Companhia das Letras

Resenha: Os meninos da Rua Paulo

29 abril



Título: Os meninos da Rua Paulo
Autor: Ferenc Molnár
Editora: Companhia das letras
Ano: 2017
Páginas: 272

Livros que trazem a temática de amizade acima de tudo nunca saem de moda e não é por acaso que "Os meninos da Rua Paulo" do escritor húngaro Fenrec Mólnar se tornou um clássico da literatura aclamado por muitos e segue sendo passado de geração em geração, suas lições sobre lealdade, amizade e respeito seguem atuais. Existem diversos estudos e resenhas desse livro espalhados pela rede, basta realizar uma busca no google, inclusive se você ainda não leu o livro recomendo para deixar essa busca depois da leitura, caso contrário encontrará diversos 'spoilers'.

Os personagens desse livro são dois grupos de crianças que são rivais e que estão prestes a disputar um espaço onde os meninos da Sociedade do Betume se encontram constantemente após às aula para jogar 'pela'. Com o crescimento urbano de Budapeste, logo as crianças começaram a ficar sem espaços que outrora usavam para brincar e assim deu início a disputa entre os meninos da Sociedade do Betume e os camisas-vermelha pelo 'grund' localizado na Rua Paulo.

O enredo apesar de ser simplista apresenta um vocábulo muito rico, o que a princípio pode deixar a leitura um pouco mais lenta. Em contrapartida a medida que as cenas de ação são introduzidas é impossível deixar essa leitura de lado, o leitor é instigado a conhecer melhor esses garotos que mesmo em meio a uma 'guerra' são extremamente morais e leais um com os outros. Outro ponto que pode atrasar um pouco a leitura, são os nomes dos personagens também são um pouco difíceis de se guardar a pronuncia, mas aos poucos eles vão ganhando forma, crescendo e logo nos acostumamos com os nomes diferentes.

Um dos personagens principais o garoto Nemecsek tem um papel fundamental, mesmo sendo apenas um soldado raso da sociedade instaurada na Rua Paulo. Nemecsek conquista os leitores com a sua dose extra honra e conduta, mesmo sendo um menino franzino, logo conquista o respeito de todos e  se torna um elemento chave durante a guerra. A conduta moral dos dois grupos de garotos é extremamente rigorosa, eles conhecem e respeitam seus inimigos e mesmo com medo permanecem honrado toda a história de amizade um para com o outro e lutando pelo espaço que os concederam tantas alegrias.

O livro foi traduzido para o português por Paulo Rónai que também é húngaro, mas devido a segunda guerra mundial se instalou no Brasil e revisado por Aurélio Buarque de Holanda (sim, o mesmo do dicionário Aurélio) logo o português impecável se justifica, inclusive tem um glossário no final com os sinônimos de algumas palavras. Além disso, o livro é usado para fins didáticos e acabei ficando muito triste por não ter conhecido essa história ainda na escola.

Só posso dizer que me encantei por essa leitura e vou levá-la em meu coração por muito tempo ainda. Infelizmente, como já disse não tive a chance de ler na época da escola, mas creio que teria sido uma experiência ainda mais rica. Recomendo essa leitura independente da idade.
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Alfaguara

Resenha: Munique

30 julho

Já pensou como seria se Hitler fosse morto ou deposto antes de o início da segunda guerra? Será que haveria uma guerra? No livro Munique, ficção histórica de Robert Harris, temos a narrativa do tão subestimado acordo de Munique, assinado em setembro de 1938, tratando sobre a ocupação alemã na região dos sudetos na Tchecoslováquia.

Primeiramente, gostaria de dizer que nunca fui um grande fã de história na escola por causa do padrão de jogar uma tonelada de informações para decorar de forma desinteressante. Redescobri uma maneira de aprender sobre a história por meio da ficção histórica, que te traz informações sobre fatos mas de uma forma interessante, conectada e não empurrada garganta abaixo como um bolo de farinha seca. Isso, porque a ficção histórica traz os elementos importantes da nossa história mesclados num ambiente ficcional cheio de tramas, intrigas, aventuras e dramas. Nesse contexto, Robert Harris escreve uma história de 4 dias que se passam antes e durante o acordo de Munique. A história é contada em dois frontes: acompanhando Hugh Legat, secretário do primeiro ministro inglês na Inglaterra e também acompanhando Paul Von Hartmann, terceiro secretário do Ministério do Exterior alemão. A essa altura, a Áustria já foi incorporada pela Alemanha, Mussolini já é um grande aliado de Hitler e esse ameaça invadir a Tchecoslováquia para incorporar o território dos Sudetos, dada a quantidade de alemães que vivem naquele território e que tem migrado para a Alemanha.

