Resenha: Logo,Logo: Dez novas tecnologias que vão melhorar e/ou arruinar tudo

14 abril



Autor: Kelly e Zach Weinersmith
Editora: Intrínseca
Avaliação: 5/5 estrelas
Páginas: 382


Caríssimos leitores, visitantes e demais. Por causa da grande mudança da minha vida, acabei por não ter conseguido ainda organizar a minha rotina para escrever aqui para vocês na frequência que eu gostaria.

Dito isso, trago hoje para vocês uma resenha de um livro um tanto diferente das resenhas padrão e confesso que é este o tipo de assunto que mais me inspira vontade de escrever/falar/discutir.

É importante que eu diga que, ocasionalmente eu me encontro em algum evento ou loja que vende livros a preços abaixo do mercado (festa do livro da USP, bienal, feira do livro, etc.), e nestas ocasiões eu geralmente compro algum livro que não estava namorando há algum tempo, algum livro que nunca havia visto antes, me limitando a ler a breve descrição de capa traseira. E em setembro deste ano foi isso que aconteceu com o livro Logo, Logo. Estava de férias passeando em um shopping, quando surge uma loja de livros em que qualquer livro custava 10 reais.Os títulos disponíveis não eram muitos (e geralmente nestes lugares são pontas de estoque ou livros de sequência que nunca tem o livro 1 disponível). Por sorte encontramos (eu e a Carol) os 3 primeiros livros da Mulher Maravilha escritos pelo George Perez e para eu não sair sem nenhum livrinho deste lugar mágico, decidi comprar o Logo, Logo.

É engraçado como nossas paixões nos levam a fazer certas coisas: A paixão pelos livros nos faz comprar livros que a princípio não "queríamos" e a paixão por certos assuntos nos fazem passar essas leituras na frente de outros tantos na fila.

Assim, comecei a jornada deste livro maravilhoso que trata sobre tecnologias emergentes que podem ou não vir a acontecer e que podem (ou não) mudar drasticamente a nossa forma de pensar e viver como sociedade.

Não se engane, Logo Logo não é um livro de futurologia. Ele não se propõe a prever o que vai ou não existir ou acontecer daqui a 5, 10 ou 50 anos. Este livro trás um panorama geral (com certo aprofundamento) sobre pesquisas e tecnologias que podem mudar completamente a vida das pessoas (ninguém disse que seria para melhor, ok?).

Não estranhe a piada de humor ácido com um toque de ironia acima, é este o tom do livro todo o tempo. Isso porque é um livro escrito por Kelly Weinersmith e desenhado por Zach Weinersmith. Kelly é pesquisadora da Universidade de Rice, e por isso o livro é muito bem organizado como um trabalho científico deveria ser (com referências a artigos científicos, consulta e entrevista com os maiores expoentes de cada tecnologia  de cada capítulo, índice remissivo, dentre outras coisas). Zach é um cartunista/quadrinista, ajudando Kelly (e nós leitores) a ter uma experiência literária muito educativa e ainda assim divertida (acredite, é possível) com suas tirinhas com as piadas ácidas, sombrias, irônicas e bastante nerds.

O livro aborda do macro ao micro, passando por temas como acesso barato ao espaço, mineração em asteróides, realidade aumentada, construção robótica, biologia sintética, energia de fusão, medicina de precisão, bioimpressão e interfaces cérebro-computador.

Entre o elevadores espaciais, baldes de coisas, impressoras 3D e minirobôs com comportamento de colmeia (hive mind), encontramos em cada capítulo diversas abordagens que tentam resolver o mesmo problema/desafio, sempre explicando de forma clara como funciona o método, depois abordando as preocupações, como isso mudaria o mundo, e/ou em que pé estamos agora. 

Sendo um pouco imparcial, é claro que há aqui alguns trechos que se tornam cansativos (ou por não gostar de um tema em si, ou pelo caráter muito técnico ou complexidade do mesmo), mas no geral, para pessoas que tem uma curiosidade científica e tecnológica grande, este livro é um parque de diversões maravilhoso.

Os autores, em sua maravilhosa visão de nerds/pesquisadores/cientistas nos compensam estes momentos cansativos e muito tecnicos com notas bene em cada capítulo em que são explanadas as descobertas/abordagens mais loucas, absurdas ou estranhamente ridículas daquele capítulo.

