Stephen King

Resenha: Achados e Perdidos

01 outubro



Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4,5/5 estrelas
Páginas: 352

Estamos de volta com a rádio King. Na programação de hoje temos Achados e Perdidos, parte 2 da trilogia Bill Hodges.

Como no primeiro livro, o capítulo de abertura é um ambiente isolado (mas relacionado) do restante da trama. Por um momento (um longo momento) você vai achar que achados e perdidos não tem nada a ver com Mr. Mercedes, e não tem mesmo.

Logo de ínicio, é 1978 e temos uma invasão domiciliar numa região mais rural, protagonizada por 3 jovens em roupas de esqui na casa de um escritor famoso que é muito recluso. John Rothstein é um best seller do The New Yorker devido ao sucesso dos livros de Jimmy Gold, que acha que os jovens que invadiram sua casa estavam apenas procurando dinheiro fácil. Mas ele estava enganado porque, a exemplo do que acontece em Misery, o fã número 1 de John Rothstein orquestrou a invasão visando justamente os escritos inéditos que imaginava que John Rothstein havia produzido ao longo dos 10 anos desde a última publicação.

Morris Bellamy foi mantido em um reformatório durante a adolescência justamente por invasão de domicílio e, após ser liberado por completar maioridade, resolveu invadir a casa do seu escritor favorito porque estava insatisfeito com o destino que Jimmy Gold havia tomado no terceiro livro da trilogia.

Após encontrar o dinheiro e os livros, um ato terrível é cometido e Bellamy foge com os espólios, sem ser descoberto pelo seu crime. Ele procura um antigo amigo que havia indicado que os livros inéditos valeriam muito no mercado de colecionadores, mas este mesmo amigo se mostra nervoso e desesperado quando Morris conta o que fez.

Assim, só resta ao Morris paranóico esconder o dinheiro e os livros. Mas ele sai de si e acaba preso, não por causa de Rothstein mas de um estupro.

2010 - Uma das famílias que sofreram com o ato do Assassino do Mercedes (livro 1) é a de Peter Saubers, que curiosamente mora na mesma casa que Morris morava antes de ser preso. As coisas não andam bem desde que o pai de Peter ficou aleijado devido ao massacre do City Center: Ele não consegue trabalhar, briga com a esposa e falta renda para a família. Por acaso, Peter encontra um tesouro escondido no fundo de casa, um tesouro que pode salvar a família da ruína.

A história fica alternando entre a infância e juventude de Peter Saubers com o dinheiro e livros achados e os anos de força e virilidade de Morris Bellamy perdidos na prisão, sem nenhuma menção do livro 1, exceto pelo fato de o pai de Peter ter sido vítima da primeira tragédia.

Entretanto, as coisas não estão para ficar assim porque o dinheiro encontrado está para acabar, mas os gastos da família Saubers não, e com isso Peter precisará tomar atitudes mais ousadas para ajudar a família, colocando em risco muitas vidas.

É aí que entram nossos queridos detetive aposentado Bill Hodges e sua fiel ajudante Holly Gibney.
Eles surgem para ajudar Peter e daí para frente o livro acelera de uma forma impressionante.

Uma das coisas curiosas desta trilogia é que King revisita diversos de seus sucessos: Em Mr. Mercedes ele faz jus aos seus livros de carros assassinos, já em Achados e Perdidos há uma remontagem clara de Misery, com o fã obcecado pelo protagonista de forma que quer obrigar o autor a escrevê-lo como ele gostaria que fosse.

Outro ponto chave é que livros do mestre King geralmente começam lentos e quase entediantes mas tendem a acelerar ao longo da leitura, chegando em um ponto em que é quase impossível parar de ler de tanta emoção e curiosidade. A trilogia não fica para trás: Na verdade ela acelera mais rápido do que a maioria dos livros dele e acaba sendo uma leitura muito rápida e empolgante. 

Por último: As coisas acontecem... Pode até parecer que inventaram isso hoje (As Crônicas de Gelo e Fogo por exemplo) mas neste livro, as coisas acontecem. Pessoas importantes morrem inesperadamente, as coisas dão errado para o protagonista, a salvação final fica por um fio e a esperança é depositada no acaso, caro leitor.

E nunca se esqueçam, amiguinhos: "ESSA MERDA NÃO QUER DIZER MERDA NENHUMA"

Se você ainda não leu esta trilogia de Stephen King, saiba que está perdendo um tempo valioso. Se já leu, comenta aí o que achou do livro e da resenha.


Até a próxima.


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Stephen King

Resenha: Mr. Mercedes

15 abril


Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4/5 estrelas
Páginas: 400

Olá rascunheiros e rascunheiras, leitores apaixonados por essa experiência maravilhosa que é conhecer outros mundos. Estou aqui mais uma vez para falar de um autor nada conhecido que figura entre os meus favoritos e que eu quase não falo por aqui: Stephen King. (rsrsrs)

Nosso querido autor escreve e publica mais rápido do que conseguimos ler, mas estamos correndo atrás para alcançá-lo. E hoje vamos falar sobre o primeiro livro de uma sequência bem recente dele, iniciada em 2013: Mr. Mercedes.

Esta história (junto com os outros dois livros que vêm na sequência) tem menos elementos de terror e mais de ação/aventura/investigação. Chamada de trilogia Bill Hodges devido a um dos protagonistas, a história do primeiro livro gira em torno de um caso de assassinato não resolvido pelo detetive aposentado Bill Hodges.

No fim da crise imobiliária dos EUA, muitas pessoas desempregadas se apresentaram cedo na fila para tentar um emprego dos que seriam oferecidos pelo evento promovido pela prefeitura de uma cidadezinha do meio oeste. Mas alguém na cidade não estava disposto a permitir que estes empregos fossem distribuídos e, de repente, um mercedes acelera em direção à fila do City Center sob a neblina do início do dia e mata diversos desempregados, ferindo ainda mais.

William Kermit Hogdes, mais conhecido por Bill, era um detetive e esteve envolvido na investigação do caso que ficou conhecido como o massacre do City Center. Aposentado um pouco depois sem resolver este e alguns outros casos, o mesmo vivia uma vida monótona. Até que um dia, recebeu uma correspondência que reacendeu sua vontade de pegar aquele que ficou conhecido como O Assassino do Mercedes.

