Companhia de bolso

Resenha: A Insustentável Leveza do Ser

30 junho

Eu nunca tinha lido nada de um autor tcheco e quando me deparei com o livro A Insustentável Leveza do Ser decidi que precisava conhecer as obras de Milan Kundera. A minha experiência de leitura foi extremamente agradável, fluída e praticamente devorei o livro. Até o momento nunca tinha lido nada que descrevesse tão bem a alma humana, mostrando até as imperfeições. Apesar da existência de um romance não acredito que esse seja o principal tema do enredo e sim as pertinências da existência humana.
O livro conta com quatro protagonistas: Tomas, Tereza, Sabina e Franz. Cada um com sua singularidade e com um passado marcante, moldando assim personalidades distintas através do tempo. Tomas após o divorcio jurou que jamais se casaria novamente e dessa forma criou regras nas quais apesar de ter amantes regulares jamais se apega a nenhuma. Tomas representa a leveza até o momento em que conhece Tereza que representa o peso, ele se apaixona por ela e assim começa a carregar o peso. 
“Todos acreditamos que é impensável que o amor de nossa vida possa ser uma coisa leve, uma coisa que não pese nada; achamos que o nosso amor é o que devia ser; que sem ele a nossa vida não seria a nossa vida.”
Sabina é uma das amantes de Tomas e de certa forma a versão feminina dele, um ser leve e cheia de convicções. A princípio é apresentada somente como a amante de Tomas, a que mais o compreende e mais a frente no livro nos deparamos com seus pensamentos e ideologias. Franz só é apresentado na terceira parte do livro, e de certa forma representa o peso assim como Tereza. Porém não entrarei em pormenores sobre o Franz pois o contexto em que ele surge no livro de certa forma ocasionaria alguns spoilers. É através dos relacionamentos firmados que o autor mostra o peso que o corpo e a alma carrega após as escolhas. Diga-se de passagem não se pode afirmar qual é a melhor escolha (melhor caminho) a ser tomado já que a vida não permite ensaios.
“Não existem meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe um termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida é a própria vida? É isso que leva a vida sempre parecer um esboço. (...)”
Nos deparamos então com personagens com perfis psicológicos densos, com teor filosófico e questionador, embarcamos ainda no contexto político vivido na Tchecoslováquia (atualmente  República Checa e a Eslováquia) na década de 1960. A maior parte da trama é ambientada em Praga atual capital da República Checa , na época estava tomada pela União Soviética. Logo, é impossível ambientar um romance naquela época sem mencionar política e Kundera faz isso em sua obra de uma forma clara, através de analogias com pensamentos de filósofos e até mesmo com histórias mitológicas.
Não quero fazer descrições extensivas sobre a personalidade dos personagens pois acredito ser impossível descrever todas as camadas que os compõem. Posso afirmar que esse é um daqueles livros que cada vez que se ler é possível ter uma visão diferente, além de ter uma compreensão mais ampla e aprender mais sobre seus personagens. Esse é um dos livros que pretendo reler em um futuro próximo.
O livro conta com a narrativa em terceira pessoa. Em alguns momentos parece que o narrador está conversando com o leitor, contando uma história. O narrador chega até explica como um personagem nasceu para o autor. Além disso, o mesmo fato é narrado mostrando as diferentes perspectivas, tais como a forma como Tomas e Tereza se conheceram pela visão dois, enriquecendo ainda mais a leitura.
A minha edição é da Companhia de Bolso e a diagramação é bem simples, a fonte é confortável, o espaçamento entre as linhas é bom e as folhas são amareladas.
Estava com um certo receio ao iniciar a leitura achando que a mesma fosse complexa e de difícil entendimento e me surpreendi nesse aspecto. Apesar de exigir um pouco mais de concentração devido ao teor filosófico e político, foi uma leitura extremamente agradável. Eu praticamente devorei o livro. Enfim, recomendo esse livro a todos que estão a procura de um clássico estrangeiro, gostam de personagens que possuem uma composição densa e gostam de refletir sobre a existência humana.

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