Há ainda um monte de easter eggs neste livro, sendo alguns deles encontrados no site do mesmo (www.soonishbook.com) e um capítulo final que é o cemitério de capítulos perdidos (ideias para capítulos do livro que morreram antes da edição final, em que são abordados os temas brevemente e explicados os motivos de o capítulo não existir no livro).

Resumindo, para curiosos amantes da ciência e da tecnologia, que amam descobrir coisas novas e malucas que os seres humanos mais brilhantes do mundo (os cientistas) estão trabalhando para tentar resolver os problemas de hoje, este livro é simplesmente fantástico. Dê uma chance para este livro, você vai expandir de uma forma gigantesca seus horizontes.

Se você ainda assim, não se convenceu (e se você lê em inglês) dê uma passadinha no site do livro que talvez você mude de ideia.

Sem mais para esta resenha, agradeço a você que leu até aqui e que, como eu, é um entusiasta das tecnologias emergentes. Até a próxima.


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Stephen King

Resenha: Achados e Perdidos

01 outubro



Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4,5/5 estrelas
Páginas: 352

Estamos de volta com a rádio King. Na programação de hoje temos Achados e Perdidos, parte 2 da trilogia Bill Hodges.

Como no primeiro livro, o capítulo de abertura é um ambiente isolado (mas relacionado) do restante da trama. Por um momento (um longo momento) você vai achar que achados e perdidos não tem nada a ver com Mr. Mercedes, e não tem mesmo.

Logo de ínicio, é 1978 e temos uma invasão domiciliar numa região mais rural, protagonizada por 3 jovens em roupas de esqui na casa de um escritor famoso que é muito recluso. John Rothstein é um best seller do The New Yorker devido ao sucesso dos livros de Jimmy Gold, que acha que os jovens que invadiram sua casa estavam apenas procurando dinheiro fácil. Mas ele estava enganado porque, a exemplo do que acontece em Misery, o fã número 1 de John Rothstein orquestrou a invasão visando justamente os escritos inéditos que imaginava que John Rothstein havia produzido ao longo dos 10 anos desde a última publicação.

Morris Bellamy foi mantido em um reformatório durante a adolescência justamente por invasão de domicílio e, após ser liberado por completar maioridade, resolveu invadir a casa do seu escritor favorito porque estava insatisfeito com o destino que Jimmy Gold havia tomado no terceiro livro da trilogia.

Após encontrar o dinheiro e os livros, um ato terrível é cometido e Bellamy foge com os espólios, sem ser descoberto pelo seu crime. Ele procura um antigo amigo que havia indicado que os livros inéditos valeriam muito no mercado de colecionadores, mas este mesmo amigo se mostra nervoso e desesperado quando Morris conta o que fez.

Assim, só resta ao Morris paranóico esconder o dinheiro e os livros. Mas ele sai de si e acaba preso, não por causa de Rothstein mas de um estupro.

2010 - Uma das famílias que sofreram com o ato do Assassino do Mercedes (livro 1) é a de Peter Saubers, que curiosamente mora na mesma casa que Morris morava antes de ser preso. As coisas não andam bem desde que o pai de Peter ficou aleijado devido ao massacre do City Center: Ele não consegue trabalhar, briga com a esposa e falta renda para a família. Por acaso, Peter encontra um tesouro escondido no fundo de casa, um tesouro que pode salvar a família da ruína.

A história fica alternando entre a infância e juventude de Peter Saubers com o dinheiro e livros achados e os anos de força e virilidade de Morris Bellamy perdidos na prisão, sem nenhuma menção do livro 1, exceto pelo fato de o pai de Peter ter sido vítima da primeira tragédia.

Entretanto, as coisas não estão para ficar assim porque o dinheiro encontrado está para acabar, mas os gastos da família Saubers não, e com isso Peter precisará tomar atitudes mais ousadas para ajudar a família, colocando em risco muitas vidas.

É aí que entram nossos queridos detetive aposentado Bill Hodges e sua fiel ajudante Holly Gibney.
Eles surgem para ajudar Peter e daí para frente o livro acelera de uma forma impressionante.

