Resenha: Sonho Febril

10 setembro


Título: Sonho Febril
Autor: George R. R. Martin
Editora:Leya
Ano: 2015
Páginas:352
Classificação: ✭   +  

Fala pessoal, Renner por aqui para trazer a vocês uma resenha que eu aposto que a maioria não conhece. Estou falando de Sonho Febril, romance de George R.R. Martin (autor de Game of Thrones) publicado em 1982 (inglês) e 2015 (Brasil). Assim que foi lançado, fiquei de olho em busca de promoções e nunca encontrava ele num preço legal, até que, no mês passado quando fui na Bienal do Livro na correria, achei ele por 10 reais em um estande. Comprei sem pensar duas vezes e iniciei essa leitura que tanto queria assim que terminei o livro que estava lendo.

Bom, eu já sabia pela experiência de "As Crônicas de Gelo e Fogo 1 a 5", "O Cavaleiro dos Sete Reinos", "O Dragão de Gelo" e "A Morte da Luz" que não poderia esperar pouco de uma obra desse autor hoje tão renomado. Mas a experiência que eu tive ao ler esse livro foi mais gostosa do que eu esperava, admito. Há nele uma nostalgia tão grande pelos modos antigos de vida(acredito que é intencional por parte do autor) que tornam a leitura muito prazerosa.

A obra, que se passa no período de 1850-1870, época transitória em que os estados do sul dos EUA ainda eram escravagistas e os do norte já haviam abolido a escravidão. Isso tem importância gigantesca na medida em que G.R.R.Martin faz uma critica velada às relações exploratórias humanas. Nesse período, muito do comércio nos Estados Unidos se dava por via aquática, uma vez que as ferrovias ainda eram um sonho em construção, e é nesse contexto que somos inseridos. Abner Marsh é um velho capitão de vapores que comanda a companhia Vapores do Rio Fevre, a qual já possuiu um grande número de vapores navegando mas que recentemente sofreu com uma geleira que destruiu quase toda a frota da companhia, restando apenas o velho e decrépito Ely Reynolds. Até que, numa fatídica noite Marsh recebe um convite de um sujeito muito estranho para uma proposta de sociedade quase inacreditável. Afinal, quem iria querer comprar 50% de uma companhia de vapores que só tem e pequeno e velho vapor? É aí que conhecemos Joshua York, personagem que ilustra a capa (no Brasil) muito belamente, diga-se de passagem (não sei se já disse por aqui, mas sou um grande fã das capas de fantasia da Leya, são artes que se destacam em qualquer livraria).

Devido a natureza descritiva do autor (vide Crônicas de Gelo e Fogo), somos inseridos nesse mundo da navegação fluvial de vapores que foi tão presente nos EUA nessa época, aprendendo muito sobre os costumes, termos, sobre a geografia e técnicas, é extremamente imersiva a experiência. O rio que serve de cenário é o Mississipi, rio que corta todo os EUA de norte a sul, iniciando no estado de Minnesota e descendo até New Orleans. A história toma lugar no baixo Mississipi, entre St. Louis e New Orleans e, frequentemente você vai ouvir sobre cidades como Memphis, Vicksburg, Bayou Sara, Baton Rouge, Natchez, Greenvile, entre outros. 

Voltando ao roteiro, a proposta de Joshua York a Abner era de que ele compraria metade da Vapores do Rio Fevre pois queria navegar e aprender sobre o rio, tinha negócios a tratar ali, mas que não tinha o conhecimento necessário. No acordo, ele exige que Abner aceite os hábitos esdrúxulos de Joshua e seus amigos, que não faça perguntas e tudo ficaria bem. Marsh, à beira da falência depois do acidente que fez ele perder quase toda a frota, sente-se tentado pela quantidade de dinheiro. Entretanto, desconfiado de que ninguém seria bom assim sem um motivo, faz também suas exigências, visto que Joshua disse que não seria o Ely Reinolds o vapor que eles iriam navegar. Abner quer construir um navio para superar o famoso Eclipse, um gigantesco vapor que detinha o título de mais rápido do rio. Constroem então o Fevre Dream (em tradução é daí que vem o nome do livro, apesar que febre é traduzido como fever, fevre é um acrônimo que remete a outra palavra), o sonho de Abner e Joshua. E é então que começa a verdadeira obra. Há várias fases nesse livro: primeiro a introdução que vos apresentei, então a parte em que aprendemos sobre navegação na primeira viagem do Fevre Dream, a desconfiança de Abner, a descoberta, o drama de quando as coisas começam a dar errado, a perseguição, a fuga, o hiato e o arco final. Em cada etapa, uma emoção diferente toma conta do leitor, a medida em que vamos conhecendo a verdadeira natureza de Joshua e seus amigos, o momento em que Joshua e Damon Julian se encontram, a perseguição eletrizante entre Ely Reynolds e Fevre Dream, a revoltante parte do hiato em que Abner não mais sabe sobre Joshua e se aposenta e por fim a conclusão dramática da obra. É certamente um livro para se devorar, tamanha a qualidade.

Além da nostalgia e do aprendizado (sempre gosto de aprender coisas novas de história, hábitos antigos, técnicas, etc), há sempre um nó na garganta quando os momentos de clímax acontecem. É eletrizante, faz os dedos apertarem mais o livro, faz você querer pular logo para a próxima página, para o próximo capítulo e saber o que acontece. Se você ler a sinopse, vai descobrir que esta obra é uma releitura (muito boa por sinal) sobre as famosas lendas de vampiros. O autor inclusive brinca com a tradição, mencionando Vlad Tepes num trecho. Enfim, eu poderia falar muuuuitas outras coisas sobre essa maravilha que é Sonho Febril mas não quero me estender nem dar alguns spoilers desnecessários, mas é definitivamente uma obra que eu recomendo, está entre minhas leituras favoritas, uma experiência ímpar que, suspeito, não verei tão cedo novamente.

Deixem aí nos comentários, dúvidas, sugestões, o que acharam da obra (quem leu) e vamos discutir um pouquinho... Até a próxima.

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