Companhia das Letras

Resenha: Os meninos da Rua Paulo

29 abril



Título: Os meninos da Rua Paulo
Autor: Ferenc Molnár
Editora: Companhia das letras
Ano: 2017
Páginas: 272

Livros que trazem a temática de amizade acima de tudo nunca saem de moda e não é por acaso que "Os meninos da Rua Paulo" do escritor húngaro Fenrec Mólnar se tornou um clássico da literatura aclamado por muitos e segue sendo passado de geração em geração, suas lições sobre lealdade, amizade e respeito seguem atuais. Existem diversos estudos e resenhas desse livro espalhados pela rede, basta realizar uma busca no google, inclusive se você ainda não leu o livro recomendo para deixar essa busca depois da leitura, caso contrário encontrará diversos 'spoilers'.

Os personagens desse livro são dois grupos de crianças que são rivais e que estão prestes a disputar um espaço onde os meninos da Sociedade do Betume se encontram constantemente após às aula para jogar 'pela'. Com o crescimento urbano de Budapeste, logo as crianças começaram a ficar sem espaços que outrora usavam para brincar e assim deu início a disputa entre os meninos da Sociedade do Betume e os camisas-vermelha pelo 'grund' localizado na Rua Paulo.

O enredo apesar de ser simplista apresenta um vocábulo muito rico, o que a princípio pode deixar a leitura um pouco mais lenta. Em contrapartida a medida que as cenas de ação são introduzidas é impossível deixar essa leitura de lado, o leitor é instigado a conhecer melhor esses garotos que mesmo em meio a uma 'guerra' são extremamente morais e leais um com os outros. Outro ponto que pode atrasar um pouco a leitura, são os nomes dos personagens também são um pouco difíceis de se guardar a pronuncia, mas aos poucos eles vão ganhando forma, crescendo e logo nos acostumamos com os nomes diferentes.

Um dos personagens principais o garoto Nemecsek tem um papel fundamental, mesmo sendo apenas um soldado raso da sociedade instaurada na Rua Paulo. Nemecsek conquista os leitores com a sua dose extra honra e conduta, mesmo sendo um menino franzino, logo conquista o respeito de todos e  se torna um elemento chave durante a guerra. A conduta moral dos dois grupos de garotos é extremamente rigorosa, eles conhecem e respeitam seus inimigos e mesmo com medo permanecem honrado toda a história de amizade um para com o outro e lutando pelo espaço que os concederam tantas alegrias.

O livro foi traduzido para o português por Paulo Rónai que também é húngaro, mas devido a segunda guerra mundial se instalou no Brasil e revisado por Aurélio Buarque de Holanda (sim, o mesmo do dicionário Aurélio) logo o português impecável se justifica, inclusive tem um glossário no final com os sinônimos de algumas palavras. Além disso, o livro é usado para fins didáticos e acabei ficando muito triste por não ter conhecido essa história ainda na escola.

Só posso dizer que me encantei por essa leitura e vou levá-la em meu coração por muito tempo ainda. Infelizmente, como já disse não tive a chance de ler na época da escola, mas creio que teria sido uma experiência ainda mais rica. Recomendo essa leitura independente da idade.
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Planeta

Resenha: Garota em Pedaços

09 abril

Título: Garota em pedaços
Autora: Kathleen Glasgow
Editora: Planeta
Páginas: 320
Ano:2017

Eu tenho buscado cada vez mais livros que me tirem da minha zona de conforto literária e por vezes, tenho procurado na literatura jovem adulta temas polêmicos e que levam a reflexão. Movida por esse instinto comecei a ler "Garota em Pedaços" da autora Kathleen Glasgow e acabei tendo dificuldade para me conectar a história, primeiro, pelo fato mais óbvio, é uma leitura feita para incomodar e não é fácil lidar com livros assim e segundo, porque a história dos personagens escapavam totalmente do contexto que estou habituada a lidar.

A protagonista, Charllote ou simplesmente Charlie, é uma garota com dezessete anos que já passou por situações dolorosas. Sua vida nunca foi fácil e a falta de uma estrutura familiar adequada deixou-a fragilizada e levou-a tomar decisões muito ruins. Quando percebeu já estava com grandes traumas e se auto-mutilando. Tudo começa com Charlie em uma clínica de recuperação para jovens, local onde se sente segura após todas as dores que passou, apesar de evitar falar durante o período que passa na clínica ela ainda tem uma melhora no seu quadro, porém logo se ver obrigada a encarar a vida real novamente e ajudada por um amigo ela muda de estado e tenta recomeçar a sua vida.

Sem a ajuda adequada, ela logo se vê afundando novamente e confrontando velhos hábitos. Sua fragilidade e as marcas causadas pela auto-mutilação levam-a procurar um lugar seguro em um relacionamento com outra pessoa que também se encontra em uma situação similar. Um relacionamento destrutivo para as duas partes, porém os dois estão perdidos e encontrar o caminho de volta se torna cada dia mais difícil. Após a dor da perda da melhor amiga, morar na rua e de ser explorada sexualmente, a clínica e a mudança de cidade, uma parte de consciência desperta dentro de Chalie, mas a dor do passado e fato de estar sozinha nessa luta confrontam-a, deixando-a suscetível a escolher os caminhos mais obscuros. Através da arte ela encontra uma espécie de conforto, mas logo deixa de lado esse processo e se afunda cada vez mais nesse relacionamento tóxico.

O tema do livro é bem relevante, todos os questionamentos, dúvidas da protagonista são duros e difíceis de serem processados. A autora expõe de forma real as dores de Charlie e suas escolhas, por isso achei o livro difícil de ser digerido, mas isso não tira o peso da importância de um livro como esse. Não recomendaria para alguém que passa por situações similares, mas para pessoas próximas a ela, acredito que seria de grande valia essa leitura. Se reerguer não é um processo fácil, principalmente em uma sociedade com tantos problemas socioeconômicos quanto a do mundo atual, alguns fatores são de extrema relevância o processo de recuperação como ter pessoas com quem contar e ajuda especializada. Principalmente, ajuda especializada, ninguém melhor para aconselhar e guiar nesse processo árduo e longo, além claro, da intenção e vontade de parar da pessoa que passa por isso.

Finalizo, reiterando mais uma vez que essa é uma leitura que incomoda e desperta sentimentos adversos, não é para ser feita de uma única vez, é preciso parar e processar o que está acontecendo. Se conectar aos personagens é uma tarefa árdua e talvez não aconteça de fato, principalmente para quem nunca passou por nada similar. Creio que o maior valor está no alerta e na conscientização de pessoas em volta, as batalhas travadas por outras pessoas são difíceis de serem imaginadas e se colocar no lugar do próximo é algo difícil de ser feito e esse livro desperta a empatia e a vontade de ajudar pessoas como a Charlie tao subjugadas pelo mundo e muitas vezes deixadas de lado a margem da sociedade e assim elas acabam se afundando totalmente.