Uma das coisas curiosas desta trilogia é que King revisita diversos de seus sucessos: Em Mr. Mercedes ele faz jus aos seus livros de carros assassinos, já em Achados e Perdidos há uma remontagem clara de Misery, com o fã obcecado pelo protagonista de forma que quer obrigar o autor a escrevê-lo como ele gostaria que fosse.

Outro ponto chave é que livros do mestre King geralmente começam lentos e quase entediantes mas tendem a acelerar ao longo da leitura, chegando em um ponto em que é quase impossível parar de ler de tanta emoção e curiosidade. A trilogia não fica para trás: Na verdade ela acelera mais rápido do que a maioria dos livros dele e acaba sendo uma leitura muito rápida e empolgante. 

Por último: As coisas acontecem... Pode até parecer que inventaram isso hoje (As Crônicas de Gelo e Fogo por exemplo) mas neste livro, as coisas acontecem. Pessoas importantes morrem inesperadamente, as coisas dão errado para o protagonista, a salvação final fica por um fio e a esperança é depositada no acaso, caro leitor.

E nunca se esqueçam, amiguinhos: "ESSA MERDA NÃO QUER DIZER MERDA NENHUMA"

Se você ainda não leu esta trilogia de Stephen King, saiba que está perdendo um tempo valioso. Se já leu, comenta aí o que achou do livro e da resenha.


Até a próxima.


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Resenha: Amor & Gelato

06 maio



Um bom e velho clichê jamais sai de moda, não é mesmo? Ainda mais ambientado na Itália (em Florença), quer um lugar mais romântico? Acho que não existe, rsrsrs... Para quebrar um pouco do gelo do romantismo (para não ficar tão doce o livro) a protagonista mora em um cemitério, calma vou explicar tudo direitinho. Carolina ou melhor Lina é uma adolescente de dezesseis anos que perdeu a mãe recentemente para uma doença terminal e agora ela se vê tendo que morar em Florença com um pai que ela sequer conviveu antes. O que Florença reserva para ela é bem mais do quê só conhecer o seu pai, ela vai descobrir novas formas de amor e vai viver grandes aventuras revivendo os passos da mãe dela pela cidade junto com um amigo que acabou de conhecer.

Você provavelmente já deve ter ambientado todo um filme em sua cabeça só com essa breve introdução sobre o que fala o livro, do qual já adianto que não vou revelar muito mais, pois posso acabar falando mais do que deveria. Vou me ater a falar sobre a personalidade dos personagens que são bem instigantes e alguns até mesmo típicos dos clichês românticos. Por começar por Howard, quem não se apaixonaria por um cara tão simpático quanto ele? O cara é atencioso e mesmo não recebendo o melhor dos tratamentos de Lina ele age de uma forma super incrível, afinal ele não sabia da existência dela até a mãe dela adoecer. Outro personagem que conquista logo de cara é Ren, não é por acaso que ele logo se torna um grande amigo de Lina, ele é dócil, cuidadoso e um grande amigo.

Os demais amigos que Lina ganha ao chegar em Florença são os típicos de comédias românticas, mas ainda assim ganham um espaço considerável. Tem até mesmo o bonitão que no final não é nada daquilo que se espera, mas ainda assim a história se mantém super envolvente. O único porém da história é que a protagonista, por se tratar de ser adolescente, às vezes é um 'pé no saco' me desculpem a expressão, mas tem aqueles momentos que ficamos morrendo de vontade de dá um sacode nela e falar para acordar para a vida real, mas tirando isso o livro é bem gostoso de se ler.

Cuidado, provavelmente a vontade por tomar gelato durante a leitura vai ser inevitável, além de ficar com água na boca para comer muitas das especiárias apresentadas. Como disse a história tem os seus clichês, mas é deliciosa e difícil de desapegar quando inicia a leitura. Para os amantes do bom e velho clichê deixo essa super dica.
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Companhia das Letras

Resenha: Os meninos da Rua Paulo

29 abril



Título: Os meninos da Rua Paulo
Autor: Ferenc Molnár
Editora: Companhia das letras
Ano: 2017
Páginas: 272

Livros que trazem a temática de amizade acima de tudo nunca saem de moda e não é por acaso que "Os meninos da Rua Paulo" do escritor húngaro Fenrec Mólnar se tornou um clássico da literatura aclamado por muitos e segue sendo passado de geração em geração, suas lições sobre lealdade, amizade e respeito seguem atuais. Existem diversos estudos e resenhas desse livro espalhados pela rede, basta realizar uma busca no google, inclusive se você ainda não leu o livro recomendo para deixar essa busca depois da leitura, caso contrário encontrará diversos 'spoilers'.

