas)

21 janeiro


Fala pessoal, estou de volta com essa obra maravilhosa. Nessa resenha vou falar sobre o segundo conto do livro, intitulado Gigante do Volante. Como dito na resenha de 1922 (aqui), primeiro conto do livro, há quem acredite que há momentos em que somos tomados por uma escuridão, momentos esses em que nada mais se manifesta e que o resultado certamente não será bom (ou será?). Em sinopse, Gigante do Volante é um conto de pouco mais de 100 páginas protagonizado por Tessa Jean (Tess), escritora de uma série de livros de mistério investigativo, do tipo Poirot ou Sherlock, mas com um toque de doçura, uma vez que as detetives são um clube de senhoras intitulado Sociedade de Tricô de Willow Grove. Por razões lógicas, a escritora faz palestras do tipo Meet & Greet por uma certa quantia para engordar sua "aposentadoria". Em uma oportunidade que surge muito próxima de casa e bem paga, ela se envolve numa experiência traumática que muda toda a sua vida. Resultado: Tess é estuprada e quase morta (não é spoiler, isso está na sinopse oficial do conto na orelha da capa). O momento de escuridão de Tess começa a partir desse ponto. O que fazer machucada, espancada, estuprada, sem carro no meio do nada?
Antes de mais nada, King naturalmente escreve muito bem quando o assunto é horror da psiquê humana. É possível notar isso em várias das obras dele. Outro ponto interessante é a obstinação pela metalinguagem do autor, abordando em diversas de suas obras a arte pela qual vive, vide Paul Sheldon e Tess, seus personagens escritores que estão dentro de um livro. E o mais curioso é que ele faz isso com muita naturalidade. 
Voltando para a obra e a escuridão de Tess, é importante para mim dizer que por muito tempo nunca entendi porque razão mulheres que sofriam de violência doméstica e/ou sexual preferiam não denunciar, tentavam encobrir. Bom, eu entendia, mas nunca completamente, até ler essa obra. King é preciso sobre todo o julgamento, vergonha, medo, tornando todo o porque claro como o sol no deserto. O que mais assombra lendo este conto (e pelo jeito todos os outros nesse livro) é o quanto é  palpável, possível de acontecer logo ali na casa do vizinho. Toda a confusão, a sensação de se sentir outra pessoa, se sentir suja, totalmente mudada e marcada pelo que aconteceu é algo muito triste de se ver, causa muita empatia no leitor mas é agonizante. Quando a protagonista chega em casa viva depois de tudo, precisa pensar o que vai fazer (ou não fazer nada) sobre o que sabe, o que viu, o que passou. E quando ela se decide pela vingança é eletrizante. É ao mesmo tempo excitante e preocupante, você torce por Tess, mas se preocupa com sua sanidade e com a sua vida. Definitivamente um conto imperdível, em algum ponto toma uma forma muito curiosa de livro de mistério, do tipo que vai se desvendando em partes e nos deixando boquiabertos. Ainda prefiro 1922, um conto mais viciante pela forma como foi escrito. Entretanto Gigante do Volante é uma ótima leitura, rápida e emocionante do início ao fim.

Bom galera, é isso. Contem ai nos comentários o que acharam do conto (Se leram) e da resenha, vamos discutir sobre um pouquinho. Até a próxima.

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Resenha

Te Conto um Conto - 1922 (Escuridão Total Sem Estrelas)