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Clare Vanderpool

Resenha: Minha vida fora dos trilhos

01 abril



Título: Minha vida fora dos trilhos
Autora: Clare Vanderpool
Editora: Darkside
Páginas: 320
Ano: 2017

Clare Vanderpool me encantou com "Em algum lugar nas estrelas", mas me arrematou de vez com "Minha vida fora dos trilhos" (primeiro romance da autora).  Esse último livro estava na minha estante desde o seu lançamento, demorei um pouco para iniciar a leitura, mas mais uma vez me vi imersa em um universo criado por Vanderpool. Como esse ano estou focada em ler os livros que já tenho ao invés de comprar novos, coloquei-o na minha lista de TBR(To be read - para ler) e dessa vez foi através do olhar sensível de Abilene Tucker que me encantei com a história dos moradores de Manifest (uma cidade fictícia do Kansas), a garota de doze anos que se vê vivendo duas vidas diferentes, ao mesmo tempo que busca entender as razões do pai de tê-la enviada para essa pacata cidade.

Abilene Tucker sempre acompanhou ao pai que trabalha nos trilhos dos trem, mas quando completa doze anos ele decide que é a hora da filha criar raízes e opta por mandá-la a Manifest, uma cidade do Kansas onde viveu uma breve fase de sua vida. Abilene chega na cidade sozinha e crente que em breve seu pai irá buscá-la, Shady, o pastor e amigo do pai dela, é quem a recebe. Aos poucos a garota que nunca teve um lar fixo, tem a curiosidade atiçada para saber mais sobre o passado do pai e é assim que ela embarca em uma jornada onde irá conhecer a fundo a história de Manifest e seus moradores.

A garota passa por conflitos internos e tenta acreditar que o pai não a abandonou, por isso busca em Manifest qualquer vestígio sobre o passado do seu pai. É como se fosse uma chama que a mantém confiante que apenas o amor do pai lhe basta, ela não precisa de lar e sim do pai. É em busca do passado que ela se vê junto com as novas amigas procurando um espião na cidade, conhecido como Cascavel. Abilene é amável, esperta e não tem medo de se meter em confusões e é para pagar uma dívida com Srta. Sadie, uma vidente, que ela conhece Manifest dos anos de 1917-1918.


O maior sentimento que a leitura desperta é empatia, não só por Abilene, mas por todos os personagens da história. Todo mundo tem um passado e em alguns casos esse passado pode ser doloroso e difícil de ser visitado, todos fazem concessões pensando ser o melhor, mas nem sempre essas escolhas são fáceis. Uma leitura que vale a pena ser realizada, assim como "Em algum lugar nas Estrelas" (para ler a resenha clique aqui).


Já leu? Tem interesse? Me conta nos comentários vou amar saber a sua opinião.
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HQs/Mangás

Resenha: Persépolis

25 março


Título: Persépolis - completo
Editora: Quadrinhos na CIA.
Páginas: 352
Ano: 2007

Na época das eleições para presidente no Brasil, vi uma imagem em que fazia uma comparação das mulheres antes da revolução islâmica e após no Irã. Confesso que não fazia ideia sobre a história do país e posso dizer, com um pouco de vergonha, que pensei que o regime islâmico sempre existiu por lá. Fui pesquisar mais sobre o tema e cheguei então a graphic novel (romance gráfico) ilustrado e escrito por Marjane Satrapi, uma autobiografia retrata sua perspectiva e os efeitos de uma guerra da infância a sua vida adulta em ordem cronológica.

A história se inicia na década de 1980 quando Marjane era uma criança que sonhava em ser profetiza e conversava com Deus constantemente, mas em seu país começava a revolução islâmica que entre outras coisas obrigava o uso do véu para as mulheres, meninos e meninas deveriam estudar separados, ensinamentos religiosos nas escolas e diversas outras regras em prol da religião islâmica. Seus pais sempre liberais, falavam abertamente sobre política e na década de 1970, participavam ativamente de movimentos contra o regime ditatorial comandado com pelo xá Reza. Com o regime islâmico instaurado no país a guerra ganhou cada vez mais espaço. Atrocidades aconteciam a todo momento e até mesmo uma casa do bairro onde Marjane morava foi bombardeada, os pais optavam para manter seus filhos seguros enviá-los para fora do país. Marjane permaneceu no Irã até os quatorze anos, seus pais decidiram enviá-la para a Áustria para ter uma boa educação. Uma criança morando sozinha em um país estrangeiro, abalada pela guerra e a distância dos pais, obviamente passaria por grandes desafios, além dos dilemas já típicos da adolescência.

Marjane Sartrapi não economizou na hora de retratar sua vida de forma sincera, abordando todo o seu processo de amadurecimento, momentos em que levaram-a contestar a existência de Deus quando seus sonhos de infância deixaram de ser realidade, quando seus heróis mudaram, quando a adolescência conturbada longe dos pais ficou cada vez mais difícil e quando em sua vida adulta demorou um tempo para reencontrar sua essência que era tão clara ainda na infância, mas que se viu cada vez mais distante ao longo dos anos. A leitura é bem diversificada e em alguns momentos até mesmo engraçada, mas sempre reflexiva. Uma graphic novel enriquecedora sobre uma cultura que pouco conhecia e tão distante da minha realidade. Recomendo essa leitura para todos que gostam de história, ou mesmo, para quem não gosta, provavelmente a forma leve como a autora coloca os fatos irá garantir que a leitura seja de fato surpreendente.
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Intrínseca

Resenha: A forma da água

11 março



Olá leitores! As últimas semanas foram bem tumultuadas e acabei me afastando um pouco do blog e aos poucos estou voltando a ativa. Hoje venho falar do livro "A Forma da Água" dos autores Guillermo Del Toro e Daniel Kraus, um romance totalmente "fora da caixa" e que me surpreendeu. Eu sei, o filme de 2017 com suas diversas indicações ao Oscar (ganhador da estatueta de melhor filme de 2018) colocou a história em evidencia e com certeza em algum momento do último ano alguém ouviu sobre a faxineira muda que se apaixona por um ser aquático, ao mesmo tempo que parece ser inviável traz uma mensagem importante nos tempos de intolerância que ainda vivemos. Acreditem se quiser, mas ainda não vi o filme e evitei de todas as formas buscar mais informações sobre o mesmo para evitar os temidos spoilers, logo iniciei a leitura de mente aberta e as surpresas foram grandes. Tendo em vista esse fato irei me ater somente ao livro e não em compara o filme ao livro.