A história envolve ainda vizinhos de Bill e a família da dona do mercedes que foi usado no massacre.
Numa construção que eu gosto muito, King alterna entre as perspectivas de cena de Bill e de Brady Hartsfield nosso (não tão) querido assassino do mercedes. O garoto, perturbado (provavelmente pelas relações familiares) acompanha de perto a aposentadoria de nosso det. apos. pois trabalha em um carrinho de sorvete além de ser técnico de computadores.

Para aqueles que ainda não sabem, King já teve muitas experiências traumáticas ao longo da carreira, uma delas quando foi atropelado e quase morreu. Desta experiência surgiram alguns carros assassinos de suas obras como Christine, From a Buick 8 e, mais recentemente nosso Mercedes. 

Além deste, diversos outros easter-eggs rondam a obra, como o fato de Brady usar uma mascara de palhaço durante o massacre. Durante a investigação, um dos policiais afirma: "O rosto da máscara era bem parecido com o de Pennywise, o palhaço do filme.” Ahh, os elementos de capa também contam bastante coisa. Se vocês procurarem na internet pelo local de mensagens Under Debbies Blue Umbrella, irão encontrar uma página (creeepy). Eles não aceitam novos usuários mas se você entrar com a senha kermitfrog19, vai ver o ambiente do livro.

Ao longo desta caçada, Bill encontra amigos em pessoas inesperadas, coisas ruins acontecem de verdade e o seu ar vai desaparecer quando descobrir o que Brady Hartsfield planejou como gran finale da sua carreira de assassino. 

Se você ainda não se convenceu, leia o primeiro capítulo, porque diferente de muitos outros livros de King, este engata logo nas primeiras páginas.

Até a próxima pessoal.

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Ficção Científica

Resenha: O Tempo Desconjuntado

24 setembro

Título: O Tempo Desconjuntado
Autor: Philip K. Dick
Editora: Suma de Letras
Ano: 2018
Páginas:272
Classificação: ✭ 

Fala pessoal, cheguei com resenha nova pra vocês. A obra de hoje foi recebida em parceria com a Cia. das Letras, pelo selo Suma e foi escrita por nada mais, nada menos que Philip K. Dick, um dos cânones da ficção científica. Ele é autor de alguns dos maiores nomes do gênero, como "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" (livro que deu origem a Blade Runner, filme de Ridley Scott), Ubik e os Três Estigmas de Palmer Eldritch. Alguns bons filmes de ficção científica foram baseados em obras de Dick, como Minority Report (recomendo muito esse filme, com Tom Cruise) e este livro é um mindblowing bacana para os amantes de sci-fi. Vamos a obra.

Raggle Gumm ganha a vida de uma maneira diferente da maioria das pessoas. Ele responde todos os dias a um concurso do jornal que funciona parecido com um batalha naval. Há um mapa dividido em quadrantes e ele precisa acertar a hora e o lugar do concurso "onde o homenzinho verde vai aparecer agora". É um trabalho árduo, mas rende mais dinheiro do que o trabalho do seu cunhado Victor Nielson, com quem ele mora. Na casa, ele (Raggle), a irmã Margo, o cunhado Vic e o sobrinho Sammy levam uma vida tranquila dos anos 50. Ocasionalmente, recebem visitas dos vizinhos Will e June Black e passam algum tempo juntos. Há todo o julgamento que existe em torno de trabalhos não-convencionais como o de Raggle e as discussões e troca de farpas permeiam as rodadas de poker da família com os Black. Mas num certo momento, Vic vai ao banheiro se sentindo mal e de repente procura por um fio com interruptor (dessas que descem do teto) para acender a lâmpada e não encontra, e então se dá conta de que não há nenhum desse tipo na sua casa. Então de onde veio este reflexo? Victor fica perturbado e compartilha com a mesa, mas o assunto logo morre e eles voltam ao jogo. Mas Raggle, não esquece desse estranho acontecimento, afinal algumas vezes ele também passou por isso. 

Página após página, capítulo após capítulo, a curiosidade preenche a mente de Raggle Gumm (e a de nós leitores, sedentos por explicações) e ele vai em busca de explicações para os estranhos eventos que tanto ele quanto Vic tem presenciado. E acreditem, a curiosidade de descobrir as respostas pode consumir você leitor mais do que imagina. P.K. Dick é extremamente criativo e inventivo na construção dessa (e de outras) obra, abordando polêmicas de assuntos existenciais, conceitos da física e do funcionamento do universo, além de dilemas morais e uma infinidade de temas distintos. Você pode até criar suas teorias (o que certamente todos fazem) e tentar descobrir o desfecho deste livro, mas te garanto que jamais irá adivinhar 100% do resultado e já vos adianto: Que desfecho terrivelmente saboroso. Finalizar este livro é um prazer difícil de explicar. É uma leitura rápida e extremamente recomendada. E se você ainda não se convenceu, saiba que a edição é nova, muito bem elaborada e vem em capa dura com uma excelente arte de capa que vai encantar até os mais céticos do universo sci-fi.

Como última recomendação, gostaria de deixar aqui um hábito que tem se tornado frequente para mim enquanto leitor e que tem sido uma ótima experiência: De vez em quando, entre direto na leitura, não leia resenhas, rodapés, orelhas de capa, sinopse na capa traseira, nada. Mergulhe na experiência de um novo livro sem fazer a mínima ideia sobre o que ele trata, é muito mais satisfatório ir descobrindo aos poucos e torna a leitura ainda mais prazerosa. Muitas vezes, criamos teorias e conceitos enviesados pela sinopse/opinião alheia e acabamos seguindo esse rumo durante toda a leitura. Leia primeiro, busque extras (resenhas, rodapés, sinopses) depois.

É isso pessoal, espero que curtam a resenha, a obra e as sugestões. Deixem aí nos comentários a opinião de vocês, a gente aqui do blog gosta bastante.  Fui!



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Parceria

Resenha: Interferências

09 julho


Interferências foi um livro que me despertou o interesse desde o momento em que vi a sua capa entre os lançamentos, ele combina dois elementos que gosto muito em livros, comédia romântica e ficção científica. Porém, acabei me deparando com algumas críticas negativas que me fizeram adiar um pouco a leitura. A curiosidade acabou falando mais alto e decidi intercalar a leitura de Interferências com outro livro que já estava lendo. Como resultado, ele acabou furando a fila totalmente e o outro livro acabou ficando um pouco para escanteio nos últimos dias. Mal percebi o tempo passando ao longo de suas mais de quatrocentos páginas e se não fosse o fato que estou com pouco tempo para me dedicar a leitura, provavelmente teria lido ele bem mais rápido. Vamos ao que interessa.

