Resenha: Interferências

09 julho


Interferências foi um livro que me despertou o interesse desde o momento em que vi a sua capa entre os lançamentos, ele combina dois elementos que gosto muito em livros, comédia romântica e ficção científica. Porém, acabei me deparando com algumas críticas negativas que me fizeram adiar um pouco a leitura. A curiosidade acabou falando mais alto e decidi intercalar a leitura de Interferências com outro livro que já estava lendo. Como resultado, ele acabou furando a fila totalmente e o outro livro acabou ficando um pouco para escanteio nos últimos dias. Mal percebi o tempo passando ao longo de suas mais de quatrocentos páginas e se não fosse o fato que estou com pouco tempo para me dedicar a leitura, provavelmente teria lido ele bem mais rápido. Vamos ao que interessa.

Briddey Flannigan trabalha para uma grande corporação de telecomunicação. Seu namorado, Trent, que também trabalha para essa mesma empresa acabou de fazer uma grande proposta a ela, uma cirurgia que aumenta a empatia entre casais e permite que os mesmos sintam as emoções um do outro. No universo em que a história é ambientada um pedido como esse tem mais valor que um pedido de casamento propriamente dito, pois estabelecer essa conexão implica em saber exatamente como o casal se sente a todo momento.

A família de Briddey é invasiva e se opõe a cirurgia, estão decididos a fazê-la mudar de ideia. O cientista do trabalho dela também tenta dissuadi-la a não realizar o procedimento. Tudo em vão, Trent e Briddey realizam o procedimento em segredo. O resultado não é o esperado, Briddey acaba se conectando a outra pessoa.

Encarei o livro como uma grande crítica social. Nos dias de hoje vivemos um 'boom' da tecnologia, as redes sociais estão em seu ápice e as pessoas estão cada vez mais conectadas a elas. Através das telas, as pessoas expressam o que sentem, o que pensam e situações cotidianas. A aproximação se tornou virtual e os olhos nos olhos aos poucos tem se perdido, a descoberta sobre o outro se dá através de suas postagens e não mais através de diálogos.  O tempo dedicado a essas atividades é cada vez maior e a convivência fora do ambiente virtual tem se tornado cada vez menor. Em um mundo como esse não é impossível imaginar que as pessoas se sujeitariam a procedimentos cirúrgicos apenas para saber o que o outro sente, primeiro por ser bem menos trabalhoso e dispendioso do que dedicar um tempo para tentar conhecer outra pessoa e depois para identificar o que de fato é real. O que, ao meu ver, é preocupante e me faz pensar no rumo para o qual nossa sociedade caminha. Há realmente a necessidade de estar cem por cento conectados?

Devo dizer que em alguns momentos a escrita pode se tornar um tanto maçante por ser altamente descritiva, o que de fato não me incomoda, mas pode ser um empecilho para outros leitores. O desfecho, por sua vez, ocorre de forma rápida, com alguns pequenos detalhes que me incomodaram um pouco, mas no saldo final não me fizeram desgostar da história. As explicações científicas são breves e fáceis de serem compreendidas, tornando o livro bem acessível até mesmo àqueles que não gostam de ficção científica. O livro tem seus clichês como qualquer romance "água com açúcar", traz aquela previsibilidade que tanto estamos habituados no gênero, porém a crítica social leva diversos questionamentos que conferem originalidade à leitura.

Conforme já mencionei, a leitura é bem descritiva, portanto não indico para quem prefere histórias curtas e objetivas. Para quem não gosta de ficções científicas, mas gosta de livros românticos não vejo nenhum empecilho que impeça de gostar da leitura.

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