Strickland foi o militar responsável pela captura do ser aquático que também é conhecido como Deus Branquia. A situações que o militar viveu, antes e após sua estadia na floresta amazônica, favoreceu para que se tornasse um ser humano sem escrúpulos e com pensamentos assustadores. Ele vive em uma espécie de redoma, onde tudo gira em torno de si próprio e nunca leva em consideração a família que tem, que por sinal vem sendo negligenciada por anos. Sua esposa, Laine, vive em um relacionamento tóxico que a mantém entorpecida e muitas vezes sem reação, seus filhos também já trazem os reflexos no comportamento devido a forma como o pai os tratam.

Elisa é órfã, muda e trabalha como faxineira na Occam, um departamento de pesquisas secretas situado nos Estados Unidos. É no local de trabalho, em uma área de acesso restrito, onde conhece o ser aquático que a encanta, ela não compreende de cara o que de fato atrai na criatura, mas logo se sente conectada à aquele ser. Mesmo sabendo da força e do que a criatura é capaz, Elisa se sente segura ao seu lado e se esforça para ganhar sua confiança.

Outros personagens ganham destaque ao longo da trama como os amigos de Elisa: Gilles e Zelda. Os dois possuem uma contribuição grande na história, são amigos fiéis e estão dispostos a ajudar a amiga que se encontra perdida com tudo que está acontecendo. Hoffstetler um cientista russo que está infiltrado no departamento de pesquisa também possui um papel de destaque na história, onde vive em conflito entre o que acha certo e o que lhe é solicitado pelos russos.

O livro traz a tona questões como o preconceito, racismo, machismo, intolerância e violência domestica, enfim, temas que estão cada vez mais recorrentes na literatura e no cinema e servem como alerta levantando uma bandeira para discussão sobre o que é saudável e o que não é. Ao mesmo tempo que determinadas situações chocam e causam aversão em quem está lendo, elas servem para sensibilizar e despertar a empatia dos leitores, levando a crer que é possível reverter o mal. Os personagens ganham vida e quase instantaneamente o leitor toma conhecimento de quais as motivações os guiam e se são bons ou maus e a medida que o enredo evolui são apresentados motivos que deixam claro o que os moldaram no passado e como chegaram no estado em que se encontram.

Essa é uma leitura que acredito que não serão todos os leitores que se sentirão confortáveis enquanto lêem ou que será devorada em instantes, é necessário que a leitura seja feita em seu próprio tempo e compasso, dando espaço para enxergar nas entrelinhas sua mensagem, caso contrário poderá ser frustrante o processo de leitura. Ainda assim, acredito que é uma leitura que ao final irá despertar bons sentimentos em seus leitores e um certo otimismo de que é possível reverter situações ruins.
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Autografia

Letargia - O Amanhã pode ser melhor

17 fevereiro

Título: Letargia - O Amanhã pode ser melhor
Autora: Valéria Magalhães
Editora: Autografia
Ano: 2018
Páginas: 350


Olá pessoal, tudo bem? Depois de ter passado algum tempo fora do blog, estou de volta com a resenha de um livro surpreendente. Infelizmente, não consegui postar nos últimos meses, mas aos poucos tudo já está normalizando e voltaremos com as postagens cheias de novidades. Durante esse tempo, li Letargia que foi um livro enviado em parceria com a editora Autografia e não poderia deixar de compartilhar com vocês minhas impressões a respeito dele.

Kaila é uma moça muito ingênua que mora com os seus tios desde que perdeu os seus pais quando criança. Sua tia Rebeca sempre a tratou muito mal, não permitindo que ela se relacionasse com outras pessoas, nem estudasse e a colocava para cumprir todos os afazeres da casa. Porém, a vida de Kaila começa a mudar quando eles mudam para a Encosta da Serra em que agora há uma empregada na casa e seu tio iniciou o negócio em um bar em que Kaila vai ajudá-lo diariamente. Em uma noite, a jovem conhece Felipe Calado, o irmão mais novo de Humberto e ambos se sentirão atraídos por Kaila. Apesar de não acreditar no amor e não querer proximidade com Humberto por achá-lo arrogante, ambos aos poucos vão se aproximando, mas a vida de Kaila está prestes a mudar completamente de uma forma inesperada.

Letargia foi uma grata surpresa, com uma escrita maravilhosa, que trouxe muitas surpresas e reviravoltas durante a leitura. Há na trama uma mescla de clichês, que ao mesmo tempo torna o livro ainda mais interessante e a cada página lida, a autora trazia novas emoções e vida a esses personagens tão reais.

Apesar de a leitura ser surpreendente, tive dificuldade de sentir empatia por Kaila em alguns momentos. Muitas vezes a personagem busca seguir sua intuição e não pensa na consequência dos seus erros, agindo por impulsividade, além do excesso de ingenuidade acerca de algumas questões. Porém, em meio a esses acontecimentos, surge também uma nova personagem que vai amadurecendo e carregando seus aprendizados ao longo do tempo.

Letargia é um livro para ser lido com calma, para apreciar o cenário de Encosta da Serra, da alegria do seu povo, dos amores a serem descobertos, dos sonhos a serem criados e desfeitos. É um livro que se encaixa não só no gênero romance, mas também novela pela diversidade dos seus personagens. Com um final inesperado, a autora deixa o aviso de que haverá continuação. Portanto, para quem procura um romance de época diferente, sem dúvidas esse é o livro que recomendo!




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Generale

Resenha: Caveiras - Vitor Abdala

02 fevereiro


Título: Caveiras - Toda tropa tem os seus segredos
Autora: Vitor Abdala
Editora: Generale
Ano: 2018
Páginas:192


Caríssimos leitores, olha eu aqui novamente.

Passei por muuuitas mudanças nesses últimos meses e acabou que não tenho conseguido conciliar tempo suficiente para ler o tanto que eu gostaria e nem trazer para vocês algumas experiências literárias, but here I am.

E para hoje, trago uma das mais gratas surpresas do último ano. Caveiras foi um livro recebido em parceria com a Generale (obrigada Generale, muito mesmo) que a princípio eu não estava muito empolgado para ler. Acontece que minha perspectiva mudou abruptamente assim que comecei a ler este livro.

Para que vocês compreendam melhor o panorama, preciso esclarecer que ultimamente tenho tido uma abordagem diferente nas minhas leituras: Não leio mais sinopses de orelha do livro ou capa traseira antes de iniciar a leitura, não me preparo com resumos ou pré-informações da obra. Agora, na esperança de ser surpreendido, eu vou as cegas na obra, sem saber onde a leitura irá me levar.

Para quem ainda não sabe, Caveira é uma obra nacional que aborda a realidade da injustiça/preconceito da polícia do Rio com os moradores da favela (nem todo mundo ali é traficante ou bandido), tendo como protagonista o jornalista Ivo, que cobre este tipo de operação policial para um jornal local. Parece clichê ou batido para você, dado o histórico de obras da ficção nacional que retratam isso? Pois é aí que termina o meu, o seu, o nosso julgamento.

Nesta obra fantástica (uma das que guardarei na lembrança com muuuuito carinho, com certeza), Abdala aborda mito, fantasia, violência, abuso de poder, corrupção, terror, ação e muito suspense.