Briddey Flannigan trabalha para uma grande corporação de telecomunicação. Seu namorado, Trent, que também trabalha para essa mesma empresa acabou de fazer uma grande proposta a ela, uma cirurgia que aumenta a empatia entre casais e permite que os mesmos sintam as emoções um do outro. No universo em que a história é ambientada um pedido como esse tem mais valor que um pedido de casamento propriamente dito, pois estabelecer essa conexão implica em saber exatamente como o casal se sente a todo momento.

A família de Briddey é invasiva e se opõe a cirurgia, estão decididos a fazê-la mudar de ideia. O cientista do trabalho dela também tenta dissuadi-la a não realizar o procedimento. Tudo em vão, Trent e Briddey realizam o procedimento em segredo. O resultado não é o esperado, Briddey acaba se conectando a outra pessoa.

Encarei o livro como uma grande crítica social. Nos dias de hoje vivemos um 'boom' da tecnologia, as redes sociais estão em seu ápice e as pessoas estão cada vez mais conectadas a elas. Através das telas, as pessoas expressam o que sentem, o que pensam e situações cotidianas. A aproximação se tornou virtual e os olhos nos olhos aos poucos tem se perdido, a descoberta sobre o outro se dá através de suas postagens e não mais através de diálogos.  O tempo dedicado a essas atividades é cada vez maior e a convivência fora do ambiente virtual tem se tornado cada vez menor. Em um mundo como esse não é impossível imaginar que as pessoas se sujeitariam a procedimentos cirúrgicos apenas para saber o que o outro sente, primeiro por ser bem menos trabalhoso e dispendioso do que dedicar um tempo para tentar conhecer outra pessoa e depois para identificar o que de fato é real. O que, ao meu ver, é preocupante e me faz pensar no rumo para o qual nossa sociedade caminha. Há realmente a necessidade de estar cem por cento conectados?

Devo dizer que em alguns momentos a escrita pode se tornar um tanto maçante por ser altamente descritiva, o que de fato não me incomoda, mas pode ser um empecilho para outros leitores. O desfecho, por sua vez, ocorre de forma rápida, com alguns pequenos detalhes que me incomodaram um pouco, mas no saldo final não me fizeram desgostar da história. As explicações científicas são breves e fáceis de serem compreendidas, tornando o livro bem acessível até mesmo àqueles que não gostam de ficção científica. O livro tem seus clichês como qualquer romance "água com açúcar", traz aquela previsibilidade que tanto estamos habituados no gênero, porém a crítica social leva diversos questionamentos que conferem originalidade à leitura.

Conforme já mencionei, a leitura é bem descritiva, portanto não indico para quem prefere histórias curtas e objetivas. Para quem não gosta de ficções científicas, mas gosta de livros românticos não vejo nenhum empecilho que impeça de gostar da leitura.
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Resenha

Te conto um Conto: Um bom Casamento (Escuridão Total Sem Estrelas)

02 junho

         Fala pessoal, em outubro de 2017 eu fiz uma série de resenhas sobre os contos do livro de Stephen King, Escuridão Total Sem Estrelas. Só que na correria da vida acadêmica, acabou faltando a resenha do quarto e último conto, Um bom casamento.
          Se você  não sabe do que estou falando, confira aqui as resenhas de 1922, Gigante do Volante e Extensão Justa, para entender que quando se trata da perversidade humana, parece que não existem limites e que, no momento mais escuro de uma pessoa, toda a expectativa pode ir por água abaixo.
         Você algum dia já se questionou o quão sozinho você está? Você tem filhos, marido/esposa, irmãos, pai/mãe, primos, amigos, mas ninguém está 100% por dentro da sua vida além de você. Por mais aberto e receptivo, por mais intimista que seja um casal, você nunca conhece 100% da vida, ideias e pensamentos de outra pessoa. Você pode até viver junto com alguém por 25, 50 anos e jamais saber tudo sobre essa pessoa. Um pensamento um pouco obscuro e solitário, não é? Eu me questiono com frequência, quanto  da vida de alguém que eu realmente gosto é mistério, se aquela pessoa não seria, de fato, um desconhecido para mim.
         Foi exatamente esse questionamento que Darcy se fez durante aquele fatídico dia em que estava sozinha em casa vendo TV e precisou de pilhas novas para o controle. Não encontrava em nenhum lugar da casa e foi até a garagem de Bob, seu esposo, porque sabia que lá encontraria as benditas pilhas. Bob tinha viajado para avaliar uma coleção de moedas da Segunda Guerra, era um colecionador de moedas, tinha uma paixão numismática. Estando ela sozinha, precisou ir até a garagem, que era domínio de Bob e que ela pouco conhecia, atrás de pilhas. Mas o que ela descobriu lá não foi nada agradável. Darcy, que em 2009 completara 25 anos de casada com Bob, o qual conhecera durante o trabalho na juventude e que compartilhava a mesma paixão do pai dela por coleções de moedas, jamais suspeitou que existissem segredos entre eles. Descobriu um deles tropeçando numa caixa na garagem. Espantou-se pelo fato da caixa estar fora do lugar, dada a organização quase maníaca de Bob. Espantou-se ainda mais com o conteúdo da caixa, que ela poderia apenas ter empurrado de volta para debaixo da bancada e esquecido. Mas não, viu um catálogo de tricô e quando o pegou, viu outros catálogos dela. Bob afirmava que Darcy era compulsiva por catálogos de compras (e as compras também) e a repreendia por isso. Recuperando seus queridos catálogos (que acabariam na lixeira, assim que Bob voltasse), Darcy descobriu algo que não era um catálogo. Uma revista pornográfica, e mais que isso, uma revista de sadomasoquismo. A princípio julgou ser apenas curiosidade masculina, talvez por medo da descoberta inesperada. Depois de muito pensar a respeito, decidiu deixar para lá, sabendo que para preservar um casamento de 27 anos, era preciso deixa para lá certos acontecimentos de importância menor. Empurrou a caixa de papelão com as mãos, pressionando-a contra a parede de volta ao lugar que deveria estar. Ouviu um baque surdo, e isso só a deixou mais paranóica. Não queria conferir, então voltou para dentro da casa. Atendeu um telefonema do filho falando do sucesso nos negócios. Após a curiosidade falou mais alto e conferiu o motivo do baque surdo e não gostou do que encontrou. E você leitor, também não vai gostar. 
         Parada para respirar, a escrita do King é muito descritiva, criando uma zona de suspense, além de fazer com que até mesmo os menos inventivos criem uma imagem mental do ambiente da cena do livro. É quase como ver um filme enquanto lê. Voltando ao conto, Darcy achou um pequeno esconderijo no rodapé e, dentro dele, uma caixinha de madeira que ela reconheceu como um presente  que ela dera a Bob uns 5 anos antes  para guardar abotoaduras. Abriu a caixinha e encontrou três cartões de plástico presos por um elástico. Um de doador de sangue, um da biblioteca de North Conway e uma carteira de motorista, todos no nome de Marjorie Duvall. Mas QUEM era Marjorie Duvall? Como Bob a conhecia? Porque o nome não era estranho a Darcy e o mais importante: POR QUE estes documentos estavam escondidos nas coisas de Bob?
         O desenrolar dessa história, deixo para vocês descobrirem no conto de 87 páginas e prometo que quem ler não vai se arrepender de descobrir o desfecho eletrizante. Há também um filme de 2014 baseado no conto e de mesmo nome que, infelizmente não tem uma boa nota no IMDB, confira o link aqui.
           Então é isso, fechamos aqui esse que já é um dos meus favoritos de Stephen King. Deixem nos comentários o que vocês acham que acontece na sequência e o que acharam da resenha e até a próxima. 