Após ameaças de Hitler, o primeiro ministro inglês Chamberlain se vê numa situação complicada, uma vez que as forças armadas inglesas não se encontram preparadas para uma guerra mundial. O problema é que há um acordo de apoio à França, caso a mesma entre em conflito e a França entrará em guerra contra a Alemanha caso a mesma invada a Tchecoslováquia. Na busca pela paz, Chamberlain propõe uma conferência para acertar a transferência do território requerido por Hitler, com participação de França, Inglaterra, Alemanha e Itália, de forma a manter a paz na Europa. É importante lembrar que a primeira guerra ainda é recente e os povos ainda lembram dos horrores causados.

A questão é que Hartmann secretamente participa de um grupo que quer depor Hitler e a assinatura desse acordo de paz é um entrave para o golpe que planejam. Devido aos anseios populares pela paz , o grupo acredita que a insatisfação popular pela deflagração de uma guerra apoiaria a derrubada de Hitler. Para evitar o acordo de Munique, toda uma alavanca de contatos é movida de forma a promover o reencontro de Hartmann e Legat, amigos da época da faculdade que há muito não se falam.

O livro é recheado de tensão do início ao fim, escalando rapidamente nas páginas finais. Uma experiência única que nos deixa nervosos por toda a leitura, sem uma trégua sequer. A todo momento, o medo de dar errado, de Hitler ter um surto de loucura, de Hartmann ser preso acompanham o leitor e tornam a leitura emocionante. Também a precisão na descrição dos lugares, ruas, pessoas é impressionante. Em alguns momentos me senti andando pelas ruas da Alemanha nazista. 

Como ponto negativo da minha experiência, senti falta somente de uma nota do autor ao final do livro esclarecendo quanto do texto é real e quanto é ficção, hábito frequente e agradável nos livros de Bernard Cornwell para esclarecer a história.

Recomendo demais essa obra e o gênero de ficção histórica como fonte de entreteinimento ao mesmo tempo que de conhecimento. Une o útil ao agradável e dá uma lição para as escolas sobre educação de história.

Deixe nos comentários suas impressões e opiniões, vamos falar sobre essa obra fantástica.
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Companhia das Letras

Resenha: Carta a D. - História de um Amor

18 julho

Título: Carta a D. - História de um Amor
Autor: André  Gorz
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2018
Páginas: 112
Classificação: 

É inegável que os livros com cartas de amor são emocionantes e por vezes tão intensos que é difícil não se apaixonar pela obra e querer conhecer quem são os seus autores. Carta a D., apesar de ser um livro pequeno é denso em conteúdo porque descreve em 112 páginas uma carta de amor que merece ser lida por pessoas do mundo inteiro que já se apaixonaram por alguém algum dia. Nesse livro André Gorz abre o seu coração para a sua amada Dorine e é impossível não se deixar levar por essas páginas que tem uma das histórias de amor mais incríveis que já li.

O livro inicia com André Gorz contando em sua carta o estado atual da sua esposa e ao começar a leitura, já foi possível se encantar pelo trecho inicial. Dorine estava sofrendo de uma doença degenerativa e essa carta foi uma grande declaração de amor de André a ela pelos tempos maravilhosos que viveram e viviam juntos.

"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos e eu amo você mais do que nunca.
(Página 9)

André Gorz presenteou não somente a Dorine, mas a todos nós leitores com essa obra. Um amor que começou a primeira vista, e entre as saídas do casal discutia-se política, literatura e sonhos. Apesar de falarem línguas diferentes, pois André era francês e Dorine britânica, ambos estudaram o vocabulário um do outro e batalharam para estarem juntos em meio à realidade pós-guerra. Há referência de filmes, autores e livros que enriquecem ainda mais a carta do autor. Durante a narrativa acompanhei a história de um casal que teve seus altos e baixos, mas acima de todas as dificuldades, o amor sempre permaneceu e foi o mais forte.

A edição do livro está linda, com a diagramação simples, a fonte espaçada e a tradução impecável. A sobrecapa do livro em forma de envelope também está encantadora, sendo impossível não se apaixonar por essa edição. É difícil falar desse livro, porque qualquer detalhe é fundamental, por isso minha única recomendação é que leia. Leia para conhecer uma história de amor intensa, para vivenciar os dias difíceis, mas também maravilhosos na vida de um casal. Leia para se permitir apaixonar e apreciar o amor com outros olhos. Leia para acreditar que os sonhos são possíveis, e que a pessoa que está ao seu lado deve te apoiar mesmo quando tudo parecer tão complicado. Leia para se apaixonar novamente por quem está ao seu lado. Apenas leia.