Os personagens desse livro são dois grupos de crianças que são rivais e que estão prestes a disputar um espaço onde os meninos da Sociedade do Betume se encontram constantemente após às aula para jogar 'pela'. Com o crescimento urbano de Budapeste, logo as crianças começaram a ficar sem espaços que outrora usavam para brincar e assim deu início a disputa entre os meninos da Sociedade do Betume e os camisas-vermelha pelo 'grund' localizado na Rua Paulo.

O enredo apesar de ser simplista apresenta um vocábulo muito rico, o que a princípio pode deixar a leitura um pouco mais lenta. Em contrapartida a medida que as cenas de ação são introduzidas é impossível deixar essa leitura de lado, o leitor é instigado a conhecer melhor esses garotos que mesmo em meio a uma 'guerra' são extremamente morais e leais um com os outros. Outro ponto que pode atrasar um pouco a leitura, são os nomes dos personagens também são um pouco difíceis de se guardar a pronuncia, mas aos poucos eles vão ganhando forma, crescendo e logo nos acostumamos com os nomes diferentes.

Um dos personagens principais o garoto Nemecsek tem um papel fundamental, mesmo sendo apenas um soldado raso da sociedade instaurada na Rua Paulo. Nemecsek conquista os leitores com a sua dose extra honra e conduta, mesmo sendo um menino franzino, logo conquista o respeito de todos e  se torna um elemento chave durante a guerra. A conduta moral dos dois grupos de garotos é extremamente rigorosa, eles conhecem e respeitam seus inimigos e mesmo com medo permanecem honrado toda a história de amizade um para com o outro e lutando pelo espaço que os concederam tantas alegrias.

O livro foi traduzido para o português por Paulo Rónai que também é húngaro, mas devido a segunda guerra mundial se instalou no Brasil e revisado por Aurélio Buarque de Holanda (sim, o mesmo do dicionário Aurélio) logo o português impecável se justifica, inclusive tem um glossário no final com os sinônimos de algumas palavras. Além disso, o livro é usado para fins didáticos e acabei ficando muito triste por não ter conhecido essa história ainda na escola.

Só posso dizer que me encantei por essa leitura e vou levá-la em meu coração por muito tempo ainda. Infelizmente, como já disse não tive a chance de ler na época da escola, mas creio que teria sido uma experiência ainda mais rica. Recomendo essa leitura independente da idade.
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Stephen King

Resenha: Mr. Mercedes

15 abril


Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4/5 estrelas
Páginas: 400

Olá rascunheiros e rascunheiras, leitores apaixonados por essa experiência maravilhosa que é conhecer outros mundos. Estou aqui mais uma vez para falar de um autor nada conhecido que figura entre os meus favoritos e que eu quase não falo por aqui: Stephen King. (rsrsrs)

Nosso querido autor escreve e publica mais rápido do que conseguimos ler, mas estamos correndo atrás para alcançá-lo. E hoje vamos falar sobre o primeiro livro de uma sequência bem recente dele, iniciada em 2013: Mr. Mercedes.

Esta história (junto com os outros dois livros que vêm na sequência) tem menos elementos de terror e mais de ação/aventura/investigação. Chamada de trilogia Bill Hodges devido a um dos protagonistas, a história do primeiro livro gira em torno de um caso de assassinato não resolvido pelo detetive aposentado Bill Hodges.

No fim da crise imobiliária dos EUA, muitas pessoas desempregadas se apresentaram cedo na fila para tentar um emprego dos que seriam oferecidos pelo evento promovido pela prefeitura de uma cidadezinha do meio oeste. Mas alguém na cidade não estava disposto a permitir que estes empregos fossem distribuídos e, de repente, um mercedes acelera em direção à fila do City Center sob a neblina do início do dia e mata diversos desempregados, ferindo ainda mais.