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Parceria

Resenha: A Incendiária

26 maio

       Título: A Incendiária
       Autor: Stephen King
       Editora: Suma
      Ano: 2018
      Páginas:448


       Fala aí Rascunheiros, tudo bom com vocês.
Passei as últimas semanas lendo uma das melhores obras de Stephen King que eu já vi e agora vim contar para vocês da minha experiência.
     O livro a que me refiro é A Incendiária, obra publicada originalmente em 1980 (em inglês) e que havia sido publicada no Brasil, mas que recentemente foi republicada pela editora Suma no selo Biblioteca Stephen King. E a obra faz por merecer ao figurar entre as favoritas do rei, ao lado de Cujo, O Iluminado e A Hora do Lobisomem. Antes de falarmos sobre a história e a escrita, cabe a mim dizer que o trabalho gráfico que a Suma tem feito nas edições da Biblioteca Stephen King é algo especial. Capa dura com uma sensação de material emborrachado, textos e arte de capa em alto relevo, excelente encadernação e todo o conforto das páginas amarelinhas (queria mandar um abraço para os artistas responsáveis pelas capas, estão lindas demais).
       Nesta obra, conhecemos tudo aos poucos (recomendo muito começar sem ler a sinopse na capa traseira, trás uma sensação totalmente nova para a leitura), descobrimos um homem fugindo com uma garotinha cansada de alguns sujeitos que estão num carro. Quando parece que eles vão ser capturados: BOOOM! Algo surpreeendente acontece e Andy e Charlie McGee conseguem escapar por pouco.
       Ao longo dos primeiros blocos, há uma alternância entre presente e passado, neste sendo contado como tudo começou durante a faculdade (os pais de Charlie se conheceram por lá), enquanto no presente temos a fuga dos dois, ainda bastante fria. As partes de passado alternam entre passado recente e passado distante. No recente, Andy relembra como tem sido a vida dele e da filha desde que começaram a fugir. No passado distante, relembra como conheceu Vicky, sua esposa, mãe de Charlie, e todos os acontecimentos que destruíram suas esperanças de uma vida normal. Particularmente, eu ficava mais interessado nos blocos de passado e em entender como tudo começou, torcendo para que os blocos sobre a fuga presente fossem mais curtos para alcançar logo o porquê dos "poderes" de Charlie e Andy.
      Como sempre menciono nas resenhas, a escrita de King é fabulosa. Me encanta pela forma descritiva que torna tudo mais real e palpável, mais cruel e ao mesmo tempo verdadeiro. Vale lembrar que, apesar do rótulo dado ao autor, este livro não é, DE MANEIRA ALGUMA, um terror. Se fosse bem classificado, seria chamado de suspense leve e (mais adequado, penso eu) ficção científica. Aos que se auto-infligem o sofrimento de não ler King, aviso que muitas das obras dele não tratam de terror de fato, então não perca a oportunidade e dê uma chance a esta obra prima.
       Ao longo da obra, é explicada toda a origem das habilidades. Ao mesmo tempo, a perseguição dos McGee é intensificada, dando aquele ritmo de suspense que cativa e nos deixa tensos. Na verdade, é essa tensão que King tem maestria em criar que deixa o livro impossível de se abandonar ou não gostar. Ele não despeja todo o poder desta obra logo de cara no leitor. Ao contrário, vai dosando, entregando cada vez mais e mais, até que o leitor se torne um dependente daquela sensação e não consiga mais parar de ler. O mesmo ocorre com os poderes de Charlie. Primeiro, pequenas demonstrações, descuidadas, não-intencionais e bem sutis. quando o primeiro arco da perseguição se fecha, temos uma amostra do verdadeiro poder da garotinha e então, tudo muda. 
       Daqui em diante, deixo a história para que os mais curiosos descubram por si próprios. Caso contasse mais, estragaria a leitura, que eu recomendo fortemente para todos. Fato é que King traz algumas alegorias nesta obra que eu mal suspeitei. Após o posfácio, há um trecho explicativo sobre a carreira do autor, sobre a mudança de editora (nos EUA) e sobre a escrita dessa obra. Há um agradecimento do mesmo à sua filha Naomi (uma garotinha como Charlie à época da escrita) por ajudá-lo a compreender melhor uma menina de uns 8-10 anos. Verdade é que King explora a alegoria de que fogo e sexo são gêmeos siameses e que a descoberta dos poderes incendiários da protagonista são esse poder que a menina descobre quando se torna mulher. Não me estenderei aqui também porque há todo um contexto dentro da obra o qual não foi citado e também esta discussão está presente ao final da publicação, mas achei muito interessante a perspectiva dessa alegoria.
       Por último, é importante se dar conta que a obra se passa num período durante a guerra fria e, nesse período havia muita desconfiança (e segundo King, acontecia de fato) em relação aos governos realizarem experimentos em pessoas, em relação a armas humanas (como o famoso Capitão América) e este assunto é predominante na narrativa da obra. Como ponto negativo, encontrei apenas o furo de não ser uma obra atemporal pela forma como é utilizado o computador, numa época em que se acreditava que esta máquina seria capaz de processos miraculosos. O recurso usado se torna quase cômico visto  hoje, pelo uso da referida máquina. Fora isso, a obra é excelente. Há também uma sensação de Easter Egg quando se descobre um reuso de um nome de personagem (algo frequente nas obras de King). Nesta obra há um certo Dr. Patrick Hockstetter, nome usado posteriormente em "It: A Coisa" para um antagonista menor, amigo de Henry Bowers, mas que foi um gatilho instantâneo em minha memória de nomes.