12 janeiro


Fala pessoal, vamos falar de terror? 1922 é o primeiro de 4 contos que compõem o livro de Stephen King, Escuridão Total Sem Estrelas.
Você sabe o que é a escuridão? Será que ela tem conexão conosco? Há quem acredite que em certos momentos somos tomados pela escuridão, momentos esses em que nada além da escuridão se manifesta em nós. Alguém pode ate tentar lhe trazer uma 'lanterna', uma 'vela' para te iluminar um pouco, mas dificilmente vai surtir algum efeito. Nessas horas, nós, seres habituados com a luz, nos perdemos em meio a escuridão e quase que certamente o resultado não será bom. King, nessa obra traz a tona momentos da mais completa escuridão na alma das pessoas, impressionando e aterrorizando pela verossimilhança narrativa.
Você que vive hoje num mundo extremamente próximo e conectado deve imaginar que nem sempre o mundo foi assim. É difícil imaginar que até hoje, principalmente nas regiões rurais, coisas estranhas acontecem e ninguém fica sabendo. Imagine antes dos celulares com câmeras serem realidade na maioria das casas, quando pessoas passavam semanas e até meses sem ver outras pessoas. O que não acontecia então em 1922, numa fazenda?
Wilfred é um fazendeiro que vive com a esposa Arlette e o filho adolescente Henry na região de Hemingford (próximo a Omaha), no estado do Nebrasca. Já nessa época, grandes companhias de criação de bovinos e suínos tomavam conta de longos trechos rurais, uma delas a Companhia Farrington. Wilfred vivia das terras que lhe pertenciam, 80 acres de terra. Wilfred era satisfeito com sua vida, até que um dia em 1922, Arlette recebe em testamento um terreno anexo a fazenda onde viviam, totalizando 100 acres, um acréscimo bem vindo às terras da família. Só tinha um problema: A esposa de Wilfred não estava satisfeita de viver ali, ela queria morar na cidade, e para tanto pretendia vender suas terras herdadas e a Companhia Farrington queria comprá-las. Para Wilfred, viver na cidade seria impensável, ele adorava o campo, viver do campo, o sossego daquele lugar. Calmamente sua esposa propõe que ele fique em sua terra, ela venda as dela e se mude com o filho. Entretanto ele também não gostaria de viver ao lado de um matadouro, perto de um rio cheio de restos de animais. A solução? Wilfred decide se livrar de sua mulher. Num momento de escuridão total, Wilfred decide manipular seu filho Henry a lhe ajudar a matar Arlette e esconder o corpo dela. E essa é a origem de todos os problemas. Depois de planejar e executar (tendo alguns problemas), ambos escondem o corpo da mulher e tentam levar a vida, mas nada mais é como antes. O filho, aterrorizado começa a ficar cada vez mais agressivo e arredio, uma vez que não conhece limites após participar de tão covarde ato. O pai, aparentemente começa a ter pesadelos e delírios, sendo atormentado constantemente pelo crime. As autoridades, tentando apurar o ocorrido visitam, investigam e nada encontram. Mas mesmo escapando da lei, a culpa continua martelando na cabeça de Wilfred, junto com os ratos, os malditos ratos. Para completar, os primeiros sinais da crise de 29 que se aproxima começam a afetar a situação financeira dos dois. A única ponta de esperança é a relação da filha do vizinho, mais rico, com Henry. Apesar de mudado, Henry se sente um pouco melhor por ter a companhia da graciosa Shannon Cotterie. Mas a escuridão, por mais que venha e tome posse do juízo das pessoas, quando vai embora sempre deixa marcas incuráveis. Os problemas vão se acumulando até chegar aos limites do suportável para cada um. O fim da história, você descobre quando e onde será logo nas primeiras linhas : abril de 1930, a confissão de Wilf sendo escrita num hotel na cidade de Omaha. Logo ele que tanto lutou para não ir parar na cidade. O relato, contado do ponto de vista de confissão é rico em detalhes (qualidade ímpar do King que dá vida a momentos pitorescos das suas obras) e faz com que a vontade de conhecer o final só cresça ao longo do relato. Não vou contar muito sobre o desenvolvimento do livro porque se você não leu, merece descobrir da forma mais legal: Lendo.
Só queria dizer que até um pouco de Bonnie & Clyde tem nessa história.
Aos curiosos apressados, a Netflix lançou um filme original de mesmo título, cuja atuação de Thomas Jane como Wilfred é excepcional e vale a pena conferir. Entretanto recomendo fortemente ler primeiro e ver depois, afinal o livro é sempre melhor né?
Deixa aí seu comentário, vamos bater um papo sobre essa história sinistra.

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José Olympio

Te conto um conto: O Papel de Parede Amarelo

26 novembro

Autora: Charlote Perkins Gilman

O feminismo tem sido um tema cada vez mais recorrente na literatura. Personagens femininas antes submissas a uma sociedade patriarcal (dominada pelo homem) passam em um cenário atual a ter voz, coragem e força para expressarem suas opiniões . Não se deixem enganar ainda tem muitos livros que tentam passar essa representatividade feminina de forma errônea só por ser um tema está em foco e que de certa forma “vende” mais, por isso é importante ter um olhar crítico e conhecer a fundo a história por trás do feminismo. Vale ressaltar que o feminismo em nenhum momento tem como objetivo a superioridade das mulheres e sim, a busca pela igualdade dos sexos. Esse é um tópico que pretendo abordar com calma posteriormente, hoje quero falar sobre um conto que se encaixa bem no feminismo.
Será que o feminismo é um tema novo na literatura? Se engana quem respondeu sim, temos diversos exemplos como Virginia Wolf, Jane Austen (diga-se de passagem uma autora que escreveu uma crítica e tanto da sociedade na época em que viveu), Alice Walker e tantas outras que fugiram totalmente do estilo literário predominante na suas respectivas épocas e criaram personagens que valem a pena serem conhecidas por todos. Hoje, irei falar um pouco sobre um conto publicado pela primeira vez em 1891, escrito pela autora estadunidense Charlotte Perkins Gilman. A autora que já fugia da regras sociais que dominavam o seu tempo, tem o conto “O papel de parede amarelo” como um dos seus escritos mais famosos. Já adianto que é uma ótima leitura.
O conto é escrito em forma de diário por uma mulher diagnosticada com uma depressão nervosa temporária. Seu marido que é médico toma a decisão de mantê-la confinada em um quarto, proibida de fazer qualquer atividade, ela começa a escrever em segredo em seu diário. Logo, ela se torna obsessiva pelo papel de parede amarelo do quarto e começa a imaginar que há mulheres presas nele.
“O papel de parede amarelo” traz um relato verídico sobre a depressão, descrita de uma forma profunda e que causa até mesmo sofrimento. O leitor sofre com a personagem, sente suas angústias, ao mesmo tempo que lê nas entrelinhas grandes críticas a sociedade dominada pelo homem e que pouco se sabia sobre a depressão.