Resumidamente, a história gira em torno do seguinte acontecimento: Ivo vai até a favela do Caju cobrir uma operação do BOPE mas chega atrasado. Na porta da delegacia, encontra com alguns integrantes do BOPE que não querem falar nada. Para não ficar sem história para a matéria, ele ouve uma mulher que diz ter tido seu filho, Serginho, assassinado a sangue frio dentro de casa pelos caveiras sem nenhuma razão. Então, sem dar muito crédito a história mas acreditando poder ser um furo dos bons, Ivo começa a investigar a morte do Serginho e é aí que as coisas começam a ficar estranhas.

Página a página, assim como eu você vai se roer internamente para saber o que aconteceu na última investida de Ivo para saber o que está acontecendo dentro do BOPE e você, com toda certeza, vai se surpreender com o final. 

Cheio de CliffHangers a cada capítulo, se você tiver tempo, você lê este livro em um único dia (além de bom e bem escrito, ele não é um livro gigantesco) e só vai se arrepender de ter finalizado algo tão bom tão rápido.

Pela forma da escrita, tive a impressão no início, de que se tratava de alguma obra baseada em fatos reais, dada a verossimilhança da obra com os milhares de casos que vemos na TV sobre o Rio de Janeiro.

Eu até poderia falar mais, muito mais desse livro que me deu um tapa na cara (as vezes, acabamos não dando o devido valor às obras nacionais contemporâneas, e eu tenho que admitir que as vezes eu faço isso também) mas eu não quero dar spoilers e tirar a emoção que vai ser ler este livro.

É isso pessoal, recomendo demais este livro, tem tanta coisa legal que até me perco na hora de falar.
Espero que gostem, curtam e comentem e até a próxima.


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Alfaguara

Te conto um conto: O pássaro de corda e as mulheres de terça-feira

30 janeiro


Título: O pássaro de corda e as mulheres de terça-feira (presente em O elefante desaparece)
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
Ano: 2018
Páginas: 7 a 34

"Os ponteiros do relógio da mesa batiam compassadamente na placa de sustentação transparente e pareciam flutuar. O mundo é um brinquedo de cordas, pensei. Uma vez por dia, o pássaro de cordas aparecia e dava corda no mundo."

Finalmente li algo do Haruki Murakami, como me sentia estranha no mundo da literatura sem conhecer um dos autores orientais mais famosos. Murakami nasceu em Quioto no Japão após a Segunda Guerra Mundial e é conhecido mundialmente, suas obras já foram traduzidas para mais de cinquenta idiomas. E ao encerrar a leitura do primeiro conto que tive contato com ele a sensação que ficou é que o autor é realmente genial, a mistura de imaginação e realidade transcendem as páginas e encantam. Que leitura sensacional!

O que eu mais gosto dos contos é que de forma ágil encontramos muito do autor e podemos encantar ou desencantar muito rápido. Com isso dei início a leitura de "O elefante desaparece" e logo no primeiro conto já fiquei impressionada com a genialidade com que o autor liga elementos tão banais e corriqueiros com situações tão surreais de forma natural. A primeira vista fiquei intrigada e curiosa, em um segundo momento me encantei e me vi envolvida com a nova dimensão apresentada pelo autor.

Um telefonema misterioso no horário do almoço, um protagonista desempregado, um gato desaparecido, uma mulher misteriosa e um beco que mais parece estar situado em outra dimensão são alguns dos elementos que compõe o conto "O pássaro de corda e as mulheres de terça-feira". O protagonista do conto é um homem que perdeu o emprego recentemente, casado e que em um passado não muito distante já teve sonhos e ambições maiores, mas acabou pedindo demissão do seu emprego em um escritório de advocacia porque simplesmente não gostava do emprego. É quando está cuidando das tarefas domésticas que recebe o primeiro telefonema, uma mulher misteriosa que deseja acertar os sentimentos dos dois, ele não reconhece a voz, mas fica intrigado com tudo o que a mulher fala. Sua esposa também liga no mesmo dia lembrando-o de procurar o gato em um beco próximo a casa dos dois. Mais tarde no mesmo dia, recebe um telefonema mais uma vez da mulher misteriosa e dessa vez ela lhe dá provas que o conhece e o rumo da conversa acaba desconcertando-o e leva-o a desligar o telefone repentinamente. Após uma longa reflexão ele decide que deve ir atrás do gato. Já no beco outros acontecimentos surreais acontecem. Vou me deter a contar até esse ponto o que acontece no beco.

O conto narrado por outras pessoas não chega nem perto em relação ao que foi escrito pelo autor. Os fatos que diante de outros olhos parecem tão banais, nas palavras de Murakami transcende as barreiras do comum e transporta o seu leitor para uma nova dimensão que encanta, intriga e faz desconfiar o que é real. Uma leitura que valeu a pena e com certeza seguirei lendo ainda mais o autor.
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Aleph

Resenha: A mão esquerda da escuridão

26 janeiro


Conheci o trabalho da Úrsula K. Le Guin através da série de livros fantásticos "Ciclo de Terramar" e logo me apaixonei. De forma sutil a autora transpõe as barreiras impostas pelo seu tempo e vai além, quebrando tabus e mostrando que é uma autora digna de admiração. Quando comecei a ler "A mão esquerda da escuridão" fui arrebatada logo nos prefácios, um escrito por Neil Gaiman e outro pela própria autora que dá uma aula sobre ficção científica do seu ponto de vista. Se o livro ficasse só nos prefácios já iria valer a pena, mas já adianto que a obra não ficou nem um pouco para atrás.

Genly Ai é um terráqueo que foi enviado a Gethen com a missão de unir o planeta ao Ekumen, uma espécie de comunidade universal. Gethen também é conhecido como planeta Inverno, pois a maior parte do tempo eles vivem com temperaturas bem baixas, esse aspecto somado com as barreiras culturais dificultam ainda mais a missão de Genly. A organização social do planeta é de enorme beleza e intriga, lembra em muito aspectos da era medieval, as notícias ainda são acompanhadas via rádio e utilizam apenas meios de transportes terrestres. Além disso, homens e mulheres coexistem dentro do mesmo ser, os habitantes desse planeta são andróginos, em grande parte do tempo eles não possuem características específicas que os definem em um único gênero. Em um determinado período, que é chamado de Kemmer, hormônios femininos ou masculinos se manifestam e permite que assim se reproduzam. Genly Ai, por vezes, precisa vencer as barreiras que o impedem de aceitar a nova cultura que está em contato para assim concluir a sua missão.

A leitura me tomou de tal forma que me vi imersa em uma cultura totalmente diferente da nossa e com sede de saber como tudo se fecharia, as quase trezentas páginas me pareceram passar tão rápido que quando encerrei a leitura mal acreditei. O livro é todo contextualizado e vai afundo na história do planeta, os capítulos alternam entre a narrativa de Genly Ai e Estraven (um habitante do planeta) e, contos que retratam a mitologia local. A princípio não faz sentido o por que dessas histórias estarem ali, mas ao final tudo faz sentido.