       É isso. Espero que gostem da resenha, comentem o que acharam e que, em breve, leiam A Incendiária que é, definitivamente, um ótimo livro. 
         Até a próxima!

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Resenha

Te conto um Conto - Extensão Justa (Escuridão Total Sem Estrelas)

03 fevereiro

Olá mais uma vez Rascunheiros. Continuando nossa caminhada pela obra de contos de King, hoje vou falar um pouco sobre Extensão Justa, terceiro (e mais curto) do livro Escuridão Total Sem Estrelas. Se você ainda não viu as resenhas dos dois primeiros, a de 1922 está aqui e a de Gigante do Volante aqui. Nesse pequeno conto de menos de 40 páginas encontramos com David Streeter, uma pessoa de vida regular que se encontra dirigindo na marginal do aeroporto de Derry (que revisita gostosa) no fim da tarde para pensar nos seus poucos meses de vida que restam, uma vez que o mesmo tem um câncer muito agressivo. De repente ele se encontra com alguém um tanto peculiar na beira da estrada, sentado numa barraquinha simples de negócios e acaba conversando com o sujeito. Na placa, o anúncio: Extensão justa, preço justo. Depois de uma conversa , Streeter acredita estar falando com um sujeito que fugiu de um hospício, uma vez que este o oferece uma extensão de vida por um preço talvez bastante razoável. Estranhando toda situação deserta (mas sem nada a perder, já que o risco era mínimo), ele fecha o acordo. O preço? Dinheiro. Entretanto o mal não pode simplesmente ir embora, ele precisa ser compensado. E nada de entregar o fardo a um anônimo, você deve repassá-lo a alguém, de preferência que você odeie. A palavra chave deste conto é: Inveja. Inveja pelo fato de o outro ter conquistado o que deveria ser dele, inveja do outro conquistar as coisas somente por meio dele. Sim, Streeter tem uma pessoa para carregar este fardo. Então o acordo começa e Streeter vê toda sua vida (não mais com câncer) dando uma guinada ascendente enquanto a pessoa a quem ele delegou o fardo vê a vida indo ladeira abaixo. Com alguns elementos de muito clichê (do tipo negociador de almas da encruzilhada), este conto trás à tona uma nostalgia de revisitar Derry (que aparece em It), os barrens, ouvir que os Streeter tem um vizinho chamado Denbrough. Além disso, faz uma linha do tempo curiosa, citando fatos para marcar os acontecimentos na vida de Streeter, como a queda das torres gêmeas em setembro de 2001, um furto executado por Winona Ryder (aquela atriz que é mãe do garoto desaparecido no Stranger Things) que foi alardeado nos noticiários, o inicio da relação de Chris Brown e Rihanna, a agressão que Chris Brown cometeu, todos esses fatos relacionados ao livro de forma a contextualizar sutilmente a obra. Apesar de não ser tão bom quanto 1922 e Gigante do Volante, Extensão Justa não é um conto ruim. Talvez incompleto (na minha opinião), mas não ruim. Você, enquanto leitor, cria uma expectativa para o final que não se concretiza, tornando inquietante a forma como a história termina. 
E se você acredita que tem andado numa maré de azar, que tudo tem amaldiçoadamente dado errado para você de um tempo para cá enquanto todo o restante prospera, cuidado: Você pode imaginar por um momento que alguém negociou o próprio fardo com Odabi na beira de uma estrada deserta e o despejou em você, como fez Streeter em Extensão Justa.
É um conto agradável de se ler e em pouco tempo já está liquidado. Na minha opinião, apesar de apresentar aquela tão citada escuridão da alma, neste conto ela é muito menos marcante. 
É isso pessoal, espero que gostem e deixem comentários aí falando o que acharam. Volto em breve pra falar do quarto e último conto deste livro. Até logo.


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Suma de Letras

Te conto um Conto - Gigante do Volante (Escuridão Total Sem Estrelas)

21 janeiro


Fala pessoal, estou de volta com essa obra maravilhosa. Nessa resenha vou falar sobre o segundo conto do livro, intitulado Gigante do Volante. Como dito na resenha de 1922 (aqui), primeiro conto do livro, há quem acredite que há momentos em que somos tomados por uma escuridão, momentos esses em que nada mais se manifesta e que o resultado certamente não será bom (ou será?). Em sinopse, Gigante do Volante é um conto de pouco mais de 100 páginas protagonizado por Tessa Jean (Tess), escritora de uma série de livros de mistério investigativo, do tipo Poirot ou Sherlock, mas com um toque de doçura, uma vez que as detetives são um clube de senhoras intitulado Sociedade de Tricô de Willow Grove. Por razões lógicas, a escritora faz palestras do tipo Meet & Greet por uma certa quantia para engordar sua "aposentadoria". Em uma oportunidade que surge muito próxima de casa e bem paga, ela se envolve numa experiência traumática que muda toda a sua vida. Resultado: Tess é estuprada e quase morta (não é spoiler, isso está na sinopse oficial do conto na orelha da capa). O momento de escuridão de Tess começa a partir desse ponto. O que fazer machucada, espancada, estuprada, sem carro no meio do nada?
Antes de mais nada, King naturalmente escreve muito bem quando o assunto é horror da psiquê humana. É possível notar isso em várias das obras dele. Outro ponto interessante é a obstinação pela metalinguagem do autor, abordando em diversas de suas obras a arte pela qual vive, vide Paul Sheldon e Tess, seus personagens escritores que estão dentro de um livro. E o mais curioso é que ele faz isso com muita naturalidade. 
Voltando para a obra e a escuridão de Tess, é importante para mim dizer que por muito tempo nunca entendi porque razão mulheres que sofriam de violência doméstica e/ou sexual preferiam não denunciar, tentavam encobrir. Bom, eu entendia, mas nunca completamente, até ler essa obra. King é preciso sobre todo o julgamento, vergonha, medo, tornando todo o porque claro como o sol no deserto. O que mais assombra lendo este conto (e pelo jeito todos os outros nesse livro) é o quanto é  palpável, possível de acontecer logo ali na casa do vizinho. Toda a confusão, a sensação de se sentir outra pessoa, se sentir suja, totalmente mudada e marcada pelo que aconteceu é algo muito triste de se ver, causa muita empatia no leitor mas é agonizante. Quando a protagonista chega em casa viva depois de tudo, precisa pensar o que vai fazer (ou não fazer nada) sobre o que sabe, o que viu, o que passou. E quando ela se decide pela vingança é eletrizante. É ao mesmo tempo excitante e preocupante, você torce por Tess, mas se preocupa com sua sanidade e com a sua vida. Definitivamente um conto imperdível, em algum ponto toma uma forma muito curiosa de livro de mistério, do tipo que vai se desvendando em partes e nos deixando boquiabertos. Ainda prefiro 1922, um conto mais viciante pela forma como foi escrito. Entretanto Gigante do Volante é uma ótima leitura, rápida e emocionante do início ao fim.