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Companhia das Letras

Resenha: O Sol na Cabeça

27 junho


Título: O sol na Cabeça
Autor: Geovani Martins
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 120
Ano: 2018

Olá a todos, Renner por aqui de novo.

Para hoje, temos resenha sobre o livro O Sol na Cabeça do brasileiro Geovane Martins recebido em parceria com a Companhia das Letras. Dentre os livros que chegaram, eu olhei os títulos e capas apenas e escolhi esse. Por quê?  Não faço ideia. Ao iniciar a leitura, me deparei com um livro feito de treze contos curtos que abordam a realidade dos jovens moradores das favelas do Rio, uma cidade dividida entre cartão postal do Brasil e violência, beleza e pobreza e uma outra infinidade de contrastes. O livro, já vendido em 7 países e considerado um fenômeno da literatura nacional trás consigo uma mudança na forma de escrever, fugindo a diversos padrões de escrita e chocando pelo realismo da violência, do preconceito, do racismo e da pobreza vista pelos olhos atentos de um autor de origem humilde, mas com muito talento para mostrar.
A experiência de me aventurar sem um mínimo de ideia sobre o que a obra trata foi recompensador. Logo no primeiro conto, "Rolézim", me deparo com trejeitos característicos não só do carioca, mas do jovem brasileiro da periferia. Há, aqui, para muitos leitores, uma dificuldade em entender 100% da narrativa, dada a grande diferença do português formal, criando uma atmosfera de conflito de idades e realidades, tal qual o nadsat utilizado por Anthony Burgess em Laranja Mecânica com a intenção de causar estranhamento. A fala carregada de gírias específicas e escrita como é falada se torna um código de identificação do grupo. Além disso, trás à tona a realidade de um protagonista pobre querendo curtir o dia insuportavelmente quente do Rio na praia e quase encontrando a morte, algo que parece absurdo mas que acontece muitas vezes por dia em várias praias, esquinas, becos e ruas da cidade e do país. Mostra também o quão marginalizado e excluído se torna um grupo por mero preconceito. A escrita do conto em primeira pessoa trás ainda uma visão do que passa na cabeça do protagonista todo o tempo, observando tudo ao seu redor e tecendo comentários sobre.

No segundo conto, "Espiral", é possível acompanhar quase na pele como o preconceito (e provavelmente racismo) pode levar, pouco a pouco, uma pessoa a criminalidade. O narrador, desde pequeno era considerado um intimidador sem fazer esforço, sem entender o porque. Ele cresceu, sempre observando como o comportamento das pessoas da zona sul se alteravam perto dele, como era grande o abismo entre a favela e a classe média-alta vizinha. É chocante e ao mesmo tempo tem um clima de suspense. Me lembrei muito dos diversos episódios que presenciei (para minha tristeza) junto de um amigo da faculdade que sofria todo tipo de abordagem só por ser negro. É inimaginável a dor que deve permear essas situações.

 "Roleta-Russa", o terceiro conto trás a vida de Paulo, que vive com o pai somente, cujo trabalho é de vigia, tendo em casa uma arma como parte do trabalho. Almir, pai de Paulo conversou sério com a criança de 10 anos sobre a arma e sobre a responsabilidade e a confiança. A casa é basicamente um quarto com banheiro e a arma fica na cômoda da TV e claro que criança é curiosa e não tem senso de responsabilidade e perigo e que Paulo iria mexer na arma. Fiquei um pouco triste pelo fim do conto, que não é muito um fim, termina antes de acabar. O conto levanta a questão das dificuldades e necessidades que muitas vezes colocam tanto em risco dentro das casas, afinal Almir precisa do emprego e não tem onde deixar a arma, senão em casa. O medo do pior permeia a leitura do início ao fim, deixando o leitor tenso até as últimas linhas.

A história do Periquito e do Macaco é o quinto conto e retrata o abuso de poder e a violência policial das unidades de policia pacificadora (UPP) implantadas nos morros do Rio. Apesar de curto, o texto deixa a questão: A parte "pacificadora" nunca foi muito uma realidade dentro do morro e se foi, trouxe paz para quem? Não para os moradores, pelo jeito.

Alguns, como "Primeiro Dia", chegam a ser cômicos pela inocência da juventude, mudando de escola e se adaptando. A maioria não segue o padrão literário de começo meio e fim, tendo um começo que não é começo e terminando abruptamente, como seriam os trechos de relatos da vida cotidiana das pessoas.