Uma cultura nova choca, o novo muitas vezes é assustador e quando tudo parece insustentável o improvável acontece. A amizade que surge entre o protagonista e um habitante do planeta é de extrema beleza e mostra que a tolerância e o respeito devem vir sempre em primeiro lugar, independente dos desafios culturais ou de gênero.

Esse foi um dos livros que ao me ver é um dos mais difíceis de explanar em uma resenha, mas ainda assim fiquei com vontade de recomendá-lo. Vale ressaltar que o livro ganhou o prêmio Hugo e Nebula, prêmios de suma importância para a ficção científica. A autora ganhou esses prêmios no final da década de 1960 e início da década de 1970, uma conquista e tanto, tendo em vista a época e que pouquíssimas mulheres se arriscava a escrever esse gênero. Com uma proposta que extrapola a barreira do tempo e cria uma sociedade onde não existe a desigualdade de gênero é simplesmente fantástico.

"A mão esquerda da escuridão" é um desses livros que valeu a pena ser lido e sem dúvidas irei relê-lo mais uma vez no futuro e tenho certeza que na próxima vez ainda extrairei ainda novas mensagens. Indico a leitura para todos que gostam de ficção científica e para quem não agrada muito, porém que se intrigou com o tema. Super recomendado!
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Harper Collins

Te conto um conto: A liga dos ruivos

11 janeiro

Título: A Liga dos Ruivos (Sherlock Holmes: obra completa - Volume 1)
Autor: Arthur Conan Doyle
Editora: Harper Collins
Páginas: 272 a 293
Ano: 2016

Já faz um tempo que planejava voltar a escrever para essa coluna no blog, pois sou apaixonada por contos e acabei não lendo tanto quanto gostaria no ano passado. E para abrir com chave de ouro o ano de 2019 não poderia escolher outro autor que não fosse Sir. Arthur Conan Doyle, o criador de um dos detetives mais famosos do mundo Sherlock Holmes. O conto em questão é bem curtinho e está entre "As Aventuras de Sherlock Holmes", que compreende os primeiros contos que Doyle escreveu de Sherlock e seu amigo Watson. Na tradução da Harper Collins o título ficou como "A liga dos ruivos", mas em outras traduções um título muito usado foi "A Liga dos Cabeças Vermelhas".

Sherlock Holmes é um detetive muito peculiar que apenas com suas observações consegue chegar a conclusões surpreendentes. Inteligente, excêntrico e gosta de um bom desafio. Sua fama percorre Londres e muitas pessoas o procuram, mas são os casos mais estranhos que o instigam. Watson segue sendo um grande amigo para ele e sempre o acompanha para desvendar os casos mais surpreendentes. Quando o Sr. Jabez Wilson o procura ele não hesita em aceitar o caso e conto já começa com a clássica descrição das deduções de Sherlock sobre o homem que busca-o para desvendar um mistério. O seu cliente relata o caso dizendo que tudo começou com um anuncio de jornal que buscava um ruivo legítimo para participar de uma liga exclusiva para quem tivesse essa característica.

"À liga dos ruivos:Por doação do finado Exekiah Hopkins, de Lebanon, Pensilvânia, EUA, existe agora outra vaga que dá direito a um membro da Liga a receber um salário de quatro libras por semana por serviços puramente nominais. Todos os homens ruivos de perfeita saúde física e mental, com mais de vinte e um anos, podem candidatar-se. Apresente-se pessoalmente na segunda-feira, às 11 horas, a Duncan Ross, no escritório da Liga, Pope's Court, 7, Fleet Street."

Instigado por seu auxiliar o Sr. Jabez Wilson decide se candidatar para vaga e ao chegar no local encontra uma multidão de ruivos, porém quando chega a sua vez ele é admitido logo de cara para a vaga. O que ele precisa fazer é bem simplório, deve estar presente no escritório todos os dias das 10 às 14 horas, não pode se ausentar em nenhum momento e deve transcrever a enciclopédia Britânica. Durante o transcorrer das semanas ele cumpre a atividade e sempre recebe o seu salário por semana, até que um dia ele chega ao local e encontra um bilhete fixado na porta dizendo que a liga dos ruivos foi encerrada. Indignado e triste por não receber mais o salário semanal ele vai em busca de Sherlock Holmes para entender o que aconteceu com a liga.


Caros leitores, o desfecho desse conto é surpreendente e mesmo que eu tenha desvendado quem era o 'vilão' da história, ainda assim me peguei surpresa com o desfecho e suas motivações. Um conto para ler em uma sentada só, mas tão rico e de fácil compreensão que provavelmente irá instigar quem nunca leu nada do autor a iniciar nesse universo. Indico essa leitura para qualquer pessoa que goste de ler, sem restrição. Sir. Arthur Conan Doyle é um autor incrível e que merece estar entre as leituras de todos.

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Planeta

Resenha: O que o sol faz com as flores

07 janeiro


Título: o que o sol faz com as flores
Autora: rupi kaur
Editora: Planeta
Ano: 2018
Páginas: 256

No geral sempre começo uma resenha de um determinado livro explicando como cheguei até ele e as minhas motivações para ler, mas dessa vez quero deixar alguns trechos do livro em questão, uma pequena prova do seu conteúdo e como ele é incrível.

"a ironia da solidão
é que todo mundo sente
ao mesmo tempo
-juntos"

"você não acorda um belo dia e se transforma em borboleta
-crescer é um processo"

"por que girassóis ele me pergunta
eu aponto para o campo amarelo
os girassóis adoram o sol eu digo
quando o sol sai eles se erguem
quando o sol vai embora
eles abaixam a cabeça de tristeza
é o que o sol faz com as flores
é o que você faz comigo

-o sol e suas flores"
"como me livro dessa inveja
quando vejo você se superando
irmã eu quero ter amor-próprio para saber
que suas conquistas não são meus fracassos.
-não somos rivais"

No ano passado comecei a ler livros de poesias contemporâneas e mesmo tendo iniciado nesse universo a pouco sigo me surpreendendo. É verdade que vivemos uma vasta onda de manifestações em redes sociais de textos, poemas e afins, grande parte encontramos disponível para quem queira ler, mas ainda não valorizamos o suficiente esse trabalho. A maior parte dos autores do gênero utilizam as redes sociais como recurso para expressar a arte deles e eu acho isso incrível. É uma forma de atingir uma vasta quantidade de leitores, mas ainda assim existem pessoas que acreditam que poesia não é para elas.