Poucas palavras foram suficientes para descrever os distúrbios causados pelo confinamento e forma como a mulher não tinha voz perante a sociedade. Uma leitura de grande valor e que deveria ser de conhecimento de todos.
Esse conto está disponível no Kindle Unlimeted.

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Halloween

[Especial Halloween] Te conto um conto: O Aterrorizante Toque da Morte

23 outubro


Robert E. Howard é um escritor estadunidense que escreveu contos e poesias nos mais diversos gêneros. “Conan, O bárbaro” é uma de suas obras de maior destaque e pertence ao subgênero da fantasia “espada e feitiçaria”, do qual é considerado um dos precursores. Eu ainda pretendo falar melhor sobre essa obra um dia aqui no blog, mas hoje o foco será um dos contos presentes no livro “Rosto de Caveira, Os Filhos da Noite e Outros Contos” que como o nome já sugere é uma coletânea de contos fantásticos que conta com elementos sobrenaturais e também combates.
Adam Farrel era um velho que sempre viveu só em seu casarão, nunca teve amigos e sua morte contou apenas com duas testemunhas um médico, Doutor Stein, e um homem chamado Falred. Devido ao fato de Farrel não ter amigos, Falred decidiu que iria velar o corpo do velho durante a noite, mesmo que sozinho. O que ele não sabia é que aquela noite estava longe de ser uma noite tranquila.
Por se tratar de um conto relativamente curto não cabe nesta resenha conter muitos detalhes. O clímax fica por conta de todo o suspense em volta dos acontecimentos noturnos e em como a morte, por si só, é capaz de incomodar e perturbar. É possível sentir toda a tensão do personagem à medida que o medo vai tomando conta dele e o desfecho é sem dúvidas a cereja no topo do bolo.

Esse foi o conto que eu mais gostei do livro, ele contém a medida certa de suspense e terror psicológico. O desenvolvimento é rápido e dinâmico, mas não deixa de surpreender. Recomendo a todos que gostam do gênero.
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Halloween

[Especial Halloween] Te conto um conto: O Gato Preto

22 outubro


Falar do mês do terror e não citar Edgar Allan Poe é quase impossível, já que ficou conhecido justamente por sua vasta produção de histórias que envolvem suspense e o terror. As obras de Poe ainda desempenham um papel importante no universo literário, desde o século XIX Edgar vem inspirando grandes autores e continua sendo referência nos dias de hoje. Um dos personagens mais famosos de Poe é o detetive Dupin e "O Corvo" é um de seus poemas mais famosos. Hoje vou falar do conto "O Gato Preto" e foi publicado em 1843.
O conto é narrado em primeira pessoa e logo no início já sabemos que o narrador traz consigo um grande arrependimento devido a uma sucessão de fatos que o atormenta e que ele irá contar a fim de encontrar a paz de espírito. Ele conta que desde a infância sempre gostou de animais domésticos e se sentia feliz por alimentá-los e acariciá-los. Com o passar do tempo casou-se e encontrou na esposa a mesma disposição para cuidar dos animais.  Eles tinham peixes, passarinhos e um gato preto que deram o nome de Pluto.
Existem diversas superstições com relação a gatos pretos e em uma delas existe a alusão de que esses gatos são bruxas que se transformaram no animal e que cruzar com eles na rua traz má sorte. Como já mencionei isso é uma crendice popular que muitas pessoas até hoje acreditam, mas vale ressaltar que não tem nenhum embasamento científico e que em hipótese alguma ninguém tem o direito de maltratar nenhum animal. Dito isso, retorno ao conto, o gato era forte, belo e inteligente e sempre que conversavam sobre o assunto a esposa acabava por mencionar a superstição citada.
Junto com o vício em bebidas alcoólicas a afeição do narrador pelos animais se reduzia com o tempo. Logo, começou a maltratá-los. Mesmo que a princípio não quisesse machucar Pluto com o tempo acabou cometendo um ato inescrupuloso e tirou um dos olhos do animal. O gato se recuperou lentamente e continuava vagando pela casa agora com a órbita vazia, a princípio demonstrava um certo remorso, mas aos poucos foi tomado pela ira, decidiu então enforcar o gato.
Vou me deter nesse ponto para não resumir todo o conto que não é muito longo. É possível lê-lo em poucos minutos e recomendo a leitura para todos que gostam de terror. Mesmo com poucas palavras o conto se torna um tanto assustador, um pouco pelo fato da descrição das cenas de maus tratos ao animal e outro pela condição psicológica do narrador. Sobre a escrita não tem nem o que falar é muito bem feita. A diversidade vai ficar por conta das diversas traduções e como não li o conto traduzido por outras pessoas não posso indicar qual a melhor versão.