Os nomes dos contos contidos nessa obra são, nessa ordem:
Rolézim
Espiral
Roleta-Russa
O caso da borboleta
A história do Periquito e do Macaco
Primeiro dia
O rabisco
A viagem
Estação Padre Miguel
O cego
O mistério da vila
Sextou
Travessia

Junto ao livro, veio um impresso de 4 páginas de uma entrevista com o autor, contando as origens do autor como escritor e da vida do mesmo, que contextualiza ainda melhor a obra. Guardarei esta leitura comigo com um grande carinho pelas reflexões proporcionadas. Vale muito a pena conferir essa obra nacional que retrata de forma verossímil uma realidade do Brasil que acaba sendo muito ocultada pela grande mídia.

Então é isso, comentem aí embaixo o que vocês acharam da obra e da resenha. Até a próxima.


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Companhia das Letras

#EspecialMulheres: Sejamos todos feministas

06 março


Título: Sejamos Todos Feministas
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 63
Ano:2014

Eu sempre me pego pensando em algumas questões ligadas ao feminismo, a posição da mulher na sociedade atual e o que mudou com o passar dos anos e não é incomum chegar a coclusão que é necessário mudar muitas coisas para chegar próximo ao ideal. Por que é necessário falar sobre feminismo? Por que as mulheres precisam, na maioria das vezes, sempre estarem provando que são merecedoras de um cargo ou uma profissão? Questões que a princípio parecem ter sido resolvidas com os anos de luta pela igualdade de gênero, mas que estão ali se repetindo diariamente e pior, mostrando que a igualdade está longe de ser atingida. 

Chimamanda Ngozi Adichie traz em “Sejamos todos feministas” questões como as que retratei anteriormente de forma direta, mostrando motivos do porquê precisamos mudar a nossa sociedade e que as crianças independente do gênero precisam ser criadas com novos pensamentos. A verdade que parece bobagem falar, mas o feminismo é mal interpretado pela maioria das pessoas, muitos acham que ser feminista significa não gostar de homens, ou excluí-los da sociedade, ou ainda mulheres que não gostam de maquiagem. As definições equivocadas são muitas e partem tanto de homens quanto mulheres, poderia escrever um texto só sobre isso, mas a questão que quero levantar nesse momento é que precisamos mudar essa percepção com urgência. Precisamos ter uma visão mais ampla e precisamos que todos percebam que é necessário mudar.

“Sejamos todos feministas” é uma transcrição de uma palestra feita por Chimamanda Adichie no TEDex Euston no ano de 2002, é um livro curto, direto e que pode ser lido rapidamente. Esse livro precisa ser conhecido por todos, Adichie relata de forma simples momentos em que passou por situações que comprovam que o feminismo precisa ser conhecido em seu conceito real e que nossas atitudes precisam mudar. Volto a afirmar que é necessário entender o movimento e que é possível mudar a realidade. Pode parecer um assunto ultrapassado, que as questões machistas foram superadas já faz um tempo, mas infelizmente não é.

Recomendo a leitura de “Sejamos todos Feministas” por todos, mais de uma vez, com um olhar diferente e preparado para mudar a nossa atual estrutura social. Só assim poderemos encontrar a igualdade e nos educarmos para sermos feministas. Recomendo também que busquem conhecer a autora, suas ideias, outras palestras e seus livros.


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Companhia das Letras

Resenha: A Elegância do Ouriço

16 janeiro


Título: A elegância do ouriço
Autora: Muriel Barbery
Editora: Cia das Letras
Páginas:  352

A Elegância do Ouriço foi um dos melhores livros que li em 2017 e talvez um dos mais difíceis de transmitir sua essência através de uma resenha. E mesmo depois de ter encerrado a leitura os personagens ainda continuam vivos dentro de mim, seja pela complexidade ou mesmo pelos aspectos que os tornam únicos. “A Elegância do Ouriço” é um livro totalmente diferente do que estava habituada a ler, me surpreendi e não imaginava que ia gostar tanto.
A ambientação do livro é em prédio situado em uma região nobre de Paris, seus moradores são ricos e esnobes, é nesse meio que a concierge Reneé se encontra. Simples, de origem humilde, ela gosta de levar uma vida pacata. Sempre escondeu seu gosto pela literatura dos moradores do prédio, afinal quem desconfiaria que uma senhora humilde se interessaria por livros tão densos dos mais diversos assuntos? Ela esconde esse segredo debaixo de sete chaves e está sempre observando o comportamento dos moradores do prédio de uma forma ácida e divertida.
Por outro lado, o leitor é apresentado a Paloma, uma adolescente rica que está passando por uma crise existencial e que está em busca de uma razão para seguir a vida. O que ela tem em comum com a concierge? Bem mais do que elas imaginam. As duas possuem uma personalidade bem parecida, são observadoras e estão sempre atentas a tudo que acontece ao seu redor sempre com um olhar crítico e bem posicionado.