William Kermit Hogdes, mais conhecido por Bill, era um detetive e esteve envolvido na investigação do caso que ficou conhecido como o massacre do City Center. Aposentado um pouco depois sem resolver este e alguns outros casos, o mesmo vivia uma vida monótona. Até que um dia, recebeu uma correspondência que reacendeu sua vontade de pegar aquele que ficou conhecido como O Assassino do Mercedes.

A história envolve ainda vizinhos de Bill e a família da dona do mercedes que foi usado no massacre.
Numa construção que eu gosto muito, King alterna entre as perspectivas de cena de Bill e de Brady Hartsfield nosso (não tão) querido assassino do mercedes. O garoto, perturbado (provavelmente pelas relações familiares) acompanha de perto a aposentadoria de nosso det. apos. pois trabalha em um carrinho de sorvete além de ser técnico de computadores.

Para aqueles que ainda não sabem, King já teve muitas experiências traumáticas ao longo da carreira, uma delas quando foi atropelado e quase morreu. Desta experiência surgiram alguns carros assassinos de suas obras como Christine, From a Buick 8 e, mais recentemente nosso Mercedes. 

Além deste, diversos outros easter-eggs rondam a obra, como o fato de Brady usar uma mascara de palhaço durante o massacre. Durante a investigação, um dos policiais afirma: "O rosto da máscara era bem parecido com o de Pennywise, o palhaço do filme.” Ahh, os elementos de capa também contam bastante coisa. Se vocês procurarem na internet pelo local de mensagens Under Debbies Blue Umbrella, irão encontrar uma página (creeepy). Eles não aceitam novos usuários mas se você entrar com a senha kermitfrog19, vai ver o ambiente do livro.

Ao longo desta caçada, Bill encontra amigos em pessoas inesperadas, coisas ruins acontecem de verdade e o seu ar vai desaparecer quando descobrir o que Brady Hartsfield planejou como gran finale da sua carreira de assassino. 

Se você ainda não se convenceu, leia o primeiro capítulo, porque diferente de muitos outros livros de King, este engata logo nas primeiras páginas.

Até a próxima pessoal.

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Planeta

Resenha: Garota em Pedaços

09 abril

Título: Garota em pedaços
Autora: Kathleen Glasgow
Editora: Planeta
Páginas: 320
Ano:2017

Eu tenho buscado cada vez mais livros que me tirem da minha zona de conforto literária e por vezes, tenho procurado na literatura jovem adulta temas polêmicos e que levam a reflexão. Movida por esse instinto comecei a ler "Garota em Pedaços" da autora Kathleen Glasgow e acabei tendo dificuldade para me conectar a história, primeiro, pelo fato mais óbvio, é uma leitura feita para incomodar e não é fácil lidar com livros assim e segundo, porque a história dos personagens escapavam totalmente do contexto que estou habituada a lidar.

A protagonista, Charllote ou simplesmente Charlie, é uma garota com dezessete anos que já passou por situações dolorosas. Sua vida nunca foi fácil e a falta de uma estrutura familiar adequada deixou-a fragilizada e levou-a tomar decisões muito ruins. Quando percebeu já estava com grandes traumas e se auto-mutilando. Tudo começa com Charlie em uma clínica de recuperação para jovens, local onde se sente segura após todas as dores que passou, apesar de evitar falar durante o período que passa na clínica ela ainda tem uma melhora no seu quadro, porém logo se ver obrigada a encarar a vida real novamente e ajudada por um amigo ela muda de estado e tenta recomeçar a sua vida.

Sem a ajuda adequada, ela logo se vê afundando novamente e confrontando velhos hábitos. Sua fragilidade e as marcas causadas pela auto-mutilação levam-a procurar um lugar seguro em um relacionamento com outra pessoa que também se encontra em uma situação similar. Um relacionamento destrutivo para as duas partes, porém os dois estão perdidos e encontrar o caminho de volta se torna cada dia mais difícil. Após a dor da perda da melhor amiga, morar na rua e de ser explorada sexualmente, a clínica e a mudança de cidade, uma parte de consciência desperta dentro de Chalie, mas a dor do passado e fato de estar sozinha nessa luta confrontam-a, deixando-a suscetível a escolher os caminhos mais obscuros. Através da arte ela encontra uma espécie de conforto, mas logo deixa de lado esse processo e se afunda cada vez mais nesse relacionamento tóxico.