A narrativa é imparcial durante todo o texto, os eventos são narrados de forma crua, isentos de opinião ou lamentações durante a sucessão de fatos. Mesmo sabendo do arrependimento do narrador, que deixa claro que se sente envergonhado, a impressão que ele foi o mais sincero possível e que a história é aquela sem tirar e nem por. A reunião de todos esses elementos me prendeu como leitora e o desfecho me surpreendeu. Leitura mais do que indicada.
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Harper Collins

Te conto um conto: Escândalo na Boêmia

06 março


Eu sempre gostei de ler contos, acredito que é uma forma única de conhecer a escrita de alguns autores, ou para familiarizar com a linguagem utilizada, por exemplo, em clássicos da literatura que por muitas vezes acabamos evitando a leitura por medo de se tornar cansativa e difícil. Por isso, acredito que essa coluna irá ajudar a conhecer melhor alguns autores e um pouco de suas obras.
Sir. Arthur Conan Doyle
Para começar com o pé direito escolhi um autor que apesar de já conhecer a escrita todas as vezes eu ainda me surpreendo, Sir. Arthur Conan Doyle. É impossível citá-lo sem mencionar um dos detetives mais querido da literatura policial, Sherlock Holmes, no total foram cerca de sessenta histórias sobre esse personagem icônico, sendo quatro romances e os demais contos. Conan Doyle inovou diversas vezes em suas histórias e conquistou o público. Sem mais delongas irei falar um pouco mais sobre o conto em questão.
(Imagem extraída do site Mundo Sherlock)

Em “Escândalo na Boêmia” um nobre solicita a ajuda de Sherlock para recuperar uma foto em que prova que teve um caso com uma mulher pela qual fora extremamente apaixonado. Esse nobre está de casamento marcado e agora a sua amante insiste em chantageá-lo  ameaçando entregar a fotografia para a noiva dele, como já havia feito outras tentativas sem sucesso ele acredita que a única pessoa capaz de ajudá-lo é Holmes. O que eles não contavam é que essa não é uma mulher qualquer, ela é perspicaz e atenta aos fatos, o que Watson narra logo no início era que todas as vezes que Sherlock chega a mencioná-la ele demonstra certa admiração por ela, Irene Adler.
Como não pretendo dar spoilers sobre o que acontece no conto, não irei me estender na sinopse e irei focar um pouco mais nas minhas percepções. O conto é dividido em três partes, é bem curtinho e foi publicado no livro “As aventuras de Sherlock Holmes”, o desenvolvimento é conciso e bem construído com personagens surpreendentes, além de ser marcado por grandes reviravoltas. Esse é também o primeiro conto de Sherlock, sucessor dos dois primeiros romances, “Um Estudo em Vermelho” e “O Signo dos Quatro” e, acredito que mesmo os leitores não tendo contato com esses dois romances é perfeitamente possível se apaixonar pelo universo do detetive excêntrico e que sempre faz observações assertivas.
Para quem já conhece o detetive não é nenhuma novidade que ele é um observador nato e que a partir dessas observações ele consegue chegar a conclusões incríveis sobre situações e pessoas. Essa imagem permanece inalterada neste conto. O ponto crucial dessa história, na minha opinião, é a presença de Irene, uma mulher a frente do seu tempo, que se mantém misteriosa em grande parte da narrativa, mas se revela bem mais esperta do que é imaginado ao princípio.
Outro ponto que me agrada bastante na escrita de Conan Doyle é que ele não deixa as pontas soltas, ele entrelaça toda a narrativa, tudo se justifica e se mostra plausível, até mesmo os menores detalhes ganham espaço e significado ao final.

Para os amantes de um bom romance policial sem dúvidas Sherlock Holmes já possui um lugar cativo e acredito que não seja necessário recomendar a leitura. Portanto, indico esse conto para todos que querem ler algo do Conan Doyle, porém ainda não tiveram a oportunidade ou mesmo tem um certo receio em realizar a leitura. Mesmo tendo poucas páginas, o conto é surpreendente e capaz de prender a atenção do leitor.

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