O humor presente na leitura é ácido, crítico e muito bem construído. Os personagens adicionam o brilho a obra, os relacionamentos que a primeira vista parecem improváveis são a cereja do bolo. Diversas questões filosóficas são levantadas de forma tão leve, deixando a leitura descontraída e sem excessos. Tudo na medida certa, personagens, ambientação, aspectos filosóficos e sociológicos, críticas e posicionamentos. Um livro que com certeza irá me acompanhar por um bom tempo.
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Companhia das Letras

Resenha: Maus - História Completa

10 agosto

Falar sobre o Holocausto realizado pelo governo nazista é sempre um tema denso, dolorido e difícil de digerir, sempre que realizo uma leitura sobre o assunto me questiono como seres humanos conseguiram realizar tal atrocidade. Ter acesso a livros que documentam e relatam um momento tão trágico como esse merecem ser lido por todos para garantir que tais atrocidades não ocorram mais na história. Maus do autor Art Spiegelman é um relato biográfico sobre a vida do seu pai, Vladek Spielgeman, o que ele viveu antes, durante e pós a segunda guerra. A verdade nua e crua sobre o Holocausto Nazista expressa em quadrinhos que despertaram meu interesse da primeira a ultima página.
Os quadrinhos expressam não somente a vida de Vladek, mostram de uma forma íntima o relacionamento entre pai e filho, as dores das perdas, as memórias que Art tem da mãe e como ele lida com o fato dos pais serem sobreviventes da segunda guerra, já que ele nasceu depois deles terem passado pelos campos de concentração (incluindo Auschwitz). São inseridos outros personagens na trama como Mala a atual esposa de Vladek e Françoise a namorada de Art. Os relacionamentos familiares não são tão simples, Vladek tem uma personalidade forte e a perda de Anja (mãe de Art) por quem sempre foi apaixonado influenciou muito em como ele lida com as outras pessoas, principalmente com o filho.
A presença de Anja no livro é forte apesar de não ter tantos detalhes sobre o que ela passou, Art queria conhecer a versão da mãe e o tempo todo busca pelos diários dela, porém não tem sucesso. A mãe retratada através tanto da visão de Art quanto de Vladek como uma mulher sensível e que sofreu muito com os horrores da guerra.
Os traços do autor são incríveis, os quadrinhos são em preto e branco, o que acredito que confere uma dramaticidade ideal para a temática. O autor explora os mínimos detalhes em suas ilustrações. Acampamentos, campos de concentração, ferramentas, esconderijos e mapas tudo retratado de uma forma muito real. O título Maus significa ratos em alemão, o que combina muito bem com a trama, já que os seres humanos são representados como animais, os ratos são os judeus, porcos são os poloneses não-judeus, os sapos franceses, os gatos são os alemães e os cachorros são os americanos. Eu achei sensacional todas as ilustrações.

Esse é um livro que acredito que deve ser lido e relido várias vezes e assim ter cada vez uma nova visão da riqueza dos detalhes que o autor inseriu em cada quadrinho. Os sentimentos são expressos com veracidade, são doloridos e estão presentes em cada recordação, refletidos mesmo anos após os acontecimentos, impressos nos personagens em suas personalidades e em seus relacionamentos. Ao longo da leitura me senti como se estivesse dialogando com Art e Vladek, conhecendo-os a fundo, vendo a alma deles e sem sentimentalismo exagerado, tudo na medida ideal.
O livro ganhou o Prêmio Pulitzer em 1992, sendo a primeira história em quadrinhos (HQs) a ganhar esse prêmio. Posterior ao prêmio os quadrinhos deixaram de ser somente voltados ao humor ou ao público infantil, logo a obra abriu os caminhos para as HQs mais densas, com novas abordagens.
Maus merece destaque e deve ser lido por todos que gostam de quadrinhos e tem interesse em saber um pouco mais sobre os horrores da segunda guerra. Esse ano realizei muitas leituras incríveis e com certeza esse livro está no topo, mesmo trazendo um tema tão difícil de digerir, me apeguei a leitura da primeira a última página. Uma leitura que vale a pena ser feita e recomendo a todos. 
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