O tema do livro é bem relevante, todos os questionamentos, dúvidas da protagonista são duros e difíceis de serem processados. A autora expõe de forma real as dores de Charlie e suas escolhas, por isso achei o livro difícil de ser digerido, mas isso não tira o peso da importância de um livro como esse. Não recomendaria para alguém que passa por situações similares, mas para pessoas próximas a ela, acredito que seria de grande valia essa leitura. Se reerguer não é um processo fácil, principalmente em uma sociedade com tantos problemas socioeconômicos quanto a do mundo atual, alguns fatores são de extrema relevância o processo de recuperação como ter pessoas com quem contar e ajuda especializada. Principalmente, ajuda especializada, ninguém melhor para aconselhar e guiar nesse processo árduo e longo, além claro, da intenção e vontade de parar da pessoa que passa por isso.

Finalizo, reiterando mais uma vez que essa é uma leitura que incomoda e desperta sentimentos adversos, não é para ser feita de uma única vez, é preciso parar e processar o que está acontecendo. Se conectar aos personagens é uma tarefa árdua e talvez não aconteça de fato, principalmente para quem nunca passou por nada similar. Creio que o maior valor está no alerta e na conscientização de pessoas em volta, as batalhas travadas por outras pessoas são difíceis de serem imaginadas e se colocar no lugar do próximo é algo difícil de ser feito e esse livro desperta a empatia e a vontade de ajudar pessoas como a Charlie tao subjugadas pelo mundo e muitas vezes deixadas de lado a margem da sociedade e assim elas acabam se afundando totalmente.


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Clare Vanderpool

Resenha: Minha vida fora dos trilhos

01 abril



Título: Minha vida fora dos trilhos
Autora: Clare Vanderpool
Editora: Darkside
Páginas: 320
Ano: 2017

Clare Vanderpool me encantou com "Em algum lugar nas estrelas", mas me arrematou de vez com "Minha vida fora dos trilhos" (primeiro romance da autora).  Esse último livro estava na minha estante desde o seu lançamento, demorei um pouco para iniciar a leitura, mas mais uma vez me vi imersa em um universo criado por Vanderpool. Como esse ano estou focada em ler os livros que já tenho ao invés de comprar novos, coloquei-o na minha lista de TBR(To be read - para ler) e dessa vez foi através do olhar sensível de Abilene Tucker que me encantei com a história dos moradores de Manifest (uma cidade fictícia do Kansas), a garota de doze anos que se vê vivendo duas vidas diferentes, ao mesmo tempo que busca entender as razões do pai de tê-la enviada para essa pacata cidade.

Abilene Tucker sempre acompanhou ao pai que trabalha nos trilhos dos trem, mas quando completa doze anos ele decide que é a hora da filha criar raízes e opta por mandá-la a Manifest, uma cidade do Kansas onde viveu uma breve fase de sua vida. Abilene chega na cidade sozinha e crente que em breve seu pai irá buscá-la, Shady, o pastor e amigo do pai dela, é quem a recebe. Aos poucos a garota que nunca teve um lar fixo, tem a curiosidade atiçada para saber mais sobre o passado do pai e é assim que ela embarca em uma jornada onde irá conhecer a fundo a história de Manifest e seus moradores.

A garota passa por conflitos internos e tenta acreditar que o pai não a abandonou, por isso busca em Manifest qualquer vestígio sobre o passado do seu pai. É como se fosse uma chama que a mantém confiante que apenas o amor do pai lhe basta, ela não precisa de lar e sim do pai. É em busca do passado que ela se vê junto com as novas amigas procurando um espião na cidade, conhecido como Cascavel. Abilene é amável, esperta e não tem medo de se meter em confusões e é para pagar uma dívida com Srta. Sadie, uma vidente, que ela conhece Manifest dos anos de 1917-1918.


O maior sentimento que a leitura desperta é empatia, não só por Abilene, mas por todos os personagens da história. Todo mundo tem um passado e em alguns casos esse passado pode ser doloroso e difícil de ser visitado, todos fazem concessões pensando ser o melhor, mas nem sempre essas escolhas são fáceis. Uma leitura que vale a pena ser realizada, assim como "Em algum lugar nas Estrelas" (para ler a resenha clique aqui).


Já leu? Tem interesse? Me conta nos comentários vou amar saber a sua opinião.
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