Em "o que o sol faz com as flores" o leitor é convidado a explorar uma coletânea de poesias divididas em cinco categorias (ou capítulos): murchar, cair, enraizar, crescer e florescer. Rupi Kaur traz a tona dores, lembranças, sentimentos, origens, crescimento, amadurecimento e tantos outros sentimentos expressos através de palavras que tomam forma de poesia e são capazes de acolher, cuidar e confortar corações que buscam um pouco de calma em meio a uma grande tempestade. É como se sentir em casa e se deparar com as mais duras verdades expostas de forma sincera e aceitá-las como forma de crescimento para então amadurecer e seguir em frente. Um trabalho belíssimo e encantador, com ilustrações cheias de expressão e força que complementam ainda mais o trabalho da autora.

Todos as poesias são escritas apenas com letras minúsculas e a única pontuação utilizada é o ponto final, a autora escreve assim para honrar suas origens já que em gurmukhi não existe distinção entre as letras e utiliza-se apenas de ponto final. O que coloca em evidência mais uma vez um dos temas que são recorrentes em sua poesia a igualdade. As poesias dão ainda mais força para o movimento de emponderamento feminino e representam o feminismo como deve ser.

As poesias de "o que o sol faz com as flores" me comoveram e envolveram ainda mais do que "outros jeitos de usar a boca" e indico a leitura para todos, a linguagem é simples o que não deixa ainda mais belo o trabalho da autora. Vale a pena conhecer.
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Resenha

Resenha: Uma coisa absolutamente fantástica

04 janeiro

Título: Uma coisa absolutamente fantástica
Autor: Hank Green
Ano: 2018
Editora: Seguinte
Páginas:344

Olá amigos leitores! Depois de um mês para descansar estamos retornando a nossa programação normal do blog. Esse ano eu decidi começar com uma leitura bem descontraída, já fazia alguns dias que não engatava nenhum livro, começava um ou outro, mas estava com aquela sensação de ressaca literária, logo decidi procurar algo que me distraísse e motivasse retornar as leituras. Foi nessa busca que encontrei o livro "Uma coisa absolutamente fantástica" do Hank Green, o irmão do John Green (sim, o autor de "A culpa é das estrelas"). Os dois possuem um canal no youtube e como já conhecia as obras do John Green fiquei bem instigada para saber como seu irmão escreve e sendo bem sincera esperava algo bem parecido e o que encontrei foi uma surpresa.

April May é uma jovem que vê sua vida caminhando de uma forma totalmente inesperada, de um dia para o outro deixa de ser uma pessoa com um emprego pouco interessante, até mesmo desmotivada e se torna uma sub celebridade que descobriu uma escultura gigante. April quando percebe a escultura liga para o seu amigo Andy e assim gravam o primeiro vídeo sobre essa escultura que ela chama de Carl, por terem sido os primeiros o vídeo logo viraliza. Enquanto isso, esculturas similares também apareceram ao redor do mundo, ninguém sabe como elas foram instaladas e nem como chegaram, instigada e cada vez mais interessada na fama April se envolve cada vez mais nesse mistério.

Além de todo o mistério em volta desses "seres" estranhos ainda tem o envolvimento de April com toda essa história e como ela lida com a fama. Muitas vezes a forma como a protagonista se comporta é irritante e infantil, mas bem próxima da realidade atual do nosso mundo, onde a quantidade de "likes" e seguidores em redes sociais ditam padrões e se tornam essenciais. Tirando todo o fator extraordinário por trás da história essa proximidade da realidade deixou a protagonista bem palpável, o que foi um dos aspectos que me surpreendeu, mesmo ficando irritada com o seu comportamento eu consegui humanizá-la e encaixá-la em um contexto. 

Como era de se esperar os personagens do livro tem uma semelhança com os do John Green, são personagens nerds e que citam grandes referências desse universo ao longo da leitura. Os livros com personagens assim me agradam bastante e ganham pontos positivos comigo.

A história tem sim alguns defeitos, primeiro o final em aberto e sem algumas respostas, o que me incomoda porque imagino que provavelmente terá uma sequência e o segundo aspecto que me incomodou é que uma situação foi 'desfeita' e ainda não consegui concordar com o que foi proposto. Colocando tudo em uma balança foi uma leitura bem prazerosa, me tirou aquele desconforto de não estar encontrando nada que me fizesse engatar uma leitura de fato e me surpreender por proporcionar surpresas agradáveis. Eu classifico o livro como "Young Adult" creio que os jovens leitores irão aproveitar bem a história e perceber essa tênue linha de fama que existe nas redes sociais no mundo atual.

Essa é a primeira dica do ano de leitura aqui do blog, quero aproveitar agradecer a todos que nos acompanham ao longo desses anos e desejar que todos façam ótimas leituras sempre! Um livro é sempre um bom companheiro.
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HQs/Mangás

Resenha: Black Hammer - origens secretas

15 dezembro

Título: Black Hammer - Origens Secretas
Autores: Jeff Lemire, Dean Ormston e Dave Stewart
Editora: Intrínseca
Páginas: 184
Ano: 2018

Olá amigos leitores! O final do ano chegou e com ele veio também a correria, infelizmente não tenho lido tanto quanto gostaria, mas sempre que tenho um tempinho livre me dedico um pouco a esse hábito que tanto amo. Entre idas e vindas decidi ler a história em quadrinhos "Black Hammer - Origens Secretas" e posso dizer que fiquei extremamente motivada a continuar lendo a série. Jeff Lemire já é um velho conhecido do mundo dos quadrinhos de super-heróis conhecidos do grande público e dessa vez traz através de "Black Hammer" super-heróis intensos, complexos, repletos de sentimentos e bem elaborados.

O grupo de heróis teve um passado de grandes vitórias salvando o mundo, mas no presente precisam esconder seus super poderes e assim levam uma vida pacata em uma cidade interiorana. Eles estão presos a essa cidade não conseguem sair e sequer sabem o que está acontecendo em seu local de origem. O relacionamento entre eles não se encontra na fase mais tranquila, eles agem como qualquer família e possuem problemas bem similares.

A leitura surpreende por sua originalidade, mesmo com a presença de homenagens sutis aos super-heróis já conhecidos o livro não se descaracteriza e os personagens ganham vida de forma quase instantânea. A jornada a qual são submetidos ao morarem em uma fazenda do interior, se escondendo e não demonstrando quem de fato são é dura, eles se encontram cansados para manter essa máscara por muito tempo o que deixa a trama com um tom dramático na medida certa.

A ação fica por conta das lembranças do passado e o peso maior do presente é o drama que vivem internamente por trás da imagem de família tradicional que passam. Uma leitura que me surpreendeu e me envolveu em um universo totalmente fora da minha caixa, saindo da zona de conforto. Por mais que os quadrinho estejam inseridos no meu cotidiano ainda me considero leiga perante a esse universo e ainda tenho muito o que explorar, mas posso afirmar que essa HQ vale a pena conhecer.

