Resenha: O Sol na Cabeça

27 junho


Título: O sol na Cabeça
Autor: Geovani Martins
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 120
Ano: 2018

Olá a todos, Renner por aqui de novo.

Para hoje, temos resenha sobre o livro O Sol na Cabeça do brasileiro Geovane Martins recebido em parceria com a Companhia das Letras. Dentre os livros que chegaram, eu olhei os títulos e capas apenas e escolhi esse. Por quê?  Não faço ideia. Ao iniciar a leitura, me deparei com um livro feito de treze contos curtos que abordam a realidade dos jovens moradores das favelas do Rio, uma cidade dividida entre cartão postal do Brasil e violência, beleza e pobreza e uma outra infinidade de contrastes. O livro, já vendido em 7 países e considerado um fenômeno da literatura nacional trás consigo uma mudança na forma de escrever, fugindo a diversos padrões de escrita e chocando pelo realismo da violência, do preconceito, do racismo e da pobreza vista pelos olhos atentos de um autor de origem humilde, mas com muito talento para mostrar.
A experiência de me aventurar sem um mínimo de ideia sobre o que a obra trata foi recompensador. Logo no primeiro conto, "Rolézim", me deparo com trejeitos característicos não só do carioca, mas do jovem brasileiro da periferia. Há, aqui, para muitos leitores, uma dificuldade em entender 100% da narrativa, dada a grande diferença do português formal, criando uma atmosfera de conflito de idades e realidades, tal qual o nadsat utilizado por Anthony Burgess em Laranja Mecânica com a intenção de causar estranhamento. A fala carregada de gírias específicas e escrita como é falada se torna um código de identificação do grupo. Além disso, trás à tona a realidade de um protagonista pobre querendo curtir o dia insuportavelmente quente do Rio na praia e quase encontrando a morte, algo que parece absurdo mas que acontece muitas vezes por dia em várias praias, esquinas, becos e ruas da cidade e do país. Mostra também o quão marginalizado e excluído se torna um grupo por mero preconceito. A escrita do conto em primeira pessoa trás ainda uma visão do que passa na cabeça do protagonista todo o tempo, observando tudo ao seu redor e tecendo comentários sobre.

No segundo conto, "Espiral", é possível acompanhar quase na pele como o preconceito (e provavelmente racismo) pode levar, pouco a pouco, uma pessoa a criminalidade. O narrador, desde pequeno era considerado um intimidador sem fazer esforço, sem entender o porque. Ele cresceu, sempre observando como o comportamento das pessoas da zona sul se alteravam perto dele, como era grande o abismo entre a favela e a classe média-alta vizinha. É chocante e ao mesmo tempo tem um clima de suspense. Me lembrei muito dos diversos episódios que presenciei (para minha tristeza) junto de um amigo da faculdade que sofria todo tipo de abordagem só por ser negro. É inimaginável a dor que deve permear essas situações.

 "Roleta-Russa", o terceiro conto trás a vida de Paulo, que vive com o pai somente, cujo trabalho é de vigia, tendo em casa uma arma como parte do trabalho. Almir, pai de Paulo conversou sério com a criança de 10 anos sobre a arma e sobre a responsabilidade e a confiança. A casa é basicamente um quarto com banheiro e a arma fica na cômoda da TV e claro que criança é curiosa e não tem senso de responsabilidade e perigo e que Paulo iria mexer na arma. Fiquei um pouco triste pelo fim do conto, que não é muito um fim, termina antes de acabar. O conto levanta a questão das dificuldades e necessidades que muitas vezes colocam tanto em risco dentro das casas, afinal Almir precisa do emprego e não tem onde deixar a arma, senão em casa. O medo do pior permeia a leitura do início ao fim, deixando o leitor tenso até as últimas linhas.

A história do Periquito e do Macaco é o quinto conto e retrata o abuso de poder e a violência policial das unidades de policia pacificadora (UPP) implantadas nos morros do Rio. Apesar de curto, o texto deixa a questão: A parte "pacificadora" nunca foi muito uma realidade dentro do morro e se foi, trouxe paz para quem? Não para os moradores, pelo jeito.

Alguns, como "Primeiro Dia", chegam a ser cômicos pela inocência da juventude, mudando de escola e se adaptando. A maioria não segue o padrão literário de começo meio e fim, tendo um começo que não é começo e terminando abruptamente, como seriam os trechos de relatos da vida cotidiana das pessoas.

Os nomes dos contos contidos nessa obra são, nessa ordem:
Rolézim
Espiral
Roleta-Russa
O caso da borboleta
A história do Periquito e do Macaco
Primeiro dia
O rabisco
A viagem
Estação Padre Miguel
O cego
O mistério da vila
Sextou
Travessia

Junto ao livro, veio um impresso de 4 páginas de uma entrevista com o autor, contando as origens do autor como escritor e da vida do mesmo, que contextualiza ainda melhor a obra. Guardarei esta leitura comigo com um grande carinho pelas reflexões proporcionadas. Vale muito a pena conferir essa obra nacional que retrata de forma verossímil uma realidade do Brasil que acaba sendo muito ocultada pela grande mídia.

Então é isso, comentem aí embaixo o que vocês acharam da obra e da resenha. Até a próxima.


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3 comentários

  1. Olá Renner, tudo bem? Não conhecia a obra mas duas coisas me chamaram atenção, autor nacional e que é um livro de contos achei a temática incrível e estou louca para ler!

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  2. Essa deve ser uma leitura sensacional, amei os temas tratados em cada um dos contos. Tenho o livro em casa, vou ler.
    Beijos
    Mari

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  3. Oi Renner, tive o prazer de participar de um bate papo com o autor e nisso pude conhecer melhor este trabalho dele. Eu tenho o livro e já está separado para ser lido este mês.
    Bjs, Rose

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