Bom galera, é isso. Contem ai nos comentários o que acharam do conto (Se leram) e da resenha, vamos discutir sobre um pouquinho. Até a próxima.

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Resenha

Te Conto um Conto - 1922 (Escuridão Total Sem Estrelas)

12 janeiro


Fala pessoal, vamos falar de terror? 1922 é o primeiro de 4 contos que compõem o livro de Stephen King, Escuridão Total Sem Estrelas.
Você sabe o que é a escuridão? Será que ela tem conexão conosco? Há quem acredite que em certos momentos somos tomados pela escuridão, momentos esses em que nada além da escuridão se manifesta em nós. Alguém pode ate tentar lhe trazer uma 'lanterna', uma 'vela' para te iluminar um pouco, mas dificilmente vai surtir algum efeito. Nessas horas, nós, seres habituados com a luz, nos perdemos em meio a escuridão e quase que certamente o resultado não será bom. King, nessa obra traz a tona momentos da mais completa escuridão na alma das pessoas, impressionando e aterrorizando pela verossimilhança narrativa.
Você que vive hoje num mundo extremamente próximo e conectado deve imaginar que nem sempre o mundo foi assim. É difícil imaginar que até hoje, principalmente nas regiões rurais, coisas estranhas acontecem e ninguém fica sabendo. Imagine antes dos celulares com câmeras serem realidade na maioria das casas, quando pessoas passavam semanas e até meses sem ver outras pessoas. O que não acontecia então em 1922, numa fazenda?
Wilfred é um fazendeiro que vive com a esposa Arlette e o filho adolescente Henry na região de Hemingford (próximo a Omaha), no estado do Nebrasca. Já nessa época, grandes companhias de criação de bovinos e suínos tomavam conta de longos trechos rurais, uma delas a Companhia Farrington. Wilfred vivia das terras que lhe pertenciam, 80 acres de terra. Wilfred era satisfeito com sua vida, até que um dia em 1922, Arlette recebe em testamento um terreno anexo a fazenda onde viviam, totalizando 100 acres, um acréscimo bem vindo às terras da família. Só tinha um problema: A esposa de Wilfred não estava satisfeita de viver ali, ela queria morar na cidade, e para tanto pretendia vender suas terras herdadas e a Companhia Farrington queria comprá-las. Para Wilfred, viver na cidade seria impensável, ele adorava o campo, viver do campo, o sossego daquele lugar. Calmamente sua esposa propõe que ele fique em sua terra, ela venda as dela e se mude com o filho. Entretanto ele também não gostaria de viver ao lado de um matadouro, perto de um rio cheio de restos de animais. A solução? Wilfred decide se livrar de sua mulher. Num momento de escuridão total, Wilfred decide manipular seu filho Henry a lhe ajudar a matar Arlette e esconder o corpo dela. E essa é a origem de todos os problemas. Depois de planejar e executar (tendo alguns problemas), ambos escondem o corpo da mulher e tentam levar a vida, mas nada mais é como antes. O filho, aterrorizado começa a ficar cada vez mais agressivo e arredio, uma vez que não conhece limites após participar de tão covarde ato. O pai, aparentemente começa a ter pesadelos e delírios, sendo atormentado constantemente pelo crime. As autoridades, tentando apurar o ocorrido visitam, investigam e nada encontram. Mas mesmo escapando da lei, a culpa continua martelando na cabeça de Wilfred, junto com os ratos, os malditos ratos. Para completar, os primeiros sinais da crise de 29 que se aproxima começam a afetar a situação financeira dos dois. A única ponta de esperança é a relação da filha do vizinho, mais rico, com Henry. Apesar de mudado, Henry se sente um pouco melhor por ter a companhia da graciosa Shannon Cotterie. Mas a escuridão, por mais que venha e tome posse do juízo das pessoas, quando vai embora sempre deixa marcas incuráveis. Os problemas vão se acumulando até chegar aos limites do suportável para cada um. O fim da história, você descobre quando e onde será logo nas primeiras linhas : abril de 1930, a confissão de Wilf sendo escrita num hotel na cidade de Omaha. Logo ele que tanto lutou para não ir parar na cidade. O relato, contado do ponto de vista de confissão é rico em detalhes (qualidade ímpar do King que dá vida a momentos pitorescos das suas obras) e faz com que a vontade de conhecer o final só cresça ao longo do relato. Não vou contar muito sobre o desenvolvimento do livro porque se você não leu, merece descobrir da forma mais legal: Lendo.
Só queria dizer que até um pouco de Bonnie & Clyde tem nessa história.
Aos curiosos apressados, a Netflix lançou um filme original de mesmo título, cuja atuação de Thomas Jane como Wilfred é excepcional e vale a pena conferir. Entretanto recomendo fortemente ler primeiro e ver depois, afinal o livro é sempre melhor né?
Deixa aí seu comentário, vamos bater um papo sobre essa história sinistra.

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Halloween

[Especial Halloween] Resenha: Jogo Perigoso

01 outubro


Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4/5 estrelas
Páginas: 336



                   Olá rascunheiros, Renner de novo aqui pra falar com vocês de terror. Isso mesmo, mês de Outubro com direito a sexta-feira 13 (yeahhh) vai ser o terror! E pra abrir esse mês, vamos falar de um livro que li em agosto de um autor que é o rei do terror. No ano passado tivemos um especial de Halloween com ele mesmo abrindo (Misery, resenha aqui).