Com relação ao acabamento e a estrutura estética da edição não tenho sobre o que reclamar, a HQ é confeccionada em capa cartão e suas ilustrações são coloridas. O trabalho gráfico está maravilhoso, as ilustrações impecáveis e conferem uma maior originalidade para a leitura. Encerro essa resenha reiterando que é uma ótima leitura para quem gosta de HQs e para quem achou a composição interessante, provavelmente irá se surpreender.

Já leu? Ficou interessado em ler? Não gostou? Me conta nos comentários o que achou sua opinião é muito importante.
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Planeta

Resenha: Mil beijos de garotos

26 novembro


Título: Mil Beijos de Garotos
Autora: Tillie Colle
Editora: Planeta
Páginas: 400
Ano: 2017

Olá leitores! Hoje a resenha é do livro "Mil beijos de garotos" da Tillie Colle, enquanto eu o lia sua história me lembrou dois filmes clássicos (não vou dizer antigo)  que foram reprisados diversas vezes na sessão da tarde durante a minha infância "Meu primeiro amor" e "ABC do amor" (para ser justa, o último não tão antigo, risos), ambos trazem personagens que descobriram o amor em sua forma mais pura ainda na infância e tão cedo também sofreram de amor. Como adoro esses filmes por consequência também adorei o livro.

Poppy e Rune se conhecem ainda na infância e de uma forma inexplicável se tornam imediatamente inseparáveis. Aos oito anos, Poppy recebe de sua vó como o último desejo dela um pote que contém mil papéis cortados em forma de coração, eles devem ser preenchidos descrevendo todos os beijos que fizerem o coração de Poppy bater mais rápido a fim de eternizá-los. Poppy aceita a missão (ou aventura como ela mesma descreve) e não quer demorar a começar. É nesse momento que Rune percebe que não quer ver Poppy beijando outra pessoa e assim nasce o amor entre eles. Aos quinze anos eles se separam pela primeira vez desde que se conheceram, Rune precisa retornar ao seu país de origem junto com a família. Essa separação deixou o coração dos dois partidos e agora após dois anos separados eles se encontram novamente, mas precisam enfrentar outros obstáculos para enfim permanecerem juntos.

"Mil beijos de garotos" é um livro que aquece a alma e nos permite acreditar que o amor pode sim superar todas as distâncias e que é um sentimento inexplicável que pode chegar em qualquer idade. A história do livro pode soar um tanto melancólica, mas a sua beleza reside na força do amor dos protagonistas que vem desde a infância. Uma história que remete às histórias de amor clássicas onde o amor transcende as barreiras do que é possível explicar e é um sentimento tao forte e belo que é capaz de comover até mesmo os corações mais duros.

A escrita é delicada e cheia de sensibilidade, o livro pode ser lido rapidamente devido a forma fluida que a autora utiliza para compor seu enredo. Uma história que tinha tudo para ser triste, mas se mostra bela e confortante, seus elementos bem dosados conferem um equilíbrio a obra que enche de esperança e encanta. "Mil beijos de garotos" superou as minhas expectativas que a princípio seria apenas mais um romance voltado para o público adolescente e que muito pouco viria acrescentar algo em minhas experiencias literárias e para a minha surpresa me encantei e emocionei ao longo de suas páginas. O enredo é simplista mas ainda assim consegue alcançar seu objetivo. Fiquei muito feliz de ter tido a oportunidade de lê-lo e recomendo-o a todos que gostam de um velho e bom romance que remete aos clássicos da sessão da tarde e jamais deixam de encantar.

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Paralela

Resenha: Coração Granada

12 novembro

Titulo: Coração-Granada
Autor: João Doerdelein
Editora: Paralela
Ano: 2018

Sempre considerei muito difícil falar de livros de poesias, falar de sentimentos é algo tao único que em hipótese alguma conseguirei descrever de forma nítida a mensagem que o autor quis passar em seu livro. Porém, consigo expressar um pouco do que sentir durante a leitura e creio que essa experiencia por si só pode ajudar outros leitores a buscar um livro de poesia para ler. Preciso começar confessando que estou viciada em ler livros do gênero, sempre que encerro uma leitura logo começo outra de poesia, foi assim que cheguei em "Coração-Granada" do João Doederlein ou como é mais conhecido no instagram @akapoeta.

Em pauta um tema que não é tao usual na literatura, a ansiedade. É difícil lidar com a tempestade que acompanha as crises de ansiedade em um mundo onde tudo é urgente, onde as pessoas tem milhares de amigos nas redes sociais e ao mesmo tempo possui pouquíssimas pessoas com quem pode de fato contar para olhar nos olhos ou simplesmente contar sobre como foi o seu dia. Junto com tudo isso ainda é necessário lidar com rejeições e amores não correspondidos. É impossível não se transportar para dentro do livro e sentir como se as palavras se encaixassem como uma luva para o nosso dia-a-dia.

A sinceridade como o autor aborda os dois temas centrais da trama, o amor e a ansiedade, é surpreendente e corajosa. O autor se expõe mostrando uma maturidade que é construída aos trancos e barrancos após grandes decepções e como a ansiedade muitas vezes toma conta dele. Comecei a leitura de forma tímida e de repente estava totalmente imersa nas palavras de @akapoeta e procurando mais poemas. Dos pequenos aos mais extensos todos dotados de muito sentimento, os verbetes que são colocados ao longo do livro complementam e enriquecem a leitura. Uma escrita fluida e de fácil entendimento, não é por acaso que seu instagram conquistou mais de um milhão de seguidores.

"Coração-Granada" surpreende pela delicadeza e a força que as palavras ganham ao descrever sentimentos tao comuns e situações pelas quais todos uma hora ou outra já passou ou mesmo irá passar. É um processo de amadurecimento constante retratado de forma de poesia o ressignificados de verbetes que vale a pena tomar conhecimento, mesmo pelos leitores que não estão tão habituados em ler poemas.


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Harper Collins

Resenha: Sou Péssimo em Inglês

09 novembro

Título: Sou Péssimo em Inglês
Autora: Carina Fragozo
Editora: Harper Collins
Ano: 2018
Páginas: 138
Classificação: 

Já tem uns dois anos que acompanho o canal da Carina Fragozo, e fiquei super animada quando fiquei sabendo do lançamento do livro. Já tem algum tempo que venho lendo em inglês, inclusive já dei dicas de livros no blog e hoje posso dizer que mesmo tendo muito pra aprender ainda já que o inglês é uma língua que está constantemente em mudança, posso dizer que me sinto feliz pelo que já alcancei.


De uma forma bem dinâmica, Carina propõe em cinco capítulos, diferentes formas de estudar o idioma, com dicas para quem não sabe por onde começar até para quem já está mais avançado e não percebe mais os aprendizados. Em cada capítulo há diferentes dicas, com foco em treinar o listening, speaking, reading e writing.

