Resenha: A Invenção das Asas

27 agosto

A Invenção das Asas é um dos meus livros favoritos e não podia deixar de falar sobre ele. Com uma escrita encantadora Sue Monk Kidd dá vida a personagens marcantes, misturando ficção com fatos reais e envolvendo o seu leitor da primeira a última página. A história do livro começa em 1803 e conta sobre duas meninas de mundos totalmente distintos, porém em comum são limitadas pela época em que vivem.
Sarah Grimké é uma menina branca de onze anos, filha de aristocratas no Sul dos Estados Unidos, cheia de ideias e ideais diferentes dos disseminados na época, porém engessada pela cultura em que vive. Ela sonha em ser uma grande advogada assim como o seu pai e irmãos, por isso sempre visita a biblioteca furtivamente em uma época que mulheres eram proibidas de estudar. No seu aniversário é presenteada com uma escrava, Hetty “Encrenca”, que deve ser sua dama de companhia. Sarah não aceita a ideia de ser dona de uma pessoa e escreve uma carta abolicionista para Encrenca, porém seu plano não funciona como o desejado.
Encrenca é filha de uma costureira talentosa, cheia de artimanhas e que vive sendo castigada pela mãe de Sarah. As duas sonham em ser livres e viver as histórias que eram contadas pela mãe. Como forma de ajudar Encrenca a ser livre, Sarah a ensina ler pois, pois é proibido escravos saberem ler. As duas se tornam amigas e dividindo alguns segredos.
Acompanhamos então a história das duas ao longo dos trinta e cinco anos seguintes. A medida que o tempo vai passando elas tentam encontrar uma maneira de realizar os sonhos que possuem e enfrentar as regras impostas pela sociedade.
O livro é narrado tanto na visão de Sarah quanto de Encrenca, possibilitando compreender melhor o que as duas sentem em relação as limitações impostas e principalmente os laços emocionais que as envolvem. A narrativa das duas se diferem, a autora consegue deixar impresso nos detalhes as diferenças entre as duas. O sentimento entre Encrenca e sua mãe é muito bonito, a história das duas é muito rica. Por outro lado, o relacionamento de Sarah com os pais é difícil, não existe diálogo, ela não sabe como lidar com eles e nem como irá conseguir realizar seus sonhos. Ela vê em Angelina, sua irmã mais nova, uma forma de se libertar ajudando-a em sua educação e disseminando seus ideais a ela e o laço que as une se torna forte e bonito.
Esse não é um livro clichê, ao longo da leitura me surpreendi diversas vezes com o rumo que a história tomava. Foi possível me envolver com a personalidade dos personagens que são riquíssimos. A forma como é retratada o desejo de liberdade e como as protagonistas crescem, mudam de ideias e encontram novas formas de lutar pelo que desejam é muito bem elaborado pela autora, deixando a narrativa humana e bem real.
A leitura é fluida, simples, rápida e envolvente. A imersão cultural passada através da a riqueza dos detalhes da pesquisa realizada pela Sue Monk Kidd deixam o livro ainda mais completo e emocionante. O abolicionismo e o feminismo são apresentados de uma forma clara e é possível tirar grandes lições até mesmo para os dias atuais.

A edição da editora Paralela traz uma capa linda, com relevos e um toque emborrachado, ouso dizer que a capa brasileira é mais bonita que a original. O livro é impresso em papel Polén Soft (folhas amarelas), a tipologia e a diagramação são agradáveis e não deixa a leitura cansativa.
Ao final do livro nas Notas da Autora ela conta como a história do livro foi escrita, o que é ficção e o que é real, as motivações que teve para escrever e como realizou a pesquisa. O trecho a seguir descreve bem o que Sue Monk Kidd quis (conseguiu) passar nesse livro:
“Ao escrever A Invenção das Asas, fui inspirada pelas palavras do professor Julius Lester, que mantive sobre a minha mesa: ‘A história não são apenas fatos e eventos. A história também é a dor em nosso coração, e nós repetimos a história até que sejamos capazes de fazer nossa a dor no coração de outro.’”.
Indico para todos que gostam de ficção e não-ficção, para quem gosta de livros sobre história e luta de minorias. Vale a pena realizar a leitura.

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9 comentários

  1. Oi Anna!

    Sabe que eu adorei esse livro quando eu li? Eu não consigo imaginar o que seria viver nessa época, onde tudo era tão limitado, onde existia escravidão. Eu gostava muito das partes da Sarah e amava o fato de ela lutar, mesmo sem conseguir, mesmo que pouco, pelos seus ideais. Mas a Encrenca é a Encrenca, né? Sofrida, mas a melhor personagem do mundo. O modo como o feminismo é retratado também é maravilhoso.

    Beijo!
    http://www.roendolivros.com.br/

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  2. Olá! Essa capa é lindíssima e o tema me interessa bastante! Ele está em minha lista de leituras e foi ótimo saber com mais detalhes! Adoro personagens bem construídos, que fazem com que o leitor se envolva na leitura. Fico feliz de a leitura ser fluida e simples. Vou adiantar na fila de leituras.
    Beijos!

    Karla Samira
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  3. Oi Carol!
    Nossa, esse livro parece ser maravilhoso mesmo. Duas personagens tão fortes e tão novas já passando por tantas coisas, acho que nós leitores só temos a aprender fazendo a leitura desse livro.
    Beijos

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  4. Oi Carol, sua linda, tudo bem?
    Nossa, você me emocionou com sua resenha e eu fiquei toda arrepiada com esse trecho que colocou no final. Sabemos que era assim na época, infelizmente. Mas a autora vir e apontar o que é fato, torna tudo pessoal. São pessoas que existiram, são eventos que aconteceram. Já vi que irei chorar. Não vejo a hora de ler. Adorei sua resenha!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  5. Olá,
    Acho legal que a trama traga a tona a luta de minorias e, por isso, me chamou bastante a atenção. Outro ponto é que apresenta personagens marcantes e trás uma mistura de ficção com fatos reais. Acredito que irá me cativar bastante.

    http://leitoradescontrolada.blogspot.com.br/

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  6. Oie, livros que contam histórias com personagens tão diferentes entre si são sempre maravilhosas.
    Uma menina ajudando a outra ♥ Deve ser um livro lindo.

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  7. Olá!
    Adorei a trama e a maneira como ela é tratada, parece ser uma história maravilhosa e fiquei muito interessada na construção da amizade da duas meninas. Posso entender porque é um dos seus livros favoritos.
    Beijos.
    http://arsenaldeideiasblog.wordpress.com/

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  8. Olá Carol, me apaixonei pela sua resenha e por esse livro, a história me lembrou um pouco O sol é para todos por conta da personagem. Quero muito ler. Bjkas

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  9. Carol desde que esse livro foi lançado tenho vontade e curiosidade para ler, mas ainda não o adquirir. Ler sua resenha só renovou meu desejo e com certeza de 2017 não passa. A mensagem do livro é forte, atual (pq mesmo com toda evolução social as mulheres ainda sofrem com a falta de liberdade e igualdade) e inspiradora.
    Enfim adorei conferir suas impressões e encha certeza que despertou ainda mais minha vontade na leitura.

    Leituras, vida e paixões!!!

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