                Hoje vamos falar de um livro um tanto controverso de Stephen King: Jogo Perigoso. Muitos fãs não gostam muito desse livro porque na época em que foi escrito (1992) King vinha numa maré de bons livros com criaturas misteriosas e esse livro é um thriller mais voltado pra condição humana de forma geral (assim como o Misery). Outros acham este livro meio arrastado, mas a verdade é que ele é um livro com muitos detalhes das cenas, com uma enrolaçãozinha que tem a função de criar aquela tensão de suspense, esperando alguma coisa acontecer. O início do livro mais parece um capítulo de 50 tons de cinza, mas assim que algo inesperado acontece, começa o livro de fato. Na minha opinião (e na de Bernard Cornwell) uma escrita muito difícil, já que é praticamente um monólogo em um único ambiente.
                A obra começa com um jogo sexual feito num rancho particular pra apimentar o casamento de um casal a beira dos 40 que dá muito errado quando a mulher (que de cara percebe-se que despreza o marido) numa reação descontrolada vê seu marido ter um ataque cardíaco e cair da cama. Nesse momento de preliminares sexuais, ela se encontra seminua e presa por algemas reais a cabeceira da cama. A partir daí vem todas as fases que uma situação complexa dessas pode gerar:
Negação – ela não acredita que ele possa ter morrido durante o ataque ou a queda e tenta gritar para que ele acorde...
Desespero – descobrindo que seu marido está morto, ela começa a prestar atenção aos sons próximos e tenta gritar para que algum vizinho escute...
Aceitação – Quando chega à conclusão que ninguém está por perto e ninguém virá ajudá-la, aceita que está condenada a definhar ali, algemada no meio do nada...
                A partir daí, começam a surgir vozes (sim, ela ouve vozes internas) com personalidades distintas dela. Uma esposinha passiva e submissa que gosta de fazer tudo para agradar o marido e ter a vida perfeita e uma mais forte, #girlpower que tenta ajudá-la a raciocinar para que ela esgote as possibilidades para tentar escapar da morte certa. Mas estar presa só traz a tona velhas lembranças enterradas por toda uma vida (a roda que range), e essas lembranças remoídas acabam ajudando em alguns pontos o caminho dela. Se e como ela consegue escapar é com vocês, pessoal, só ler.
                

                Pessoalmente eu gostei muito do livro e achei muito bem feito porque ele é muito descritivo e mesmo pessoas com pouca imaginação conseguem desenhar bem as cenas. Já pessoas como eu (uma imaginação tão vívida!) chegam a criar um filme completo na mente e devido ao teor dos temas abordados aqui (pedofilia, necrofilia, carne humana rolando, abuso sexual, etc, etc) isso se torna quase torturante em alguns pontos. Houve momentos em que eu precisei parar um minuto, tomar uma água, comer alguma coisa e esperar o estômago se acalmar para continuar. Outro ponto que chama bastante atenção de forma positiva é a acurácia realística da coisa: Os fatores do comportamento biológico (circulação sanguínea, dores no corpo), a física dos acontecimentos (a cena do copo d’água) são muito bem projetados para que pareça uma situação real e ela se torna totalmente plausível. Entretanto, é um livro bem 8 ou 80 e a maioria odeia essa obra do King, acha arrastada. Para os que não sabem, dia 29/09/17 saiu o filme adaptado dessa obra pela Netflix, o qual vai ter uma resenha aqui semana que vem, comparando as obras escrita e cinematográfica.
Bom galera, para não dar spoilers da obra, por hoje é só. Espero que tenham a oportunidade de ler este livro, mas lembrem: É para quem tem bom estômago (ou nenhuma imaginação).
Deixa aí sua opinião nos comentários e que venha o mês do Terror!
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Halloween

Especial Halloween: Misery - Louca Obsessão

08 outubro

Olá pessoal, tudo bem? Como Outubro é o mês do Halloween iremos trazer uma série de postagens indicando livros de terror e suspense. Para começar não poderíamos escolher outro autor que não fosse o Stephen King, ele é um dos autores mais notáveis do gênero. Seus livros já foram traduzidos em diversos idiomas e muitos adaptados para o cinema. A lista de contos e livros de ficção e não ficção é extensa, mas a primeira indicação será “Misery: Louca Obsessão”, abaixo segue a sinopse e algumas percepções sobre o mesmo:
Paul Sheldon descobriu três coisas quase simultaneamente, uns dez dias após emergir da nuvem escura. A primeira foi que Annie Wilkes tinha bastante analgésico. A segunda, que ela era viciada em analgésicos. A terceira foi que Annie Wilkes era perigosamente louca.Paul Sheldon é um famoso escritor reconhecido pela série de best-sellers protagonizados por Misery Chastain. No dia em que termina de escrever um novo manuscrito, decide sair para comemorar, apesar da forte nevasca. Após derrapar e sofrer um grave acidente de carro, Paul é resgatado pela enfermeira aposentada Annie Wilkes, que surge em seu caminho. A simpática senhora é também uma leitora voraz que se autointitula a fã número um do autor. No entanto, o desfecho do último livro com a personagem Misery desperta na enfermeira seu lado mais sádico e psicótico. Profundamente abalada, Annie o isola em um quarto e inicia uma série de torturas e ameaças, que só chegará ao fim quando ele reescrever a narrativa com o final que ela considera apropriado. Ferido e debilitado, em “Misery - Louca Obsessão”, Paul Sheldon terá que usar toda a criatividade para salvar a própria vida e, talvez, escapar deste pesadelo.
Onde termina a paixão e começa a obsessão? Quão tênue é a linha que separa esses dois sentimentos tão discrepantes?  No livro Misery, o mestre do terror Stephen King brinca constantemente com estes limites e nos mostra, por meio da protagonista Annie Wilkes, quão próximos estamos da obsessão e da loucura.
A protagonista apresenta um quadro de instabilidade emocional tão grande que constantemente nos vemos com pena e com medo dela a cada página virada. Paralelamente, conhecemos uma outra história totalmente dramática escrita pelo protagonista Paul Sheldon, um famoso escritor que acidentalmente foi parar na casa da sua fã número 1. Mais interessante (e intrigante) é que a paixão/obsessão de Annie é tão grande pela obra prima de Paul (Misery) que ela chega ao absurdo de querer saber coisas exclusivas de sua personagem favorita, agindo como se a mesma existisse e nesse desenrolar da história descobrimos muito sobre a personalidade de Annie Wilkes, e ficamos cada vez mais apavorados (e muito excitados no caso dos possíveis psicos obsessivos).
Pessoalmente fiquei muito grudado ao livro pelos detalhes imaginativos como a questão da letra n, a narração de futebol que me fizeram ter uma conexão especial (uma imaginação tão vívida!) com a obra. E para  você que já viu o filme e não leu o livro, saiba que a Anne do filme parece uma fada perto da do livro.
Avaliação: 4,5/5 estrelas.