Não é um livro de ensino da língua inglesa, mas sim como aprendê-la, iniciando pelas metas do que se quer alcançar ao estudar o idioma, até como mantê-la sem precisar sair do Brasil. De fato, aprender a estabelecer esses objetivos podem fazer uma diferença imensa no aprendizado, mas acima de tudo é preciso iniciar e tomar uma atitude em relação à organização do tempo para que ocorra de forma diária.

Carina traz exemplos de sua história enquanto aprendia o inglês e a maioria das dicas dadas para o aprendizado eu já conhecia por acompanhar o canal. Além disso, ela relata pesquisas sobre diferentes formas de aprender, como está o ensino hoje no país, sobre a pronúncia, idade e tantas outras.

Sou Péssimo em Inglês foi uma grata surpresa e uma leitura incrível, que serve como um guia para todos aqueles que querem estudar o inglês. Não dá pra ler somente uma vez, tem que consultar de vez em quando para melhorar as habilidades que estão sendo desenvolvidas. É uma leitura que recomendo para todos aqueles que querem iniciar seus estudos, mas ainda se sentem perdidos. Para aqueles que acompanham o canal dela assim como eu, podem ser que conheçam a maioria das dicas, mas quem ainda não assistiu aos vídeos, esse livro pode tirar todas as dúvidas. Vale a pena a leitura!

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Best Seller

Resenha: Os números do amor

07 novembro

Título: Os Números do Amor
Autora: Helen Hoang
Editora: Paralela
Ano: 2018
Páginas: 280

Eu não sou uma leitora ávida por livros com conteúdo adulto, mas como estou sempre em busca de leituras que sejam de fato gratificantes independente do gênero, vez ou outra me aventuro em gêneros diferentes. Foi assim que comecei a leitura de “Os números do amor” e gostei muito da leitura. 

Stella a protagonista desse livro é bem sucedida e diagnosticada com transtorno do espectro autista. A começar por esse ponto a autora já ganhou pontos significativos comigo porque a maioria dos livros do gênero traz um CEO ou um cara muito rico que pode comprar o universo e em contrapartida a mocinha é uma mulher insegura sendo conquistada por ele. Stella tem suas inseguranças, afinal, ela não tem nenhum traquejo social, mas ela faz o seu trabalho com uma paixão admirável e se mostra muito inteligente (pois unir algoritmos e matemática não é algo simplório). Para superar a sua aversão a sexo e sua total falta de traquejo social ela contrata Michael, um acompanhante profissional, para ensiná-la a superar esse obstáculo. 

Michael não é acompanhante porque gosta da profissão e sim porque precisa do dinheiro para ajudar a sua família. Ele tem seus traumas do passado, mas tão logo se vê envolvido e encantado por Stella. O que era para ser o trabalho de uma noite vira um acordo mais extenso e os dois acabam tendo que lidar com sentimentos conflitantes à medida que vão se conhecendo melhor. 

Ler um gênero que não faz parte da minha lista de leituras habituais me mostra o quanto a leitura é democrática e como devemos despir de preconceitos literários. Achei o livro muito bem estruturado e a forma como o espectro autista foi retratado nesse livro se mostrou sincera e bem elaborada. A fidelidade veio do fato da autora ter sido diagnosticada já na fase adulta com o espectro do autismo, antes conhecida como síndrome de Asperger. 

Na contracapa traz um comentário de outra autora que classifica o livro como engraçado, triste e comovente, preciso concordar com a declaração feita por ela o livro traz a tona todos esses sentimentos. Em muitos momentos o livro traz situações divertidas e em outros sentimos a aflição dos personagens e quão difícil é para eles vencerem o próprio passado em prol do amor que sentem um pelo outro. Outro ponto que preciso mencionar é o quanto a escrita da autora é fluida, mal percebi as horas passando enquanto lia. 

A leitura se mostrou de fato agradável e recomendo para todos que gostam do gênero e para pessoas que assim como eu sempre se mantém abertos a novas experiências literárias, até porque vale ressaltar mais uma vez que o livro é classificado com conteúdo adulto.

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Galera Record

Resenha: O Problema do Para Sempre

05 novembro

Título: O Problema do Para Sempre
Autora: Jennifer L. Armentrout
Editora: Galera Record
Ano: 2017
Páginas: 392

Falar sobre negligência de crianças e sobre um sistema de adoção falido não é uma tarefa fácil e é uma realidade do mundo afora. Os traumas e as dores que as crianças podem levar consigo ao longo da vida ultrapassam as barreiras inimagináveis e é esse tema que é abordado no livro "O problema do para sempre". Narrado por Mallory Dodge, uma garota que precisou se manter calada durante a infância para se manter viva, o quão menos ela chamava a atenção para si mais se encontrava em segurança.

Mallory passou por um infância traumatizante, em que a única pessoa com quem podia contar era um menino que também havia sido adotado pela família a qual o negligenciava. Eles sobreviviam comendo restos de alimentos e sofriam agressões constantemente. Após mais um evento de negligência, aos treze anos, Mallory foi levada a um hospital vítima de queimaduras. O acontecimento mudou a sua vida totalmente e permitiu que encontrasse um lar de verdade.

Quatro anos após o terrível acontecimento que mudou de vez a vida de Mallory, ela está prestes a voltar frequentar uma escola e com novos desafios para vencer. Ela tem dificuldade para socializar com outras pessoas e mal consegue trocar palavras com eles. O que ela não esperava do primeiro dia de aula é que encontraria um velho conhecido na escola, mas ela precisa ainda encarar os fantasmas do passado e se preparar para os novos sentimentos que estão prestes aflorar.

Para quem gosta do Colleen Hoover provavelmente irá gostar da escrita de Jennifer Armentrout. A autora é muito conhecida aqui no Brasil pela saga Lux (literatura fantástica), mas que eu não fazia ideia que escrevia dramas como esse e para minha surpresa o livro me agradou bastante. De forma dinâmica a personagem principal vai ganhando vida e força, durante uma leitura agradável e ao mesmo tempo que nos leva a questionar como o sistema de adoção ainda pode ser tão falho. Por outro lado tem uma história de amor que sobrevive a todo esse caos e que merece ser vivida.

Enfrentar traumas não é uma tarefa fácil, são diversas barreiras para transpor e não é possível apagar o passado. Reencontrar o encanto que ficou perdido durante uma dura infância e voltar a acreditar no amor é ainda mais difícil. A forma como Mallory aos pouco vai passando por todos os acontecimentos e como ela comemora cada obstáculo vencido é bem desenvolvido e cada vitória dela me deixava feliz. Como ponto negativo eu deixo só uma ressalva que eu esperava que a autora aprofundasse mais no passado dos personagens, mas ainda assim a leitura superou as minhas expectativas e o saldo final foi positivo e provavelmente darei a chance para mais livros da autora.

Se você já leu algum livro da autora me conta nos comentários, vou adorar saber a opinião de vocês.
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