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Resenha

Resenha: Antes que aconteça

24 fevereiro

Antes que aconteça é a continuação do livro Depois do que aconteceu (Resenha), a autora Juliana Parrini escreveu uma sequência eletrizante, aumentando nossa curiosidade. Se você ainda não leu o primeiro volume da série recomendo que não leia essa resenha.
O livro é narrado de forma alternada pelos protagonistas da história (Isabel, Daniel e Alex) e isso nos ajuda a compreender melhor os personagens. Isabel está mais forte, decidida e pronta para seguir em frente. Alex já não consegue ficar longe de sua amada e está decidido a reconquistá-la. Daniel segue apaixonado por Isabel, mas sua confiança é abalada pela volta de Alex.
Nesse livro ficamos divididos entre dois tipos de amor. Por um lado tem o sentimento terno de Isabel para com Alex, um amor construído pelo tempo, pela amizade e companheirismo. Por outro lado temos Daniel e Isabel um amor cheio de paixão, envolto por uma grande atração física e que foi capaz de salvar Isabel dos tempos de depressão após a grande decepção com Alex. E é esse triângulo amoroso que guia a história no segundo livro.
Isabel e Daniel vivem uma fase boa, estão noivos e tudo parece está no seu devido lugar. O que eles não esperavam era que o passado iria bater na porta deles. A volta de Alex acaba abalando o relacionamento de Isabel e Daniel. Será que Isabel está preparada para esse reencontro? Será que Daniel irá compreender essa volta? Será que Alex está realmente pronto para encarar Isabel? Qual será a escolha de Isabel? São as perguntas que nos guiam ao longo do livro.
Ao encerrar a leitura do primeiro livro fiquei extremamente curiosa para saber o que viria na sequência. A leitura do segundo volume foi rápida e me prendeu. Os acontecimentos que guiam o livro são eletrizantes, cada capítulo uma emoção nova. Um fato bem legal é que a autora inseriu ao longo do livro trechos de músicas, a trilha sonora escolhida é muito boa e vale a pena ouvir quando são citadas, é uma marca da autora em ambos livros.
Eu gostei muito do segundo livro, achei ele melhor que o primeiro, temos um amadurecimento dos personagens, uma nova percepção de quão difícil foi tanto para Alex quanto para Isabel seguir em frente. O clímax da história é justamente esse triângulo, a bagagem que vem do passado e o peso das escolhas feitas. O livro é carregado de fortes emoções e de momentos de tensão do início ao fim.
Enfim, recomendo a leitura dos dois livros para quem gosta de histórias de romances. Além do triângulo amoroso quebra tabus ao falar da esquizofrenia, é uma história de superação e coragem. Alex tem a sua vida mudada da noite para o dia quando é diagnosticado com esquizofrenia e seguir em frente é uma luta diária, ele acabou afastando a pessoa que mais amava da sua vida e é um fardo que ele carrega ao longo de todo o livro. Além disso, existem muitos preconceitos sobre pessoas que sofrem de doenças mentais. Não é possível mudar o passado, mas o futuro pode ser totalmente diferente. Vale a reflexão!
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Resenha

Resenha: Depois do que aconteceu

09 fevereiro

O livro Depois do que aconteceu escrito pela carioca Juliana Parrini marcou sua estréia na literatura e foi um enorme sucesso, logo conquistou milhares de leitores. Não tenho o costume de ler livros New Adult e embarquei nessa leitura a fim de conhecer melhor o gênero e confesso que já estou com vontade de ler a sua sequência Antes que aconteça.
Isabel passou um ano em depressão por causa de uma grande decepção amorosa. Alex foi o seu primeiro amor, seu primeiro namorado, seu melhor amigo e estavam noivos quando tudo aconteceu. O amor dos dois sempre fará parte da vida de Isabel e seguir em frente não será uma tarefa fácil.
A mãe de Isabel a abandonou quando ainda era criança e desde então foi criada pelo seu pai Pedro, o afeto entre os dois é grande e ao longo da história fica evidente o quanto eles se gostam.  Isabel cresceu em Petrópolis onde conheceu suas amigas inseparáveis as gêmeas Luci e Lua e também o grande amor de sua vida Alex. A medida que foram crescendo Alex e Isabel começaram a namorar e quando Isabel decidiu se mudar para o Rio de Janeiro para fazer a faculdade eles resolveram morar juntos.  Pedro acabou apoiando o relacionamento dos dois.
Alex em contrapartida de Isabel não possuía um bom relacionamento com seus pais que sempre foram distantes, eles obrigaram a tocar os negócios da família, além disso eram contra o relacionamento dele com Isabel. Os dois cursaram Administração, mas foi na fotografia que Isabel encontrou sua profissão, Alex por sua vez foi obrigado pelos pais a cursar a faculdade de direito.
Depois do que aconteceu no ano anterior Isabel se abateu e durante o ano que se seguiu viveu momentos muito difíceis. As gêmeas sempre estiveram presente em sua vida e a apoiaram durante todo o tempo que ela precisava, mas agora queriam que ela seguisse a vida, por isso a convencem a voltar a frequentar nas sextas-feiras o bar que sempre iam. Após essa noite decidida a retomar a sua vida no dia seguinte viaja com o seu pai pra São Paulo. Ela começa sua transformação a partir do visual e em seguida vai fotografar a Av. Paulista. Em meio a distração um “feliz”acidente acontece, o belo e atraente Daniel esbarra em Isabel e sua câmera acaba se quebrando. Decidido a comprar uma nova câmera para Isabel, convida-a para um encontro no dia seguinte e ela acaba cedendo. O encontro é perfeito e a atração entre os dois é inegável. Isabel agora tem a chance de prosseguir sua vida, mas não será um caminho fácil, ela terá que enfrentar diversos obstáculos.
A leitura do livro é bem tranquila, sua linguagem é simples e possui elementos bem atuais, o que permite uma aproximação maior com o público jovem atual. Quando a história começa a se desenvolver há uma sucessão de fatos que prendem a sua atenção e instigam a sua curiosidade. A história é guiada pela pergunta recorrente o que de fato aconteceu entre Isabel e Alex? Enfim, recomendo a leitura para as pessoas que gostam de romance, vale a pena!

Para acessar a resenha de Antes que Aconteça clique aqui.
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